10/12/2015
A dignidade e a necessidade de pedir
Carolina Medeiros
Pode ser que você já tenha ouvido falar em Amanda Palmer, por conta de sua primeira banda, The Dresden Dolls, por ela ser casada com Neil Gaiman, famoso autor britânico de romances e quadrinhos, ou ainda pelos inúmeros artigos que circulam na internet dividindo opiniões sobre a artista. Amanda Palmer se define como cantora e compositora, ícone indie, feminista, agitadora e mobilizadora de multidões online; para muitos o retrato perfeito da boa conexão entre o artista e seu público. Palmer esteve em evidência em 2012, quando usou o Kickstarter para arrecadar dinheiro para a sua nova banda, The Grand Theft Orchestra.
Essa experiência em uma plataforma que serve para que você apresente um projeto e busque maneiras de realizá-lo lhe rendeu mais que a fama. Fez com que Palmer conseguisse um feito inédito até então no mundo da música: ela pediu US$ 100 mil aos fãs, via financiamento coletivo, para lançar um novo disco, e recebeu US$ 1,2 milhão. Por conta disso, Palmer foi convidada a dar uma palestra em uma série de conferências do TED Talks. O vídeo da sua palestra, “A arte de pedir”, viralizou. E, como uma expansão do vídeo e uma maneira de reunir todas as suas impressões sobre a dor e o prazer de ser um artista e viver como um profissional criativo, nasce o livro com o mesmo nome.
Essa obra é toda pautada pela arte de pedir ajuda ao outro. Para a autora, isso deve acontecer sem temor, sem vergonha e sem reservas. “Por que não pedimos ajuda, dinheiro, amor, com a mesma naturalidade com que pedimos uma cadeira vazia num restaurante ou uma caneta, na rua, para fazer uma anotação? Pedir é digno e necessário, e é a conexão entre quem dá e quem recebe que enriquece a vida humana”, defende.
Palmer afirma que seu livro não se trata de um manual sobre como pedir, e sim de uma provocação bem-vinda e urgente, que faz com que o leitor aprenda a superar seus medos e admita o valor de precisar de ajuda. Sempre. E o relato de sua atuação como “estátua viva” é um bom exemplo do real significado da palavra generosidade. Durante o período que passou em uma praça, em Boston, vestida de noiva, Palmer comprovou que, seja a caminho do trabalho ou em um palco de um show, as pessoas querem (e precisam) ser movidas, tocadas, emocionadas por algum estímulo.
Ao longo de toda a narrativa, o leitor sente que está sentando em um café, batendo um papo com a autora que, aos poucos, vai contando pequenas histórias que estão interligadas pelo tempo. E, no meio desses “contos”, o leitor se depara com imagens e letras de músicas, com suas traduções, no começo de cada capítulo (que você pode baixar gratuitamente, através do site http://amandapalmer.net/home/, ou fazer voluntariamente uma doação ao baixá-las).
Fazendo uma análise geral da obra, A arte de pedir é um bom livro, mas poderia ser mais curto ou ter outras histórias mais representativas, caso o tamanho fosse uma questão importante. Isso porque, por diversos momentos, a autora bate no mesmo ponto, volta sempre às mesmas histórias e similaridades, o que faz a obra ficar cansativa em várias partes.
Apesar disso, fica a mensagem de que, por mais simpática que a pessoa seja, o ato de pedir ajuda não é uma atitude fácil. Isso porque, dependendo da causa, é mais fácil buscar todas as alternativas para resolver o problema sozinho. Para aprender a lidar com o constrangimento de se render à ajuda do outro, o livro de Amanda Palmer pode ser uma boa opção de exemplo de que isso é possível. E preciso.
Título: A arte de pedir - ou como aprendi a não me preocupar mais e a deixar as pessoas ajudarem
Autora: Amanda Palmer
Editora: Intrínseca
Páginas: 304
|