Planta aparentemente do gênero
shorea tem mais de 94 metros, o equivalente a um prédio de 31 andares, e copa
com 40 metros de diâmetro. Mais de 30% da área em que se deu o achado foi
destruída ao longo de 40 anos, e apenas 18% de suas florestas estão intactas. Noventa e quatro metros e 10 centímetros. Esse é o tamanho da árvore
tropical mais alta do mundo, encontrada do Vale de Danum, reserva florestal do
estado de Sabah, na Malásia. A descoberta foi anunciada este mês pelo
ecologista Gregory Asner, pesquisador do Instituto Carnegie de Ciência, da
Universidade Stanford, durante a Conferência Internacional Coração de Bornéu
2016. A planta, cujo tamanho equivale a um prédio de cerca de 31 andares, tem
ainda uma copa com 40,3 metros de diâmetro e foi identificada juntamente com outros
49 exemplares, todos com mais de 90 metros de altura.
Essas 50 árvores quebraram o recorde estabelecido no início do ano. Na
época, uma equipe coordenada pelo pesquisador David Coomes, da Universidade de
Cambridge, revelou a existência de uma árvore de 89,5 metros em Maliau Basin, outra
reserva florestal de Sabah. A identificação havia sido feita pelo brasileiro
Matheus Nunes, aluno de doutorado em Cambridge, que viajou à Malásia na
companhia de um estudante de graduação para coletar dados de sua pesquisa. A
novidade, no entanto, é que, segundo dados da pesquisa de Stanford, a árvore
encontrada por Nunes tem, na verdade, pouco mais de 90 metros.
A descoberta ocorreu por meio de um sensoriamento em larga escala na
ilha de Bornéu, formada pela Malásia, Brunei e Indonésia. Para tanto, foi
utilizado o Observatório Aéreo Carnegie, um avião equipado com um sistema
chamado LiDAR (Light Detection and Raging), que mede e mapeia áreas em 3D. Da
base do avião em movimento são realizados 500 mil lances de laser por segundo,
o que proporciona uma visão tridimensional detalhada desde a copa das árvores
até o solo da floresta.
Como as árvores foram observadas apenas remotamente, os pesquisadores
ainda não confirmaram sua espécie. Mas acredita-se que pertençam ao gênero shorea,
conhecido como dipterocarpo, e que inclui quase 200 árvores tropicais nativas
do sudeste asiático. Somente a ilha de Bornéu, por exemplo, abriga 130 dessas
espécies, que podem viver centenas de anos, embora muitas delas estejam
ameaçadas pela extração e desmatamento.
Apesar de ser a maior árvore tropical do mundo, a descoberta não
quebrou o recorde absoluto, que pertence à sequoia-vermelha. Essa espécie,
típica da zona temperada, pode ser encontrada principalmente na costa oeste dos
Estados Unidos e chega a ter entre 1.200 e 1.800 anos. O exemplar mais alto de
todos, chamado hyperion, está localizado na Califórnia e alcança 115,5 metros.
A quebra de recordes, no entanto, não é o principal objetivo da
pesquisa. O projeto foi estabelecido com a finalidade de mapear o hábitat de
animais, reservas de carbono e biodiversidade de Bornéu, a fim de proteger suas
populações de ameaças. Isso porque as florestas da ilha estão sendo degradadas a
uma taxa duas vezes maior que as demais florestas tropicais do mundo. Segundo
dados de um estudo liderado pelos ecologistas David Gaveau e Erik Meijaard e
publicado em 2014 na PLoS One, mais
de 30% dessa área foi destruída ao longo de 40 anos, e apenas 18% das florestas
de Sabah estão intactas.
Ainda de acordo com a pesquisa, até a década de 1960 essas florestas
eram consideradas as mais selvagens e antigas do mundo, abrigando diversas populações
nômades, além de animais como orangotangos, elefantes e rinocerontes. Com a
abertura de estradas para a extração de madeira e, a partir dos anos 1990, a
instalação de plantações industriais, até mesmo zonas mais inacessíveis da ilha
apresentam sinais de degradação. Dados da WWF, por sua vez, apontam que somente
na Malásia, maior produtora de óleo de palma do mundo, as plantações passaram
de 60 mil hectares em 1960 para 3 milhões em 2001. Como consequência, as tradições
tribais desapareceram e a maior parte das espécies animais estão em processo de
extinção.
Em entrevista ao Mongabay,
portal de notícias sobre ciência e conservação ambiental, Glen Reynolds,
diretor do South East Asia Rainforest Research Partnership (SEARRP), um dos
principais programas de pesquisa em florestas tropicais do mundo, alega que a
descoberta traz à tona a importância de manter as últimas áreas remanescentes
de florestas de planície. “Um mapeamento detalhado como este será útil para
estabelecer prioridades de conservação. Árvores desse tamanho e idade
simplesmente não existem fora de florestas primárias, então é crucial que as áreas
que abrigam esses raros gigantes sejam protegidas”, afirma.
|