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Copenhagen
Se você vai para Nova Iorque certamente vai querer ir aos teatros na região da Broadway. Sem saber o que assistir, você procura pelas peças que ganharam alguns prêmios recentemente. Uma delas chama particularmente a atenção: Copenhagen. Além de outros diversos prêmios, essa peça ganhou três Tonys 2000 ("Oscar" do teatro americano), incluíndo os prêmios de melhor peça (Michael Frayn, Escritor), melhor direção (Michael Blakemore) e melhor atriz (Blair Brown). Mas você ainda pergunta, qual é o tema da peça? É um musical? Tem belas coreografias? Músicas inesquecíveis? Não, nada disso… Apesar de ser na Broadway, a peça não tem uma música sequer, o cenário consiste em uma platéia de madeira circular, que reduz consideravelmente o palco e confere um ar de intimidade entre os atores e o público. Há três cadeiras, e três personagens, que discorrem por duas hroas sobre assuntos extremamente complexos, como física quântica, fissão nuclear, Segunda Guerra Mudial. Parece loucura, mas de fato a peça é imperdível. A performance é excelente, a trama é muito bem costurada e o texto consegue lidar com temas complicadíssimos de uma maneira surpreendente. A trama é centrada no relacionamento entre o brilhnte físico alemão Werner Heisenberg (Michael Cumpsty) e o seu mentor, meio-judeu, Niels Bohr (foto) (Philip Bosco). No outono de 1941 Heisenberg, já completamente envolvido no projeto nuclear da Alemanha nazista, foi visitar Bohr na cidade de Copenhagen, ocupada por Hitler no início da Segunda Guerra Mundial. O mistério que envolve essa visita tem sido tema de discussão entre especialistas desde que ela ocorreu, pois nem Bohr nem Heisenberg jamais quiseram comentar o que ocorreu naquele encontro, de poucos minutos, que pode ter sido crucial na história da guerra, e consequentemente na história da humanidade. Várias hipóteses são vividas na peça, através de fantasmas que se voltam ao passado, e re-encenam as mais diversas situações com diálogos hipotéticos. A peça é enriquecida com diversas metáforas físicas. O palco é circular, e os atores giram e colidem freneticamente, como elétrons em torno de um núcleo atômico. O papel do núcleo é representado pela mulher de Bohr, Margrethe (Blair Brown), cujas intervenções equilibram o diálogo e permitem aos leigos entender os assuntos complexos que são discutidos pelos eminentes físicos. Pelo prórprio mistério do encontro, e as suas possíveis consequências, outra metáfora muito bem utilizada é com o Princípio da Incerteza, formulado por Heisenberg, e uma das bases da chamada "Interpretação de Copenhagen" da Mecânica Quântica, da qual ambos personagens são responsáveis diretos. Voltando à misteriosa visita, o que realmente Heisenberg queria com Bohr? Conseguir obter dele algum segredo, que possibilitaria aos nazistas a fabricação da bomba atômica? Persuadí-lo a mudar de lado, ou fazê-lo pressionar os aliados a desistir do projeto nuclear? Será que ele queria apenas ajudar Bohr com a visita, indicando ao comando nazista que eles eram amigos? Ou seria o motivo simplesmente justificado pela vaidade pessoal, só para mostrar ao antigo professor o cargo importante que ele havia atingido? Como já foi comentado, não sabemos quais os verdadeiros motivos da visita, mas sabemos como a guerra terminou, e como ocorreu a evolução dos projetos nucleares de ambos lados. É um exercício interessante imaginar as incríveis consequências desse indecifrável encontro. O que teria provocado outra resposta por parte de Bohr? A incerteza e a fragilidade inerentes de nossa realidade são brilhantemente exploradas nesse espetáculo único. É teatro puro, vale a pena conferir… COPENHAGEN - Peça de Michael Frayn. Estrelando: Philip Bosco, Blair Brown e Michael Cumpsty Direção de Michael Blakemore. Estréia na Broadway : 11 de abril de 2000 no Royale Theatre Links |
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Atualizado em 10/08/00 |
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