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São Paulo apresenta migração negativa

A migração no Estado de São Paulo está se caracterizando por um maior número de pessoas saindo do estado. Isso é o que indica a análise de José Marcos Pinto da Cunha, demógrafo e pesquisador do Núcleo de Estudos de População (NEPO), da Unicamp sobre a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD) de 2004. Divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no final de 2005, a pesquisa ainda permite estabelecer, segundo Cunha, um perfil médio do migrante brasileiro e traz dados importantes sobre a intensidade da migração no país como um todo.

Com relação a taxa de migração no estado de São Paulo, Cunha indica que quando comparada ao Censo de 2000, que já sinalizava uma redução do número de pessoas que chegavam ao estado, a migração foi 29% menor. Segundo Cunha, esse fenômeno se deve principalmente à “migração de retorno”: muitas pessoas, que migraram para o estado em busca de melhores oportunidades e não conseguiram se fixar, estão voltando para seus estados natais.

De acordo com o pesquisador, apesar de ainda atrair migrantes, São Paulo não oferece mais as oportunidades como já ofereceu no passado. Para se ter uma idéia, a proporção de pobres na região metropolitana de São Paulo aumentou em mais de 200 mil pessoas, como afirmou a economista Sônia Rocha, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), em entrevista à Folha de São Paulo, no último dia 29.

Para Cunha, a transformação no mundo do trabalho é a grande responsável pela “migração de retorno”. Desde os anos 80, o emprego na indústria e na construção civil vem diminuindo e esses eram exatamente os setores que tradicionalmente absorviam a mão-de-obra pouco qualificada.

Além do fechamento de vagas, Cunha chama a atenção para a precarização do trabalho principalmente no setor de serviços. A PNAD indica que o rendimento em São Paulo, em 2004, foi 5,3% menor que o registrado no ano anterior e que a renda per capita dos pobres não chega a um salário mínimo - R$ 250,79. “Mesmo quem está empregado não está necessariamente livre da linha da pobreza”, afirma o pesquisador.

“Todos esses fatores dificultam a assimilação do migrante e a inserção dele no mercado de trabalho, por isso muitos optam pelo retorno à região de origem”, afirma Cunha. A PNAD 2004 ainda mostra que grande parte das pessoas retorna para regiões pobres, o que indica que a volta não está associada ao surgimento de melhores oportunidades nas cidades natais.

Mesmo neste contexto, São Paulo ainda atrai pessoas de diversas regiões do país e, segundo Cunha, vai continuar atraindo. “O que a PNAD traz de novo é o crescimento do número de pessoas que deixa o estado”, afirma.

Para o geógrafo Francisco Capuano Scarlato, da USP, a queda da imigração e a dificuldade de inserção do migrante estão relacionadas com a exigência cada vez maior do mercado de trabalho em obter mão-de-obra qualificada. “A terceirização do trabalho exige qualificação que muitos migrantes não possuem”, afirma o geógrafo.

Intensidade migratória no país
Se comparado ao Censo 2000, o volume de migrantes que circulam no país caiu de 5,2 milhões para 4,8 milhões, um decréscimo de 7%. A migração de retorno representa 30% dos movimentos entre 1999 e 2004, segundo dados da PNAD, sendo que o Nordeste tem a maior taxa 51%, seguido do Sul com 34%. Isso significa o fluxo de 1,4 milhão de pessoas nesse período.

De acordo com a PNAD, grande parte da "migração de retorno" tem como destino os estados do Nordeste. A região apresentou um crescimento de imigração de 19%, sendo que os principais estados responsáveis por este movimento são o Maranhão, com um aumento de 79%, e o Rio Grande do Norte, com aumento de 54%.

A PNAD 2004 indica ainda que nas regiões Norte, Sul e Centro-Oeste não houve grandes alterações se comparada ao Censo 2000. Os números mais significativos são a redução da imigração em Rondônia (40%), Distrito Federal (26%), Amazonas (27%) e Amapá (22%). Segundo Cunha, esses dois últimos estados foram áreas de atração de pessoas nos anos 80 e 90, fato que indicava uma tendência de expansão populacional nessas regiões, mas a PNAD 2004 registra que essa tendência não se confirma.

Scarlato chama a atenção para um outro aspecto: a transformação da dinâmica da economia espacial brasileira, ou seja, está em andamento um processo de desconcentração industrial em várias regiões do país, “muitas empresas estão saindo de São Paulo e se instalando em outras regiões, como, por exemplo, a Ford que foi para a Bahia”, afirma. Dessa forma, a desconcentração industrial se reflete em uma desconcentração populacional, por isso muita gente sai de São Paulo.

Migrante
O migrante do começo deste século no Brasil é jovem, cerca de 70% possui entre 15 e 49 anos, e a proporção entre mulheres e homens é a mesma apresentada para população total - 51,3% e 47,3%, respectivamente, segundo dados da PNAD 2004. O migrante é ligeiramente mais escolarizado que a média, mas, de acordo com Cunha, isso é mais um reflexo da faixa etária do migrante do que um diferencial em relação aos não migrantes.

“É importante enfatizar que o perfil do migrante reflete o perfil da média nacional”, afirma Cunha. O migrante, portanto, possui a mesma média de escolaridade, de idade e existe um equilíbrio entre os sexos. Esse dado é interessante porque refuta o preconceito muito difundido em alguns lugares de que o migrante é pouco escolarizado.

Quanto à escolaridade, o perfil do migrante também varia de acordo com a região. Os estados do Nordeste apresentam uma perda muito grande de pessoas com boa escolaridade, estima-se 57 mil em 8 anos. Por outro lado, o Centro-Oeste recebeu 100 mil pessoas com boa escolaridade nesse mesmo período.

Atualizado em 07/02/06
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