Representantes
de alunos e docentes debatem expansão das universidades
federais
O projeto
do governo Lula de expansão das universidades federais,
anunciado no começo de janeiro, depois da mais longa greve
de docentes das federais em todos os tempos, traz muito debate
para os setores envolvidos no processo. Representantes de alunos
e docentes apontam falhas no projeto, ainda que tanto a União
Nacional dos Estudantes (UNE), quanto o Sindicato Nacional dos
Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes)
vejam a necessidade concreta de aumento do número de vagas
no ensino público superior brasileiro.
A atual proposta
do governo federal é apenas uma das frentes que pretende
aumentar o número de alunos em cursos de nível superior.
Segundo o Censo da Educação Superior de 2004, apenas
10,4% dos brasileiros com idade entre 18 e 24 anos estão
matriculados no ensino superior, o que ainda deixa o país
longe da meta do Plano Nacional de Educação, que
é de 30% até 2011.
A principal
crítica à proposta do governo é, entretanto,
quanto ao modelo da expansão, que prevê criar 125
mil vagas federais até 2010, dobrando o total existente.
De acordo com a medida exposta no portal do Ministério
da Educação, serão criadas dez universidades.
Dessas, duas são totalmente novas: a Universidade Federal
do ABC, com sede em Santo André, e a Universidade do Pampa,
que terá dez pólos no Rio Grande do Sul. As outras
oito serão criadas a partir da união de faculdades
já existentes, ou por desmembramento alguma universidade,
como é o caso da Universidade Federal da Grande Dourados,
que incorporou a estrutura do campus da Universidade Federal do
Mato Grosso do Sul que já existia na cidade.
Segundo a
presidente do Andes, Marina Barbosa, a tendência de se optar
pela reunião de faculdades precisa de uma série
de condições, uma vez que o papel das faculdades
é diferente do papel das universidades. "As atribuições
de uma universidade requerem além de ensino, pesquisa e
extensão. E o seu funcionamento tem necessidade de uma
estrutura própria para isso", afirma. Ela considera
que uma das falhas mais graves do projeto do governo é
a falta de recursos humanos. "Para que a expansão
funcione é preciso criar cargos. E esse projeto pega emprestados
cargos das universidades que já existem", critica.
Segundo ela, as federais já funcionam com defasagem de
profissionais, com oito mil professores substitutos, pois não
há a contratação de professores suficiente
para repor os que saíram.
Gustavo Petta,
presidente da UNE, analisa que a formação de universidades
a partir de faculdades já fundadas traz benefícios
para o aluno porque as universidades têm critérios
de funcionamento mais firmes, como o controle de titulação
dos professores e a oferta de ensino, pesquisa e extensão,
que é a base da universidade. "Mas a UNE defende um
plano de expansão mais ousado, que inclua também
a expansão do financiamento e benefícios, para garantir
ensino de qualidade", explica.
Além
das divergências quanto ao modelo de expansão, muitas
são as críticas para o investimento público
em ensino superior frente ao baixo desempenho do ensino público
fundamental. Entretanto, Marina Barbosa acredita que não
é somente necessário um investimento real nas etapas
de ensino que precedem a educação superior. "O
correto é uma política de investimento abrangente.
A expansão [de vagas] precisa estar sustentada numa concepção
de universidade enraizada nos problemas do país",
defende.
Gustavo Petta
também vê o investimento no ensino superior como
parte de um projeto de melhora do ensino público total.
“Defendemos a idéia de reserva de vagas para estudantes
de escola pública como medida emergencial. Sabemos que
não é a solução, diante do sucateamento
da escola pública fundamental, mas é um mecanismo
que dá a oportunidade e pode incentivar esses estudantes
a tentar uma vaga na universidade pública", avalia.
As duas instituições
representantes de docentes e estudantes, entretanto, vêem
com ceticismo a verba reservada à expansão. O Ministério
da Educação prevê disponibilizar R$ 592 milhões
para expandir e interiorizar o ensino superior público
no Brasil. Parte dos recursos (R$ 192 milhões) já
foi repassada em 2005. Nos próximos dois anos, serão
mais 400 milhões: R$ 162 milhões em 2006 e R$ 238
milhões em 2007. São recursos para construção
de novos prédios, compra de equipamentos e mobiliários,
reforma e adequação de campi, principalmente no
interior do país.
O
orçamento global das universidades federais subiu de R$
7,7 bilhões, em 2004, para R$ 8,9 bilhões em 2005.
Mas Luiz Aurélio Raggi, pró-reitor de ensino da
Universidade Federal de Viçosa, afirma que as universidades
federais enfrentam hoje, mesmo com o aumento do orçamento,
muitos problemas, como falta de docentes e de recursos para infra-estrutura,
dificuldades para a manutenção da universidade e
salários defasados. Segundo ele, a expansão de vagas
deve ter critérios de acordo com as demandas da sociedade
e o potencial de recursos da universidade. “A expansão
das vagas em universidades federais não pode ser só
de acordo com um plano
de governo”, resume.