Agrotóxicos
são vendidos sem controle no Brasil
No Brasil, um dos cinco maiores consumidores de agrotóxicos
do mundo, falta uma política de controle dessas substâncias
químicas que podem causar danos à saúde de
agricultores, que lidam diretamente com os defensivos, e da população,
que corre o risco de consumir alimentos com resíduos acima
do que é permitido pela legislação. “Não
temos nenhum sistema oficial de informações sobre
a venda de agrotóxicos no país, nem por tipo químico
nem por quantidade vendida. A única informação
disponível é a do Sindicato Nacional das Indústrias
de Produtos para a Defesa Agrícola (SINDAG), que não
inclui todos os fabricantes nem informa dados sobre as quantidades
vendidas por tipos químicos”, afirma Neice Faria,
médica do Departamento de Medicina Social da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel).
Para
a pesquisadora, outro problema são os produtos ilegais.
“Informalmente, ouvimos de vários trabalhadores rurais
relato de uso de produtos proibidos, como o arsênico ou
os organoclorados, que entram no país por contrabando”,
relata. Faria realizou uma pesquisa com agricultores da Serra
Gaúcha e verificou a relação entre a exposição
ocupacional a essas substâncias químicas com o aumento
de sintomas respiratórios. Neste trabalho, ela detectou
que 95% dos estabelecimentos rurais pesquisados utilizaram algum
tipo de agrotóxico na produção agrícola
e 12% dos trabalhadores apresentavam sintomas de asma. O artigo
sobre esta pesquisa foi publicado na Revista de Saúde Pública
de dezembro de 2005.
Segundo
Eloísa Caldas, coordenadora do Laboratório de Toxicologia
da Universidade de Brasília (UnB), “a grande extensão
territorial, a assistência técnica deficiente no
campo e o baixo nível do agricultor brasileiro limitam
a fiscalização e a aplicação da legislação.”
De acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS), os agrotóxicos causam, todos os anos, 20 mil mortes
em todo mundo. “O trabalhador rural que aplica o produto
em excesso e/ou sem a proteção adequada pode se
intoxicar agudamente, desenvolvendo principalmente problemas neurológicos
(que podem levar ao óbito) ou doenças crônicas
como o câncer. O consumo de alimentos altamente contaminados
pode causar intoxicação aguda e desenvolvimento
de doenças crônicas”, alerta Caldas.
Meio
Ambiente
Para prevenir os danos ao meio ambiente causados por agrotóxicos,
pesquisadores desenvolveram uma metodologia que avalia os impactos
causados no solo e águas subterrâneas pelo uso dessas
substâncias. O trabalho foi realizado pelo Centro de Desenvolvimento
da Tecnologia Nuclear (CDTN), órgão ligado ao Ministério
da Ciência e Tecnologia, em parceria com o Instituto Mineiro
de Agropecuária (IMA). A equipe do CDTN elaborou um banco
de dados a partir de informações sobre o solo, as
culturas e os tipos de agrotóxicos utilizados, mapeados
individualmente e sobrepostos com a ajuda de um software.
As
informações obtidas podem ser aplicadas a qualquer
tipo de lavoura, antecipando um possível risco de contaminação.
A área estudada foi a microbacia do Córrego de Lamas,
afluente do rio Manso, localizada a 80 km ao sul de Belo Horizonte.
“Os objetivos da pesquisa foram a caracterização
das práticas agrícolas e a determinação
da vulnerabilidade natural e específica do aqüífero
ao uso de agrotóxicos nesta microbacia, região escolhida
devido à utilização intensiva de agrotóxicos”,
conta Peter Fleming, um dos coordenadores da pesquisa. Um levantamento
do IBGE realizado no ano passado mostrou que os defensivos agrícolas
são a segunda causa de contaminação de água
no Brasil.