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Povos Indígenas no Brasil:porto inseguro, 1996/2000
Carlos Alberto Ricardo (editor)
Instituto Socioambiental, São Paulo, 2000

por Rodrigo Cunha

Após a bem cuidada publicação de As línguas amazônicas hoje, no ano passado (Veja resenha na Com Ciência), o Instituto Socioambiental (ISA) acaba de lançar um livro ainda mais ousado e abrangente dentro dessa linha da diversidade sócio-cultural brasileira. Povos Indígenas no Brasil 1996/2000 é resultado do trabalho de pesquisadores do ISA, coordenados por Fany Ricardo e com a participação de mais de 200 colaboradores voluntários. Terceiro da série (os primeiros foram tinham o mesmo nome e folizavam os anos de 1987/1990 e 1991/1995), o livro faz um balanço da situação dos indígenas brasileiros nos últimos cinco anos.

O projeto gráfico do livro é muito bonito, a começar pela capa. A primeira parte é dedicada a narrativas indígenas ilustradas por desenhos dos próprios índios e comentadas por antropólogos e linguistas, como Bruna Francheto, do Museu Nacional da UFRJ. Além disso, o livro contém 27 mapas elaborados pelo Laboratório de Geoprocessamento do ISA e 270 fotos cedidas pela Agência Estado, Amazônia 21 e Abril Imagens.

Há, também, num belo texto de Eduardo Viveiros de Castro, uma homenagem póstuma a antropólogos, indigenistas e lideranças indígenas já falecidas, como Darcy Ribeiro, Berta Ribeiro, Cláudio Villas-Boas, Aracy Lopes da Silva, Prepori Kaiabi e Krumare Metuktire.

No período analisado pelo ISA (1996/2000), verificou-se que a população indígena global continua crescendo, mas pelo menos 12 povos estão ameaçados de extinção. Os serviços de saúde e educação voltados para o índio foram descentralizados e passaram a ser diferenciados em relação aos mesmos serviços voltados para o não-índio. No entanto, uma das 1713 notícias curtas que aparecem no livro, extraídas dos mais diversos veículos, revela que 3% da população araweté do médio Xingu morreu de catapora em 2000, por falta de vacinação.

Houve também um avanço no reconhecimento oficial e na demarcação de terras indígenas, mas a ocupação predatória na região do Xingu aumentou, e até órgãos federais chegam a entrar em conflito com os índios por interesse em suas terras, como no caso do IBAMA em relação aos pataxó do Monte Pascoal e do Ministério da Defesa, em relação aos macuxi de Uiramutã. Em meio às perdas e ganhos avaliadas no livro, uma das principais boas notícias consideradas pelos pesquisadores do ISA é o desengavetamento do projeto de lei que trata do Estatuto das Sociedades Indígenas.

A coordenadora dos trabalhos de pesquisa, Fany Ricardo, afirma que "a publicação é uma obra de referência, leitura obrigatória para quem quer conhecer a realidade dos povos indígenas brasileiros". E não é exagero. O livro, de 832 páginas, trata da demografia e das línguas dos povos indígenas, da legislação e da política indigenista, da demarcação de terras indígenas e exploração de recursos naturais nessas terras, das organizações indígenas e dos projetos governamentais de desenvolvimento envolvendo áreas indígenas. Enfim, um guia tão completo quanto possível acerca do indigenismo brasileiro atual.

Povos Indígenas no Brasil, 1996/2000 custa R$ 52 e pode ser encomendado pelo site do ISA.

Atualizado em 10/04/01
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