Ministério
do Meio Ambiente discute preservação do Pantanal
Esta semana, a organização Conservação
Internacional do Brasil (CI) apresentou oficialmente o relatório
sobre o desmatamento no Pantanal ao coordenador do Programa Pantanal
do Ministério do Meio Ambiente, Paulo Cabral, e aos representantes
do Ibama. Foi cogitada a proposta de monitorar o desmatamento na maior
área alagável do mundo, na qual o setor de geoprocessamento
do Ibama e a CI trabalhariam em parceria. “Cabral se mostrou
aberto para ações conjuntas, mas não há
nada formalizado”, relata Sandro Menezes, gerente do Programa
Pantanal da CI.
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Pantanal
Até 2004, 17% da vegetação foi desmatada.
Créditos: Theo Allofs/CI |
Os
dados levantados pela ONG apontam que a pecuária, a plantação
de culturas exóticas e as carvoarias são as principais
causas da destruição de 17% da cobertura vegetal desse
ecossistema. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul se destacam no agronegócio
brasileiro, sendo os estados com o maior rebanho bovino no país
que, em 2003, somavam quase 50 milhões de cabeças de
gado (aproximadamente 25% do rebanho nacional). E das quase 50 mil
toneladas de soja produzidas, em 2004, o Mato Grosso, cujo governador
- Blairo Maggi - tem o título de maior produtor individual
de soja no mundo, contribuiu com 14 mil toneladas do grão (29%
da produção brasileira).
Para
o professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
Ademar Romeiro, não há necessidade de desmatar para
alcançar o desenvolvimento do agronegócio. “A
agricultura ocupa apenas 16% da área agrícola do país;
o que certos grupos procuram são terras férteis em territórios
não ocupados”, ressalta. Ele acrescenta que “deve-se
intensificar a pecuária e a agricultura na maior parte do país,
menos no Pantanal”. A sugestão do economista é
desenvolver apenas atividades compatíveis, como o turismo ecológico
e até mesmo a agricultura extensiva, utilizando a ocupação
populacional como um trunfo para proteção do Pantanal.
Lei
ambiental
A
própria legislação ambiental não contempla
algumas características do local, o que contribui para a diminuição
de áreas protegidas. Uma das brechas da legislação
consiste no licenciamento para a derrubada da mata. Segundo o relatório
apresentado pela CI, Estimativa
de perda da área natural da Bacia do Alto Paraguai e Pantanal
Brasileiro, dos 87 municípios da Bacia do Alto Paraguai
(BAP), 22 que tiveram mais de 80% de suas áreas desmatadas
conseguiram licença ambiental da Secretaria do Estado do Meio
Ambiente do Mato Grosso do Sul (Sema/MS) para a derrubada de vegetação
nativa.
Paulo
Cabral explica que, para autorizar o desmatamento, exige-se um levantamento
da área da propriedade e não se leva em conta a supressão
da floresta municipal. Assim, cidades que já tinham a vegetação
bastante degradada conseguiram licenças, como aconteceu em
Camapuã (MS). Além da preservação das
matas ciliares e encostas, o Código Florestal prevê uma
reserva legal mínima de 20% de mata nativa nas áreas
de cerrado. Segundo Menezes, uma alternativa é aumentar a porcentagem
de reserva legal. “Em conversas que temos com pecuaristas, eles
receberam bem o aumento desse percentual”, afirma.
Além
disso, de acordo com o coordenador do Programa Pantanal, o Código
de 1965 não considerou as características dos rios pantaneiros.
A lei regulamenta que os territórios que margeiam cursos de
água devem ser de Áreas de Preservação
Permanente, “uma interpretação a que se pode chegar
é que a área de planície do Pantanal poderia
ser reconhecida como área de preservação, porque
fica difícil definir o curso do rio”, esclarece.
A
conservação de matas ciliares da região pantaneira
foi baseada em rios da região Sudeste e Sul, os quais possuem
calhas profundas. No entanto, os rios sazonais da BAP - onde o Pantanal
está inserido - apresentam períodos de cheias e secas,
dificultando a demarcação dessa área. “Há
necessidade de definir melhor o que seria uma área de preservação
permanente levando em consideração as especificidades
do Pantanal”, avalia.
Levantamento
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Capivara
Desmatamento nas nascentes acelera destruição
do bioma Créditos: Theo Allofs/CI |
De
acordo com o estudo, o ritmo de desmatamento anual aumentou de 1,5%
(entre 1985 e 1993) aos atuais 2,3% (entre 2000 e 2004), ou seja,
45% da área da Bacia do Alto Paraguai (BAP) e 17% da cobertura
vegetal original do Pantanal foram destruídas. E, se mantido
o ritmo de desmatamento, dentro de 45 anos a vegetação
nativa do Pantanal terá desaparecido. Feito a partir das imagens
de satélite do sensor Modis (Espectroradiômetro de Imageamento
de Resolução Moderada, na sigla em inglês) e do
levantamento de licenças ambientais, o estudo apresenta uma
margem de erro de 10%.
O
Pantanal é um dos biomas brasileiros menos protegidos, apesar
da importância e da singularidade desse ecossistema. Atualmente,
3% da área estão protegidos por unidades de conservação
de proteção integral ou reservas particulares do patrimônio
natural. Neste ano, serão investidos R$ 11 milhões destinados
a fortalecer essas unidades, principalmente na Serra da Bodoquena
(MS) e na Chapada dos Guimarães (MT). Quantia que Mas Paulo
Cabral julga não ser suficiente para alcançar a meta
de preservar 10% desse território.
Antônio
Carlos de Moraes, professor de geografia da Universidade de São
Paulo (USP), acredita que o Pantanal preservado tem valor econômico
incalculável, pela raridade, pelo banco genético, pelo
atrativo para fluxos turísticos e pelos estoques de água.
Para ajudar na preservação, o pesquisador também
defende uma política de ordenamento do território.
Ações
Em
dezembro, a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, editou uma portaria
para a constituição para a constituição
do Conselho Gestor da Reserva da Biosfera do Pantanal, que terá
por competência elaborar e monitorar o plano de ação
da reserva. O documento foi assinado durante a abertura da II Conferência
Nacional do Meio Ambiente. O Conselho está em fase de composição
dos 30 membros e funcionará como um fórum de discussões,
com a participação de setores da sociedade e do governo.
A previsão é que ele comece as atividades em fevereiro,
quando haverá definição do estatuto, reformulação
do Programa Pantanal e avaliação ambiental estratégica.