A primeira ideia
Todos os seres que existem partilham conosco a Experiência
da Vida, em qualquer uma das suas
dimensões. Todos eles possuem todo o seu sentido e todo o seu valor em si
mesmos. Possuem isso pelo simples fato de existirem e de partilharem, como tudo
o mais que existe e é vivo, da Experiência da Vida.
Tudo o que existe entre nós
no Círculo do Dom
da Vida, vale o que é, em si mesmo,
porque participa do mistério do Existir na Vida com tudo o mais que é vivo e existe. A Vida é um valor absoluto
em si mesmo. Ela é a morada e a guardiã de outros valores e tudo o que existe
vivo entre nós participa dos direitos desse valor universal outorgado pela Vida a tudo o que existe como uma sua Experiência: como um Ser Vivo.
A segunda ideia
Tudo o mais que venha a ser
ou ter um sentido ou um valor atribuído ao que existe, deve derivar desse
primeiro fato e fundamento universal. Um fato também natural, presente e
individualizado em cada um e em todos os Seres da
Existência.
Esse é um princípio de
interações de valor essencial e fundador de todos os outros. Ele pode ser sintetizado
assim: "isto existe e está vivo”. Ou, de maneira mais ampla e mais
generosa: “isto existe e participa da Vida por
criar entre outros seres as condições para a sua existência”. Logo, é um Ser Vivo, ou um Cenário de Vida, e
participa com tudo o que existe e vive da Rede da
Existência do Dom da Vida.
Se "isto existe",
em qualquer dimensão da existência do que vive e é vivo, então "isto"
é um Sujeito da Vida e participa de todas as
teias e redes que geram, fazem interagir e transformam tudo-o-que-existe e
o-todo-do-que-existe.
A terceira
Nas redes das teias
do-que-existe, tudo o que existe como Experiência da
Vida, é e possui um duplo valor em si-mesmo.
Primeiro: porque participa
da Existência como uma unidade de uma de
suas experiências e a comparte com tudo-o-que-existe no todo do que existe.
Segundo: porque participa
da Vida em suas redes e teias e,
assim, é um elo indispensável no complexo de unidades diferenciadas da partilha
de tudo o que é vivo, compõe e sem cessar transforma o Todo da Vida.
Isto não quer dizer que o
que existe como um Ser da Vida ou
como um Cenário de Vida
no/do Universo ou na/da nossa Terra, participa apenas da vida interior do todo da vida
orgânica. Quer dizer que aquilo que vive e é vivo participa de maneira íntima e
completa de uma dupla Rede do Existir:
aquela que constitui a rede da dimensão da energia e da matéria, e aquela que
configura a dimensão da energia e da matéria realizadas como Vida na e como a
Biosfera: a esfera do existente na Terra e no Universo em que o existir é Vida.
A quarta
A Vida cria e continuamente recria na Terra e a Terra. A Terra não é apenas fonte de Vida. A Terra é viva!
A todo o instante e de
infinitas formas a Vida
recria a Terra de
que é uma parte, um momento e uma dimensão múltipla, porque sem cessar ela
participa daquilo que re-elabora e re-estabelece a trama e a teia das condições
naturais de sua própria Existência.
Uma vez surgida e existente no Planeta, a Vida participa dos processos de orientação dos destinos
da Terra. E ela participa deles no
sentido em que gera e re-genera continuamente a possibilidade de reprodução e
de realização ascendente da própria Vida.
A Vida não apenas existe na Terra
que a acolhe como casa e nave errante no Cosmos.
Ao existir na Terra, com a Terra e como a
Terra, a Vida de algum modo torna toda a
Terra também um Ser Vivo. Um ser planetário vivo e cheio de vida unitária e
múltipla.
A Vida
inaugura o tempo cósmico em que as interações, intercomunicações e
interconexões de/entre tudo-o-que-existe - da mínima partícula de um
átomo ao todo o Universo -
transformam-se em alguma modalidade de
Relacionamento. A Vida é viável porque ela transforma os eixos, as teias
e as redes de tudo o que a ela se relaciona e com ela se intercomunica, em um
processo complexo de sair-de-si-mesmo-em-busca-do-outro. A partir daí "tudo são trocas", e só se
preserva na Vida e como uma experiência da Vida, aquilo que existe em interação na Teia das Trocas da Vida.
A quinta
Tudo o que existe está
situado dentro, está situado entre e está situado em algum tipo de
relacionamento com. Está,
assim, participando da Teia da Existência de uma maneira ou de outra, e de
uma experiência única, irrepetível, intransferível e irreversível.
Tudo o que vive e é vivo vive as suas relações como
uma complexa trama de alternativas e de escolhas de relacionamentos
inter-individuais, inter-pessoais e até mesmo inter-subjetivos com os outros
seres de criação, sustentação, equilíbrio, conflito e harmonia do mistério da Vida.
Cada Ser-da-Vida
não existe isolado um momento sequer de sua existência. Isolado da Rede de Energia da Vida qualquer Ser da Vida
não prossegue no interior da Trama da Vida e,
portanto, não existe. Até Deus não conseguiu existir sozinho.
Assim, o que é vivo e
existe como um elo da Teia da Vida
existe apenas nas,
entre as e através das relações de trocas
que a cada momento estabelecem, transformam e recriam tudo o que envolve a
realidade da vida com e nos seus círculos da Vida e da Existência.
Somos a e somos da Vida, porque estamos sempre e a cada instante
vivenciando trocas com o ar, com o fogo, com a água, com a terra, com a luz das
estrelas e o calor do sol, com o passar do vento, com o sopro da Via Láctea,
com a energia do nada, com o amor da fonte-das-origens chamada nas diferentes
línguas humanas de nomes como: Deus, e criador tanto de uma pessoa humana
quanto de um colibri.
A sexta
No circuito dos Dons da Vida
e, mais ainda, nos Círculos
da Vida em que a consciência reflexa se transforma em uma consciência reflexiva, e onde a natureza
se transforma, também, em cultura, e em que a Vida passa da associação coletiva para a organização
social da Vida, tudo o que existe tem um sentido e se reproduz como uma
experiência, porque sai de si mesmo em direção ao Outro. Sai de si em busca dos outros de seu círculo de Vida e de Sentido da Vida.
Está vivo o que troca:
aquele que recebe do Outro
porque antes deu a ele algo de Si Mesmo. Assim
sendo ...
... o Eu de cada
"coisa", o Eu de cada ser vivo existe apenas como e na relação de troca, isto é: no relacionamento. O Eu de
cada Ser Humano não existe nunca como uma
unidade-em-si; ele existe sempre como um momento individualizado das redes e
teias de inter-conecções e de atribuição cultural de sentido a tais interações
e suas tessituras de e entre seres, símbolos, saberes, sentidos, significados e
sensibilidades.
O Eu de cada uma/um de Nós é sempre um eixo e um elo em que a Vida é tornada consciência reflexiva de/sobre si–mesma. Um ser em que a Experiência da Vida sente e sabe que sente; e se sente sabendo e se
sabe sentindo. E sente um sentimento porque sabe o que sente e sente o que
sabe, tornando as suas relações com qualquer outra forma de existência uma
interação que envolve pelo menos um Eu e
um Me. A existência de uma das muitas formas pelas quais
a Vida cria, reinventa e recria o diálogo: a vivência humana é a mais provavelmente complexa. O Homem não
apenas vive, mas tem consciência da Vida,
de Sua
Vida e da inter-Existência da
Vida na Terra, da qual ele participa como um
momento e um elo.
A sétima
Nós, Seres Humanos - uma das muitas experiências de realização da Vida na Terra - habitamos uma esfera especial de existência, de
partilha e de diálogo.
De uma maneira qualitativamente diferente da de
outros seres com quem compartimos a vivência do existir-como-Vida-na-Terra, as nossas
trocas em nossos relacionamentos com o que e existe, com o que é vivo e também
entre nós, Seres
Humanos da Vida, são realizadas, como vimos já,
no trânsito da consciência
reflexa, que um alface e um beija-flor
possuem, para a consciência
reflexiva e auto-reflexiva. Aquela que
nós possuímos ao nos pensarmos, por exemplo, em nossas relações com um pé de
alface ou um beija-flor.
Sabemos já também que ao lado de um Eu que todos os
seres vivos possuem no momento da individualidade de viver-em-relação, nós
possuímos e somos também um me que nos sente e que nos sabe. Somos a
possibilidade de criação de uma Esfera de Vida realizada espiritualmente como Consciência no Planeta Terra. Somos a aurora da passagem da Biosfera para a Noosfera.
Esta simples possibilidade,
porventura já em plena realização no curso da História da Vida e de uma de suas dimensões: a História da Humanidade, alarga de uma maneira inimaginável, a nossa
responsabilidade para com tudo o que é vivo e para com o Todo da Vida, aqui na Terra e, quem sabe? Em todo do Universo.
A oitava ideia
Somos seres destinados ao amor, à harmonia e à paz.
Somos uma experiência natural e culturalmente
voltada para a colaboração e não para a competição. Para a solidariedade e,
não, para a solidão. Para a busca
solidária de caminhos e de soluções para os nossos dilemas comuns e, não, para a
procura egocentrada de ganhos em detrimento dos outros: outras Pessoas, outros Grupos Humanos, outros Povos, outros Seres da Vida.
Está em nossas mãos nos empenharmos juntos na
aventura de re-aprendermos, re-escrevermos e re-vivermos outras maneiras de
sentir e de ser, outros valores, outros modelos e outros sistemas de
relacionamentos com a Natureza de que somos parte e partilha, com o Meio Ambiente e com a Vida presente
nela.
Está em nossas mãos estendermos direitos essenciais
da esfera social do Humano à toda a esfera existencial da Vida; daquilo que é Vivo e existe como um momento de
realização da Vida. Está em nossas mãos estendermos o círculo dos direitos e também dos afetos e dos sentidos de Vida a tudo o que é vivo.
Está em nossas mãos o destino da Vida e o de Nós próprios,
Seres Humanos na Terra. Podemos seguir o caminho do medo, da expropriação, do
interesse fundado no ter, na utilidade, na competição, na concorrência e no
primado da barbárie (entre Nós) e da destruição (para com a Vida).
Ou podemos buscar e descobrir à nossa frente o
caminho do amor (o oposto do medo, mais do que do ódio ou do desprezo), da
sustentabilidade, da generosidade fundada no Ser, da gratuidade, da cooperação,
da solidariedade da Paz entre Nós e da extensão da Paz à Vida e à harmonia dos Cenários da Vida na
Terra.
Está em nossas mãos o sabermos passar de Senhores do Mundo e nos destruirmos, destruindo em pouco tempo o que
resta de Vida
e de Cenários da Vida em nosso Planeta, a Irmãos do Universo,
estabelecendo uma relação amorosa e complexa de Paz e
de
Concórdia entre nós e entre Nós e a Vida.
|