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Os Historiadores
e os Rios - natureza e ruína na Amazônia Brasileira. Por Rafael Evangelista - antropólogo Afirmar que o crescimento de uma cidade ou de um grupo populacional deveu-se a este localizar-se às margens de um importante rio é uma das hipóteses primeiras e mais óbvias. Entender como uma cidade pode tornar-se "fantasma", ou seja, passar a não ser habitada por ninguém, mesmo tendo um período de razoável prosperidade em sua história e situando-se à margem de um importante rio é a tarefa a que se propõe o historiador Victor Leonardi. Buscando fugir do determinismo geográfico, Leonardi incorpora o estudo das determinantes naturais à compreensão da cultura das sociedades humanas que habitaram toda a região da Amazônia. "Em uma região onde a navegação fluvial sempre foi o principal meio de transporte, a história deve ser inicialmente pensada como história de seus diferentes rios e bacias hidrográficas, porque foi por essas vias aquáticas que a colonização penetrou na Amazônia" (p.15) Airão localiza-se às margens do rio Jaú, um afluente do rio Negro. Hoje, é conhecida como Velho Airão, em oposição à Novo Airão, cidade que recebeu parte de sua população. Não tem mais nenhum habitante e em sua rua principal circulam apenas animais silvestres. Foi fundada em 1694, sendo a primeira povoação à margem do rio Negro, mais antiga que a primeira capital do Amazonas. Historicamente, o Velho Airão centralizou as atividades econômicas da região do vale do rio Jaú. Usualmente, a idéia que se faz do crescimento de uma cidade é a de uma expansão progressiva de sua população e de suas atividades econômicas. No entanto, o que a história do Airão nos revela é uma trajetória de construção seguida por períodos de destruição e por novos períodos de construção. Até o momento em que há uma desestruturação total e em que, em 1985, o último morador retira-se da cidade. Talvez uma das principais qualidades da análise de Leonardi seja entender a história do Airão não apenas dentro do quadro local, mas inseri-la no contexto geral da história da Amazônia e do Brasil. Entretanto, isso não significa desprezar os determinantes regionais. A história do arruinamento do Airão não é apenas a história do desaparecimento de uma cidade mas é a história da multiplicidade de etnias que habitaram e habitam a região amazônica. |
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