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Resenhas
Assimetrias e convergências
Relação entre Brasil e EUA é crucial para o primeiro mas não para o segundo. Por isso, é assimétrica
Marta Kanashiro
10/04/2006

Rubens Antônio Barbosa, embaixador do Brasil nos Estados Unidos, entre junho de 1999 e março de 2004, e Paulo Roberto de Almeida, ex-ministro-conselheiro da embaixada brasileira em Washington e professor da Universidade de Brasília, organizaram o livro Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências, com o objetivo de superar a defasagem de obras e discussões na área de relações internacionais no Brasil. Os textos e comentários que compõe a obra são oriundos do evento Brazil and United States in a Changing World: political, economic, and diplomatic relations in regional and international contexts, que ocorreu em junho de 2003, com organização da embaixada brasileira em Washington.


Os quatro painéis do seminário sobre relações bilaterais deram origem à divisão do livro em quatro partes, a saber, Relações Brasil-Estados Unidos em perspectiva histórica; Processos paralelos de desenvolvimento e de interdependência econômica; Comércio bilateral e regional e negociações hemisféricas e multilaterais; e Perspectivas futuras das relações bilaterais. A cada uma das partes do livro seguem-se comentários como os de Eduardo Viola, Thomas Skidmore, Joseph Love, Paolo Giordano, Marcelo de Paiva Abreu, dentre outros, dando a tônica do debate.

Segundo os organizadores, as posições dos diversos autores e debatedores têm alguns pontos comuns apesar das divergências. Dentre eles, o reconhecimento de que a relação entre os dois países é crucial do ponto de vista do Brasil, mas não do ângulo de visão dos Estados Unidos e, portanto, caracteriza-se como uma relação assimétrica.

Almeida encara a relação bilateral desigual como uma realidade estrutural com tendência a permanência. “Com efeito, não há hoje um só Estado na face da terra que não ostente essa dupla condição em suas relações com os Estados Unidos: por um lado, centralidade – direta ou indireta – da interação econômica e política e, por outro, desigualdade quase absoluta na equação do poder estratégico, em maior ou menor grau segundo a dotação militar respectiva”, diz ele.

Ainda para Almeida essa é “uma realidade estrutural com tendência a permanência até onde a vista alcança em nossa conjuntura histórica de transformação – destaca ele, mesmo se a lógica última do processo de globalização aponte claramente no sentido da convergência progressiva das capacidades de base dos países participantes da grande interdependência mundial dos sistemas de mercado (...) Os Estados Unidos continuarão provavelmente ocupando o centro nervoso das relações internacionais contemporâneas, mesmo no caso de uma aproximação gradual dos demais atores mundiais a seus indicadores atuais.”

A forma de analisar ou interpretar essa relação desigual é o que marca algumas das diferenças entre os autores ou debatedores. Dentre os paradigmas conceituais presentes nos textos, os organizadores destacam na introdução do livro, o da assimetria e o da interdependência como componentes das diferentes percepções dos autores.

Para Barbosa, por exemplo, um conceito recorrente nos vários textos, que ele classifica como noção chave para definição dessa relação é a de parceria. O termo, segundo ele, traz uma conotação positiva para caracterizar o estado atual da relação bilateral e as possíveis configurações futuras. O ex-embaixador revela suas expectativas com relação à obra quando afirma esperar que ela possa contribuir para o estudo dessas relações, e para emergência de um tratamento prático e de uma visão pública menos enfraquecida por preconceitos, e marcada “por uma vontade comum de construir uma interdependência ativa e mutuamente benéfica”.

Paulo Roberto de Almeida e Rubens Antônio Barbosa (org) Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências 1a ed. Saraiva: São Paulo, 2006. 297 p.