Teatro
Copenhagen
Michael Frayn
Livros
A ciência em sete revoluções
David Eliot & Arnold Brody
Outras
resenhas
Envie
sua resenha
rae34@uol.com.br
|
|
Copenhagen
Marcelo Knobel - Prof. do Instituto de Física
da Unicamp
Se
você vai para Nova Iorque certamente vai querer ir aos teatros na região
da Broadway. Sem saber o que assistir, você procura pelas peças que
ganharam alguns prêmios recentemente. Uma delas chama particularmente
a atenção: Copenhagen. Além de outros diversos prêmios, essa peça ganhou
três Tonys 2000 ("Oscar" do teatro americano), incluíndo os prêmios
de melhor peça (Michael Frayn, Escritor), melhor direção (Michael Blakemore)
e melhor atriz (Blair Brown). Mas você ainda pergunta, qual é o tema
da peça? É um musical? Tem belas coreografias? Músicas inesquecíveis?
Não, nada disso… Apesar de ser na Broadway, a peça não tem uma música
sequer, o cenário consiste em uma platéia de madeira circular, que reduz
consideravelmente o palco e confere um ar de intimidade entre os atores
e o público. Há três cadeiras, e três personagens, que discorrem por
duas hroas sobre assuntos extremamente complexos, como física quântica,
fissão nuclear, Segunda Guerra Mudial. Parece loucura, mas de fato a
peça é imperdível. A performance é excelente, a trama é muito bem costurada
e o texto consegue lidar com temas complicadíssimos de uma maneira surpreendente.
A
trama é centrada no relacionamento entre o brilhnte físico alemão Werner
Heisenberg (Michael Cumpsty) e o seu mentor, meio-judeu, Niels Bohr
(foto) (Philip Bosco). No outono de 1941 Heisenberg, já completamente
envolvido no projeto nuclear da Alemanha nazista, foi visitar Bohr na
cidade de Copenhagen, ocupada por Hitler no início da Segunda Guerra
Mundial. O mistério que envolve essa visita tem sido tema de discussão
entre especialistas desde que ela ocorreu, pois nem Bohr nem Heisenberg
jamais quiseram comentar o que ocorreu naquele encontro, de poucos minutos,
que pode ter sido crucial na história da guerra, e consequentemente
na história da humanidade. Várias hipóteses são vividas na peça, através
de fantasmas que se voltam ao passado, e re-encenam as mais diversas
situações com diálogos hipotéticos. A peça é enriquecida com diversas
metáforas físicas. O palco é circular, e os atores giram e colidem freneticamente,
como elétrons em torno de um núcleo atômico. O papel do núcleo é representado
pela mulher de Bohr, Margrethe (Blair Brown), cujas intervenções equilibram
o diálogo e permitem aos leigos entender os assuntos complexos que são
discutidos pelos eminentes físicos. Pelo prórprio mistério do encontro,
e as suas possíveis consequências, outra metáfora muito bem utilizada
é com o Princípio da Incerteza, formulado por Heisenberg, e uma das
bases da chamada "Interpretação de Copenhagen" da Mecânica Quântica,
da qual ambos personagens são responsáveis diretos.
Voltando
à misteriosa visita, o que realmente Heisenberg queria com Bohr? Conseguir
obter dele algum segredo, que possibilitaria aos nazistas a fabricação
da bomba atômica? Persuadí-lo a mudar de lado, ou fazê-lo pressionar
os aliados a desistir do projeto nuclear? Será que ele queria apenas
ajudar Bohr com a visita, indicando ao comando nazista que eles eram
amigos? Ou seria o motivo simplesmente justificado pela vaidade pessoal,
só para mostrar ao antigo professor o cargo importante que ele havia
atingido? Como já foi comentado, não sabemos quais os verdadeiros motivos
da visita, mas sabemos como a guerra terminou, e como ocorreu a evolução
dos projetos nucleares de ambos lados. É um exercício interessante imaginar
as incríveis consequências desse indecifrável encontro. O que teria
provocado outra resposta por parte de Bohr? A incerteza e a fragilidade
inerentes de nossa realidade são brilhantemente exploradas nesse espetáculo
único. É teatro puro, vale a pena conferir…
COPENHAGEN
- Peça de Michael Frayn. Estrelando: Philip Bosco, Blair Brown e Michael
Cumpsty Direção de Michael Blakemore. Estréia na Broadway : 11 de abril
de 2000 no Royale Theatre
Links
Web
Site oficial
Tonys
An evening
with the Bohrs
Número especial na revista Physics
Today (julho 2000)
|
|
|