Livro
relaciona tabela de alimentos brasileiros com saúde, educação
e mudanças climáticas
O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação
(Nepa), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) lançou
em janeiro o livro Composição de Alimentos –
Uma Abordagem Multidisciplinar. Organizado pela professora
Elisabete Salay, engenheira de alimentos e uma das coordenadoras
do projeto de elaboração da Tabela Brasileira de
Composição de Alimentos (TACO),
desenvolvido pelo Nepa, com informações sobre os
principais alimentos exclusivamente brasileiros, o livro foi escrito
visando relacionar as informações dessa tabela às
mais diversas áreas – como saúde, educação,
biodiversidade e mudanças climáticas – e promover
a discussão de seu impacto na sociedade em geral.
De
acordo com Clovis Silva, da Unicamp, Miguel Minhoto, da UniABC,
e Marcos Buckeridge, do Instituto de Botânica de São
Paulo, colaboradores do livro, quando uma planta não encontra
condições adequadas para sua sobrevivência,
como temperatura, nutrientes no solo e umidade, ou sofre por adversidades
como o efeito estufa, ela natural e gradativamente migra para
regiões mais propícias. Como atualmente as mudanças
climáticas provocadas pelo desenvolvimento são muito
mais rápidas do que todas que já ocorreram no planeta,
as estimativas são de que em apenas 50 anos poderão
ocorrer alterações que normalmente levariam mil
ou 10 mil anos.
Com
a velocidade dessas transformações, dificilmente
as espécies vegetais conseguirão se adaptar, resultando
em extinções em massa, avaliam os pesquisadores.
Eles afirmam que está acontecendo uma revolução
silenciosa na biodiversidade, que vem sendo notada há poucos
anos, causada pelo aumento desproporcional na concentração
de gás carbônico na atmosfera, fenômeno que
levou, inclusive, ao surgimento de um novo ramo da ciência
denominado biologia das mudanças climáticas.
Além
da preocupação com a preservação das
plantas que geram alimentos, o livro destaca a divulgação
para o grande público dos resultados de pesquisa sobre
a composição dos alimentos e aplicação
da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos
nas áreas de saúde e educação. “Trata-se
de alimentos de alto valor nutricional, que precisam ser preservados
e podem ser adotados em políticas governamentais para o
combate à fome e à desnutrição, visando
a prevenção de doenças como obesidade, diabetes
e câncer, cuja incidência cresce na sociedade brasileira”,
aponta Salay, organizadora do livro.
Segundo
a ela, a novidade da publicação é tratar
o tema da composição de alimentos de uma maneira
multidisciplinar: o livro aborda a relação entre
a TACO e as ações do governo no Ministério
da Saúde e no Ministério de Desenvolvimento Social
e Combate à Fome; faz referência à influência
da tabela de composição de alimentos na educação
escolar; analisa como as indústrias de alimentos vêm
utilizando a TACO em suas estratégias de crescimento; e
apresenta, ainda, estratégias de como veicular as informações
para o público leigo.
Biodiversidade
brasileira
A lista de alimentos apresentada na publicação contém
a composição química de 448 espécies
que podem ser atribuídas como exclusivas da biodiversidade
brasileira, das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste Sul
e Sudeste, em seus respectivos biomas como caatinga, região
amazônica, cerrado e Mata Atlântica. “Existe
um grande potencial para colocação de frutos, folhas,
raízes e sementes de plantas nativas em um contexto de
sustentabilidade, influindo não somente na economia nacional,
mas também na saúde da população”,
dizem os pesquisadores.
“O
valor nutricional de cada espécie de cerrado é inestimável
e ainda pouquíssimo difundido entre a maioria dos brasileiros”,
comentam. O fruto de jatobá-do-mato, por exemplo, rico
em amido e fibras vegetais, apresenta 245 mg de cálcio
contra 123 mg desse mineral encontrado na mesma quantidade de
leite integral bovino. Por conta dessas propriedades, encontra-se
em fase experimental, na Embrapa-Cerrado, a produção
de barras energéticas de castanha de baru com fibras do
fruto do jatobá.
Outro
aspecto abordado na publicação foi a formação
da cultura alimentar brasileira, influenciada por uma intensa
troca de espécies com os colonizadores e, mais tarde, pelas
devastações causadas pelo desenvolvimento industrial.
“A colonização européia na América
do Sul provocou um enorme embaralhamento em relação
ao uso de plantas como alimentos, pois [os colonizadores] passaram
a levar aquilo que encontravam de interesse para seus países
de origem e também trouxeram um sem-número de espécies
para a América do Sul”, afirmam.
“De
um modo geral pode-se dizer que nossos hábitos alimentares
atuais são bastante europeus, mas apresentam diversos aspectos
que eles copiaram das populações sul-americanas”,
continuam. “No século XX, houve o aperfeiçoamento
do cultivo de diversas plantas da biodiversidade brasileira, como
o cacau e a mandioca, os quais se consolidaram como espécies
de uso mundial”, completam.