O
desenvolvimento em ciência e tecnologia (C&T) está entre os principais
objetivos das maiores economias do mundo e os indicadores são meios para
monitorar esses avanços. Os países podem medir, por exemplo, o investimento em
pesquisa e desenvolvimento, o número de patentes, os recursos humanos que atuam
no setor, entre outros aspectos, e assim direcionar investimentos e políticas
públicas. Também por meio de indicadores, analisa-se como o público percebe os
temas de C&T. Outra medição que poderá contribuir para o setor é a de cultura
científica, indicador que vem sendo discutido entre pesquisadores da área.
Caminhos
para elaborar o novo indicador estão em análise no livro lançado em abril, O discurso dos indicadores de C&T e de
percepção de C&T, coeditado pela Organização dos Estados Ibero-Americanos
(OEI) e pela editora Catarata. Os autores são Carlos Vogt, coordenador do Labjor/Unicamp, onde
é professor emérito, além de ser presidente da Universidade Virtual do Estado
de São Paulo (Univesp); e Ana
Paula Morales, pesquisadora associada do Labjor/Unicamp, doutoranda do
Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT/Unicamp) e assessora de
comunicação da Univesp.
Capa do livro O discurso dos indicadores de C&T e de percepção de C&T
Segundo
Vogt e Morales, a cultura científica é o ponto em que a sociedade e a ciência se
encontram. As ações de divulgação permitem essa intersecção enquanto os estudos
da percepção do público observam como se dá essa relação. Por meio de enquetes
de opinião pública, essas pesquisas mensuram o grau de interesse, de
informação, as atitudes e a apropriação das questões científicas e tecnológicas
pela população.
Nessa
perspectiva, o livro parte da definição de cultura pela antropologia, depois passa
à discussão sobre o que é a ciência. Em seguida, aborda como se estabelecem as
dinâmicas em que a ciência e a cultura se inter-relacionam na sociedade. De
acordo com os autores, essas ações se dão pela linguagem, no modelo lógico da “espiral
da cultura científica”, de Carlos Vogt. Nela, a linguagem científica – mais
codificada e objetiva – passa por diferentes atividades de comunicação e de
ensino e se transforma, ou seja, torna-se linguagem subjetiva e metafórica ampliando
o alcance da ciência na sociedade.
“A
questão não é apenas se a ciência pertence à cultura, claro que sim, como
qualquer forma de conhecimento pertence à cultura. Após a Segunda Guerra
Mundial quando a ciência passa a ser vivenciada no cotidiano das pessoas e a estruturar
relações básicas como o trabalho, vai num crescendo tal até atingir o estado
que hoje conhecemos como sociedade do conhecimento, economia global e assim por
diante. O assunto da percepção tem muito a ver com essa mudança”, explica Vogt.
Assim,
as percepções da população sobre a ciência sinalizam a amplitude da cultura
científica nas sociedades. “O interesse, os anseios e também o envolvimento da
população em relação a temas científicos e tecnológicos podem ser identificados
e acompanhados por meio de pesquisas de opinião pública e dos chamados
indicadores de percepção de C&T”, comenta Morales.
Segundo explicam os autores, conhecer o
estado dessa relação entre ciência e sociedade permite apontar caminhos para a
participação do público, por exemplo, na definição de prioridades para o setor,
no debate sobre as implicações éticas e sociais da ciência, e outros aspectos.
O livro traz ainda um panorama
histórico sobre os indicadores de C&T e de percepção, assim como seus
objetivos, desafios, resultados e tendências. Essa seção acrescenta elementos
para a análise final, que enfoca o discurso presente nesses medidores.
Os enunciados
dos indicadores de C&T são descritivos, indicando, por exemplo, o número de
patentes, de investimentos e recursos humanos em C&T. Já os parâmetros de
percepção da C&T são subjetivos, com questões como o interesse por notícias
de C&T, conhecimento sobre instituições científicas entre outras.
A partir disso,
Vogt e Morales analisam esses enunciados como base para novos parâmetros de
mensuração da cultura científica. Para o indicador de cultura científica (ICS),
os autores propõem, então, um modelo lógico, com referência na antropologia, em
que, de um lado, estão os indicadores objetivos de C&T e, de outro, os parâmetros
subjetivos de percepção. Eles estão em oposição ao mesmo tempo em que se
complementam em seus propósitos: um conceito não existe sem o outro, mas um é
diferente do outro.
O livro
acrescenta aos estudos que vêm sendo feitos por outros pesquisadores para
propor o ICS e é, além disso, uma reflexão aprofundada sobre a importância da cultura
científica e os atuais balizadores para monitorar a C&T.
O
discurso dos indicadores de C&T e de percepção de C&T | Coleção
Ensayos de Ciencia y Sociedad
Autores: Carlos
Vogt e Ana Paula Morales
Coedição:
OEI / Catarata
Páginas: 96
Disponível
para compra no site da OEI