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Artigo
Solução criativa para o financiamento de pesquisas
Por Andrea Kauffmann Zeh
e Cássia Sakiyama
10/08/2009

Existe diferença entre ciência e mágica? Gostaríamos de pensar que sim. No entanto, se tomarmos a medicina como exemplo, existe diferença entre como percebemos médicos e clarividentes? Afinal, as pessoas frequentemente seguem conselhos médicos sem parar para contemplar a lógica científica por detrás dos tratamentos propostos, da mesma forma que não contemplam a lógica (ou a falta delas) nos presságios quiromânticos. Apesar desse desconhecimento, fato é que a medicina moderna se desenvolveu a partir do mesmo método científico popularizado por Francis Bacon e Galileu. No entanto, há uma enorme desconexão entre o quanto a nossa sociedade confia na medicina e o quanto apoia (e financia) os cientistas em cujas descobertas os tratamentos médicos se baseiam.

Assim, se entendemos a conexão entre o desenvolvimento científico e o impacto em nossas vidas, como explicamos o relativo pequeno suporte econômico que cientistas e suas pesquisas recebem? E ainda, apesar dessas condições, que alternativas existem para os cientistas brasileiros? Este texto é o relato de como o Sistema de Prospecção de Agentes Financiadores em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (Financiar), uma solução inteligente desenvolvida pela Fundação Arthur Bernardes (Funarbe) e apoiada pela Fundação para o Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), constituiu-se como uma saída criativa para contribuir com a ciência e a geração de conhecimento no país.

O financiamento de ciência e tecnologia é o sangue que alimenta e sustenta a pesquisa científica. No Brasil, a maioria esmagadora dos investimentos em ciência e tecnologia é proveniente das agências governamentais, o que gera uma significativa dependência de praticamente uma única fonte de recursos: a estatal. A contribuição do setor privado para o financiamento em pesquisa ainda é pequena, e particularmente inexistente quando o assunto é pesquisa básica, uma vez que o retorno sobre o investimento é arriscado e de longo prazo. Tradicionalmente, esse tipo de pesquisa sempre foi realizado em universidades, enquanto que a pesquisa pertinente ao desenvolvimento de produtos costuma ter uma participação maior das empresas.

Nos últimos anos (período 2000-2007), houve um crescimento nos aportes de recursos para ciência e tecnologia pelos governos federais e estaduais. No entanto, no menor sinal de crise, o orçamento para 2009 já foi cortado em cerca de R$ 1,4 bilhão dos recursos destinados ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Antes do anúncio de redução, o governo previa chegar ao fim de 2010 com 1,5% do PIB para investimentos em ciência e tecnologia. Atualmente, o investimento é de 1%. Outra previsão era de produzir 11,5 mil doutores por ano. Além do prejuízo às bolsas de estudo, os cortes afetarão diretamente os programas que criam centros de excelência em pesquisa no país. Apesar dos recentes sinais de incremento, o orçamento público para ciência e tecnologia, tanto na esfera federal como na estadual, tem sido historicamente insuficiente e inconsistente no Brasil.

Investir na geração do conhecimento tem sido reconhecido como um importante motor de produtividade e crescimento, levando a um novo enfoque sobre o papel da informação, da tecnologia e da aprendizagem no desempenho econômico. A expressão “economia baseada no conhecimento” decorre do reconhecimento total do lugar da produção, distribuição e utilização do conhecimento que regerá o sucesso das nações neste século. A pesquisa científica tem, portanto, um importante papel nesse novo modelo econômico, visto que é um importante fator na geração e na transferência de conhecimento. Consequentemente, diante do cenário inconsistente quanto ao financiamento de pesquisa no país, torna-se necessário potencializar o volume de oportunidades para que pesquisadores brasileiros contribuam na produção do conhecimento e capacitem o país para este século. A prospecção de oportunidades alternativas de fomento assume um papel estratégico para a comunidade acadêmica e tecnológica.

A solução encontrada foi o desenvolvimento de um banco de oportunidades de fomento prospectadas, cadastradas, revisadas e atualizadas por uma equipe de doutores, mestres e especialistas: nasce o Sistema Financiar, que desde 2003 vem aproximando pesquisadores, gestores e empresários das fontes de recursos para os seus projetos. Ferramenta inovadora, interativa e facilitadora, o Financiar transforma dados dispersos na internet e em outros veículos de divulgação em informações estratégicas para pesquisadores.

Prospectar alternativas de fomento significa rastrear informações sobre agências de fomento encontradas em diversas mídias, particularmente aquelas obtidas via pesquisas na internet. Além das fontes governamentais e tradicionais de fomento, é possível identificar um número considerável de instituições, nacionais e internacionais, que financiam pesquisa, desenvolvimento e inovação. Dentre essas instituições, podem ser identificadas agências ligadas a governos, academias, universidades, sociedades profissionais, bancos, grandes organizações comerciais, consórcios e fundações.

Apesar de a internet ser uma excelente fonte de consulta sobre oportunidades de financiamento, as informações estão dispersas em inúmeros sítios, disponíveis na maioria das vezes em links internos que nem sempre são facilmente identificados pelo pesquisador. Portanto, a busca por essas informações é demorada, demandando muitas horas de pesquisa e, mesmo assim, o pesquisador pode não encontrar os possíveis financiadores para seu projeto. Devido a esse fato, é possível encontrar oportunidades internacionais direcionadas para países em desenvolvimento, e até mesmo especificamente para o Brasil, mas que nunca receberam solicitações de recursos por parte de entidades e pesquisadores brasileiros.

Os sistemas de busca internacionais existentes, os quais relacionam milhares de fontes financiadoras, não permitem de forma direta a identificação dos fundos que disponibilizam recursos para projetos no Brasil. Algumas organizações brasileiras que divulgam oportunidades de financiamento o fazem em áreas restritas, muitas vezes temáticas, e disponibilizam poucas informações das fontes financiadoras. Outro fator restritivo ao sucesso da identificação de fontes financiadoras pelos métodos convencionais de busca na internet é a qualidade das informações disponibilizadas. Na maioria dos casos, apenas o nome da fonte financiadora e o respectivo link são indicados.

O Sistema Financiar é capaz de identificar as fontes financiadoras no Brasil e no exterior, classificá-las por área de conhecimento, e disponibilizar a síntese da descrição, data limite, forma de solicitação, valor financiado, elegibilidade, requisitos, restrições, observações, data da última revisão, contatos e endereço da home page do edital, além de informar dados completos das financiadoras. Informações sobre fontes internacionais que fomentam projetos no Brasil são especialmente contempladas.

Uma vez cadastradas no banco de dados, o Sistema Financiar divulga, em tempo real, os registros de agências de fomento, nacionais e internacionais, que apoiam projetos no Brasil. Para tanto, disponibiliza editais, chamadas e convites por área de conhecimento ou por palavras-chave, facilita a identificação de oportunidades para o desenvolvimento de novos programas estratégicos e informa cada nova oportunidade ao usuário, de acordo com a sua área de atuação. Cada nova oportunidade é enviada por correio eletrônico ao usuário, dentro de sua área de atuação. Trata-se de um instrumento interativo e viabilizador do uso dessas fontes com substancial economia de tempo do usuário, além de propiciar o conhecimento de novas oportunidades para linhas de pesquisa e outros projetos.

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Dados anuais, no período de 17 de outubro de 2003 a 7 de agosto de 2009.

Desde o seu lançamento, em outubro de 2003, o Sistema Financiar já divulgou mais de 7.419 oportunidades de fomento, sendo 3.206 nacionais e 4.213 internacionais. Essas oportunidades são oriundas de 583 agências brasileiras e 1.389 agências internacionais, totalizando 1.972 entidades financiadoras de projetos.

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Número de usuários do Sistema Financiar, por ano, até 7 de agosto de 2009.

O banco de dados do Sistema Financiar contém oportunidades de fomento em ciência, tecnologia, desenvolvimento, meio ambiente e inovação. Todas as áreas do conhecimento são contempladas, a saber: ciências agrárias ciências biológicas, ciências da saúde, ciências exatas e da terra, ciências humanas, ciências sociais aplicadas, engenharias, linguística, letras e artes, e outros. O Sistema contém ainda oportunidades para projetos de desenvolvimento social e meio ambiente.

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Distribuição das oportunidades de fomento vigentes da base dados do Sistema Financiar por grande área, em 7 de agosto de 2009.

O Sistema Financiar, por contribuir de maneira eficiente na captação de recursos para projetos de P,D&I, tem despertado o interesse de universidades e outras instituições de ensino, de centros e institutos de pesquisa, de órgãos não governamentais, do setor empresarial e de prefeituras e secretarias.

Atualmente, o Sistema Financiar está sendo utilizado em dez estados brasileiros por 69 instituições assinantes, representantes dos setores público, privado e terceiro setor. O acesso ao Sistema Financiar foi subsidiado pela Fapemig a 26 instituições públicas de pesquisa sediadas no estado de Minas Gerais integrantes da Rede de Prospecção de Oportunidades de Fomento no Estado de Minas Gerais - Sistema Financiar.

Considerando os usuários das instituições assinantes e das instituições da Rede de Prospecção, o Sistema Financiar possui 13.418 usuários cadastrados. Desde outubro de 2003, os usuários consultaram 287.991 oportunidades de fomento e realizaram 106.514 buscas no site do Sistema.

No meio das muitas questões prementes neste país inclui-se o ainda insuficiente financiamento à pesquisa científica. A trágica ironia dessa situação é o quanto o mundo depende da ciência, quanto o desenvolvimento tecnológico garantiu a proeminência de países como os Estados Unidos no século XX e o quão importante seria que o Brasil percebesse a vitalidade desse passe para sua participação na nova economia do século XXI. Chegou a hora de entendermos que a esperança para um mundo melhor pode ser alcançada através do método científico. No entanto, como criatividade abunda em nosso país, parece que o dinheiro é um importante fator limitante no nosso progresso científico. A solução ofertada pelo Sistema Financiar intenciona ajudar pesquisadores, gestores e empresários brasileiros a parar de realizar mágica da geração de conhecimento com parcos recursos. Fazer ciência não é mágica. Mágica é para mágicos e magos.

Como acessar o Sistema Financiar

O acesso ao Sistema Financiar é liberado por meio de assinaturas institucionais.
Informações: financiarassinaturas@financiar.org.br ou (31) 3409-6775 e 6532.
Portal do Sistema Financiar: www.financiar.org.br

Andrea Kauffmann Zeh é PhD pelo Imperial Cancer Research Fund, na Inglaterra, e assessora de relações institucionais da Fundação para o Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep). Cássia Sakiyama é PhD pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, e coordenadora do Sistema Financiar na Fundação Arthur Bernardes.