http://www.comciencia.br/reportagens/2005/03/01.shtml
Autor: Carlos Vogt |
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A Física em três tempos de poesia
No túmulo de Isaac Newton (1642-1727), na Abadia de Westminster, em Londres, Inglaterra, estão gravados os versos que o panegírico de Alexander Pope (1688-1744) esculpiu:
Em português, numa tradução poeticamente livre, ou livremente poética:
Uma outra versão do elogio de Pope foi produzida por Aaron Hill (1685-1750), seu desafeto literário, e diz assim:
Traduzindo, no mesmo espírito:
Consagrou-se, contudo, o dístico de Pope por qualidades próprias, pela inscrição no túmulo do herói da mecânica moderna e a tal ponto e de tal forma que entrou, sem trocadilho, pela porta da cultura pop e estourou em sucesso no best-seller de Dan Brown - O código Da Vinci - , cuja trama organiza-se, em sua parte final, em torno do quebra-cabeças em versos que envolve o poeta do século XVIII, o físico no seu jazigo e o jazigo na Abadia de Westminster, cenário do desenlace do frenesi narrativo das peripécias exótico-esotéricas do romance. Com as leis de Newton, o mundo científico viveu, ao menos até a segunda metade do século XIX, a sensação de que a física havia concluído sua tarefa e que a ciência estava, enfim, às portas de obter as respostas definitivas sobre os segredos da natureza e os mistérios do mundo. Contudo, no dia 14 de dezembro de 1900, Max Planck anuncia, na Sociedade Berlinense de Física, que a energia não é emitida e tampouco absorvida continuamente, mas sim na forma de pequeninas porções discretas chamadas quanta, ou fótons, cuja grandeza é proporcional à freqüência da radiação. Nascia
a física quântica e as determinações do mundo que
a física newtoniana fazia compreender abalavam-se com toda a teoria e
as certezas construídas de seu saber. Com a teoria da relatividade restrita consagrada, Einstein trabalha numa nova teoria da gravitação, a sua teoria da relatividade geral e, em 1911, no artigo “Sobre o efeito da gravidade na propagação da luz” anuncia que o campo gravitacional deveria provocar a curvatura da luz. Em 1921 conquista o Prêmio Nobel e consolida sua reputação como cientista, como humanista e como cidadão do mundo. Nessa época, Einstein viaja bastante, desempenhando com contínua intensidade esses diversos papéis sociais com que foi revestindo sua vida. Em Londres, para onde se dirigiu depois de estar em Manchester, Sir John Squire (1884-1958) poeta, crítico, historiador e jornalista inventor da dupla paródia, que consiste em transmitir o conteúdo da obra de um poeta no estilo de um outro, acrescentou ao epitáfio de Alexander Pope para Newton os dois versos que, com fina ironia, dão bem a medida dos transtornos científico-culturais que as descobertas de Einstein provocaram nas certezas de então:
Em nossa tradução:
Como
o mundo é feito de mudanças, conforme anotações
em prosa e verso desde o renascimento, ou mesmo antes, e como lá se vão
cem anos miraculosos do admirável ano de 1905 e outros quase tantos da
homenagem divertida de John Squire aos abalos revolucionários da ciência,
acrescento aqui meu tributo aos donos da criação.
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Atualizado em 10/03/2005 |
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