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Árvore tropical mais alta do mundo é descoberta na Malásia
Por Paula Penedo
25/11/2016

Planta aparentemente do gênero shorea tem mais de 94 metros, o equivalente a um prédio de 31 andares, e copa com 40 metros de diâmetro. Mais de 30% da área em que se deu o achado foi destruída ao longo de 40 anos, e apenas 18% de suas florestas estão intactas.

Noventa e quatro metros e 10 centímetros. Esse é o tamanho da árvore tropical mais alta do mundo, encontrada do Vale de Danum, reserva florestal do estado de Sabah, na Malásia. A descoberta foi anunciada este mês pelo ecologista Gregory Asner, pesquisador do Instituto Carnegie de Ciência, da Universidade Stanford, durante a Conferência Internacional Coração de Bornéu 2016. A planta, cujo tamanho equivale a um prédio de cerca de 31 andares, tem ainda uma copa com 40,3 metros de diâmetro e foi identificada juntamente com outros 49 exemplares, todos com mais de 90 metros de altura.

Essas 50 árvores quebraram o recorde estabelecido no início do ano. Na época, uma equipe coordenada pelo pesquisador David Coomes, da Universidade de Cambridge, revelou a existência de uma árvore de 89,5 metros em Maliau Basin, outra reserva florestal de Sabah. A identificação havia sido feita pelo brasileiro Matheus Nunes, aluno de doutorado em Cambridge, que viajou à Malásia na companhia de um estudante de graduação para coletar dados de sua pesquisa. A novidade, no entanto, é que, segundo dados da pesquisa de Stanford, a árvore encontrada por Nunes tem, na verdade, pouco mais de 90 metros.

A descoberta ocorreu por meio de um sensoriamento em larga escala na ilha de Bornéu, formada pela Malásia, Brunei e Indonésia. Para tanto, foi utilizado o Observatório Aéreo Carnegie, um avião equipado com um sistema chamado LiDAR (Light Detection and Raging), que mede e mapeia áreas em 3D. Da base do avião em movimento são realizados 500 mil lances de laser por segundo, o que proporciona uma visão tridimensional detalhada desde a copa das árvores até o solo da floresta.

Como as árvores foram observadas apenas remotamente, os pesquisadores ainda não confirmaram sua espécie. Mas acredita-se que pertençam ao gênero shorea, conhecido como dipterocarpo, e que inclui quase 200 árvores tropicais nativas do sudeste asiático. Somente a ilha de Bornéu, por exemplo, abriga 130 dessas espécies, que podem viver centenas de anos, embora muitas delas estejam ameaçadas pela extração e desmatamento.

Apesar de ser a maior árvore tropical do mundo, a descoberta não quebrou o recorde absoluto, que pertence à sequoia-vermelha. Essa espécie, típica da zona temperada, pode ser encontrada principalmente na costa oeste dos Estados Unidos e chega a ter entre 1.200 e 1.800 anos. O exemplar mais alto de todos, chamado hyperion, está localizado na Califórnia e alcança 115,5 metros.

A quebra de recordes, no entanto, não é o principal objetivo da pesquisa. O projeto foi estabelecido com a finalidade de mapear o hábitat de animais, reservas de carbono e biodiversidade de Bornéu, a fim de proteger suas populações de ameaças. Isso porque as florestas da ilha estão sendo degradadas a uma taxa duas vezes maior que as demais florestas tropicais do mundo. Segundo dados de um estudo liderado pelos ecologistas David Gaveau e Erik Meijaard e publicado em 2014 na PLoS One, mais de 30% dessa área foi destruída ao longo de 40 anos, e apenas 18% das florestas de Sabah estão intactas.

Ainda de acordo com a pesquisa, até a década de 1960 essas florestas eram consideradas as mais selvagens e antigas do mundo, abrigando diversas populações nômades, além de animais como orangotangos, elefantes e rinocerontes. Com a abertura de estradas para a extração de madeira e, a partir dos anos 1990, a instalação de plantações industriais, até mesmo zonas mais inacessíveis da ilha apresentam sinais de degradação. Dados da WWF, por sua vez, apontam que somente na Malásia, maior produtora de óleo de palma do mundo, as plantações passaram de 60 mil hectares em 1960 para 3 milhões em 2001. Como consequência, as tradições tribais desapareceram e a maior parte das espécies animais estão em processo de extinção.

Em entrevista ao Mongabay, portal de notícias sobre ciência e conservação ambiental, Glen Reynolds, diretor do South East Asia Rainforest Research Partnership (SEARRP), um dos principais programas de pesquisa em florestas tropicais do mundo, alega que a descoberta traz à tona a importância de manter as últimas áreas remanescentes de florestas de planície. “Um mapeamento detalhado como este será útil para estabelecer prioridades de conservação. Árvores desse tamanho e idade simplesmente não existem fora de florestas primárias, então é crucial que as áreas que abrigam esses raros gigantes sejam protegidas”, afirma.