Vivemos em um país no qual os que
pagam impostos trabalham 5 meses por ano para pagá-los e os outros 7 meses para
reunir condições para continuar pagando-os nos anos subsequentes. De certa
forma, vivemos também para pagar impostos. O que não é pouco, já que quase
metade do tempo de nossa vida cidadã é dedicada a cumprir o ritual dessa
dedicação. Em outras palavras, o Estado zela por nós, nós, zelados, trabalhamos
para o Estado, o que aumenta o seu zelo para garantir nossas obrigações
tributárias.
Não é, pois, de estranhar que, no
bestiário da vida pública, o zelo tributário do Estado, quanto à renda de
pessoas físicas e jurídicas, se represente no, pelo e com o leão, rei dos
animais, de cujas garras nenhuma presa transgressora escapará.
De fato, o simbolismo da fera arguta
é para atemorizar. E atemoriza!
Outra fera que povoa nossos pesadelos
no mundo contemporâneo e que, além do temor, causa-lhe pânico e horror é o
dragão cujos empreendimentos se associam à predação não de infratores do fisco
mas de cidadãos que lutam continuadamente para que não sobre mês no fim de seus
salários. Sabem, como ninguém, que para isso, entre outros fatores, é
fundamental que não haja corrosão inflacionária, que a moeda seja estável e que
a garantia do trabalho e do emprego esteja efetivamente ancorada pelo bom
funcionamento da economia real do país.
Nesse caso, o saber não precisa ser
teórico da mesma forma que o horror ao dragão não é, de nenhum modo, abstrato.
Entre trabalhar para pagar impostos,
cumprindo, assim, nossas obrigações cidadãs e trabalhar para garantir a
contrapartida, também civil e política, de nossos direitos à vida com qualidade
e à qualidade de vida com que é direito sonhar, entre a severidade leonina do
Estado e os desmandos draconianos das economias disparadas nos galopes da
inflação, carregamos, além do mais, mesmo que não o saibamos em tese, o fardo
da responsabilidade de sermos infinitamente locais em nossos próprios
territórios e neles funcionar como estacas plantadas do sistema que suporta e
sustenta a globalidade concreta e abstrata de cada existência particular.
Com um olho no bicho-fera e outro na
fera-bicho, ficamos com o espaço de liberdade limitado ao “se correr o bicho pega,
se ficar o bicho come”. O jeito é correr sem sair do lugar, como já há alguns
anos nos permitem fazer as TICs, as novas tecnologias de informação e de
comunicação, que nos põem em simultaneidade sincrônica com os acontecimentos
onde quer que ocorram e que, em contrapartida, faz também de cada um de nós uma
ocorrência na teia de acontecimentos simultâneos postos em sintonia pelas
máquinas eletrônicas de comunicação.
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