Não conte, porque sentirá saudade,
não do contado,
mas das pessoas, eventos, coisas, acontecimentos
que, mesmo não acontecidos,
passam a ter sido,
como se fato.
Não conte, ou se contar ficará magoado
pelo que amamos, desamamos,
gratos ou feridos no desejo
de voltar à casa à que não há retorno,
dela sair a cada dia novo,
e entrar na noite sem sair do dia.
Não conte o tempo com a unidade de medida
do desencantamento,
nem se preocupe pelos vazios
no contínuo da plenitude adentro.
O tempo corre contra e a favor do tempo,
tecendo cedo e tarde como se um prenúncio
fizesse desaparecer do encontro,
que deve acontecer no tempo,
aqueles que se encontrariam para confirmar
que, se nada é novo se senão pelo esquecimento,
o tempo em si sempre rejuvenesce
fora de si não muda, mas no que muda
ele envelhece,
folga estendido como lençóis de chuva
secando ao vento nos varais do tempo.
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