Pesquisa
desenvolve capacete que absorve mais impacto
Cansado de conviver com a rotina de graves
ferimentos na cabeça de motociclistas, o neurocirurgião
Maurício Paranhos Torres decidiu buscar uma solução.
Ele passou a estudar, na década de 90, os modelos de capacetes
existentes, suas normas de certificação e as propriedades
de absorção de impacto do crânio humano. Como
resultado dos estudos, o pesquisador conseguiu criar um capacete
que absorve mais impacto do que os modelos atuais. Segundo testes,
a tecnologia que foi desenvolvida é capaz de absorver os
33% de impacto que não são absorvidos pelos capacetes
utilizados atualmente.
Depois das pesquisas, Torres concluiu que
o crânio humano é um excelente “capacete”,
e foi exatamente o crânio humano que ele usou como inspiração
para elaborar um novo equipamento. O neurocirurgião reuniu
suas pesquisas com os conhecimentos do químico José
Roberto de Oliveira, e um novo modelo de capacete foi resultado
dessa parceria. A invenção foi denominada célula
de proteção craniana.
Torres acredita que a tecnologia desenvolvida
possa ser adaptada para outros tipos de capacete como os usados
na construção civil, esportes e como equipamento
militar de segurança.
Produto foi criado usando novos
materiais
Usando um polímero, isopor e material borrachudo diferentes
dos utilizados atualmente nos capacetes de motociclistas, a célula
de proteção craniana promete ser mais eficiente
na absorção de impacto com as vantagens de ter custos
menores e ser mais leve que os capacetes usados hoje em dia. Os
pesquisadores não revelam maiores detalhes sobre o material
utilizado, porque a patente referente ao produto ainda está
em processo de concessão.
Oliveira explica que os capacetes atuais
pesam cerca de um quilo e meio, são revestidos por uma
espécie de plástico (de 4,5 mm), com uma camada
de isopor com 7 cm de espessura, além de forração
em espuma e tecido. Ele explica que em comparação
com esse modelo, o equipamento desenvolvido tem uma espessura
35% menor e peso de um quilo.
Atualmente, os pesquisadores têm
uma empresa incubada junto à Incubadora de Empresas da
Unicamp (Incamp), aonde trabalham no acabamento do produto desenvolvido.
Oliveira menciona que a nova tecnologia já despertou a
atenção de empresas do ramo e acredita que o capacete
estará no mercado em 2007.
Além da inovação tecnológica
dos materiais do equipamento, a pesquisa de Torres e Oliveira
adquire relevância a partir de dados como os do Departamento
Nacional de Trânsito (Detran-SP) que, em dezembro de 2005,
apontavam uma frota de 2.255.652 de motocicletas, apenas no estado
de São Paulo. No país são cerca de 6,6 milhões
de motocicletas. Dados de uma pesquisa sócio-econômica
sobre acidentes de trânsito, divulgada pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2004, mostram que
mesmo os motociclistas que usavam capacetes sofreram algum tipo
de lesão. Das vítimas de acidentes de trânsito
com motocicletas, 68% usava o equipamento de segurança.
Legislação exige
uso de equipamento de proteção
O Departamento Nacional de Trânsito (Detran-SP) informou
que não há nenhuma legislação de segurança
referente ao uso de capacetes por condutores ou passageiros de
motocicletas, motonetas, ciclomotores, triciclos e quadriciclos
motorizados, que ainda não esteja em vigor. De acordo com
o Código Brasileiro de Trânsito, o não uso
do capacete é considerado uma infração gravíssima
cuja multa é de 180 UFR (R$ 191,54). O condutor do veículo
recebe sete pontos na carteira e seu direito de dirigir é
suspenso.
De acordo com o Instituto Nacional de Tecnologia
(INT), o órgão público federal credenciado
pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização
e Qualidade Industrial (INMETRO), a portaria número 86
do INMETRO, de 24/04/02, institui a certificação
compulsória de capacetes de proteção para
ocupantes de motocicletas e similares, comercializados no país.
Os atuais capacetes devem ter uma identificação
dessa certificação para serem utilizados com segurança.
A
novidade legal acerca de motocicletas e similares fica por conta
da resolução número 158, de 22/04/04, que
passou a vigorar em 1º janeiro de 2006, publicada pelo Conselho
Nacional de Trânsito (Contran). A resolução
proíbe o uso de pneus reformados (recapados, remoldados
ou recauchutados) e gerou muita controvérsia entre a Associação
Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus, os sindicatos de motoboys
e a indústria de pneus novos. Dentre outras questões,
está o problema ambiental. Pneus são considerados
passivos ambientais, pois geram poluição e degradação
dos recursos naturais.