Combate
à pobreza rural tem novas perspectivas com idéia
de território
Programas sociais voltados ao desenvolvimento no campo têm
usado o conceito de território para reduzir a pobreza no
campo. Segundo o professor do Instituto de Economia (IE) da Unicamp,
José Maria Silveira, essa combinação é
favorável, pois oferece ferramentas e recursos financeiros,
por meio de ações locais, para fortalecer o segmento
e supri-lo em suas diversas necessidades, tais como: previdência
rural, infra-estrutura, aumento de produtividade e, conseqüentemente,
geração de renda. Apesar dos benefícios da
associação há cautelas a seguir. Silveira
ressalva que se não houver uma regulamentação
ajustada para os novos usos do meio rural esse sistema beneficiará
apenas alguns atores sociais, não promovendo um desenvolvimento
integral e sustentável das áreas rurais.
"Com
o conceito de território é possível sair
da polarização que existia anteriormente entre rural
e urbano, agrícola e industrial, do ponto de vista das
políticas públicas, e conferir maior visibilidade
à economia local", argumenta Silveira. Desta forma,
as necessidades da comunidade rural, incluindo as diferentes dimensões
do território e sua complexidade, passam a ser o foco dos
programas de combate à pobreza rural. Garante-se assim
que suas especificidades, que interagem no processo de construção
de identidade socioeconômica e cultural, tornem-se importantes
para o êxito de desenvolvimento sustentável no campo.
Com essa abordagem, Silveira espera ser possível romper
com o antigo padrão histórico de desenvolvimento
rural baseado no autoritarismo, onde o progresso era tido como
crescimento infinito a partir da incorporação crescente
de recursos, vistos também como infinitos. Surgem novas
perspectivas para transformações estruturais, capacidade
de geração de renda e participação
ativa no meio rural.
Para
contribuir com esta nova panorâmica entram no cenário
os programas direcionados para o combate à pobreza rural,
como o Programa Integrado de Desenvolvimento (PID) e o Desenvolvimento
Rural Sustentável e a Redução da Pobreza
Rural no Nordeste do Brasil. Esses programas têm como
premissa as políticas de financiamento adequadas às
demandas e realidades regionais, contando com uma parceria com
os governos municipal, estadual e federal. “Ações
macroeconômicas juntamente com recursos financeiros financiados
pelos programas não resolvem a questão da pobreza
rural, mas sim a aplicação de metas de universalização
direcionadas para a região necessitada”, observa
o professor de economia. O secretário de Desenvolvimento
Territorial do Ministério de Desenvolvimento Agrário
(MDA), Marcelo Duncan, em entrevista
ao site do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra) também concorda: “os planos
precisam valorizar os recursos locais para que soluções
práticas sejam admitidas”.
Ressalvas
aos programas
Com a mudança no cenário político, na última
década, houve um enfraquecimento da iniciativa federal
e fortalecimento da participação local/regional.
As parcerias “institucionais” passaram a lidar melhor
com a heterogeneidade do uso da terra e do espaço social
rural, de forma a oferecer melhores respostas de regulação
para os diferentes níveis de desenvolvimento no meio rural.
Entretanto, “a comunidade rural precisa ter participação
ativa em todo o processo, seja na seleção de benefícios,
seja na implementação de projetos e uso de planos
de combate à pobreza rural”, acautela Silveira. A
preocupação e as formas de atuação
dos próprios atores sociais fazem diferença: "é
imprescindível que a população do campo tenha
clara definição do problema e das áreas prioritárias,
capacidade de articulação e coordenação
entre agentes de diferentes naturezas – do técnico
ao político – para obter êxito neste contexto",
reforça ele.
Eventos
Alguns eventos debateram a abordagem territorial no combate à
pobreza no rural no final do ano passado. O Workshop
Internacional Estratégias de combate à pobreza rural
no Brasil: situação atual e perspectivas, realizado
em novembro do ano passado no IE da Unicamp, do qual participaram
Silveira e Duncan. E os seminários
Investimentos dirigidos e questões de zoneamento econômico-ecológico
no corredor biológico da Mata Atlântica na Bahia-Espírito
Santo, Territórios rurais: articulando políticas
públicas e demandas sociaise Abordagem territorial como
estratégia de desenvolvimento: definição,
políticas e práticas, realizados pelo Grupo Banco
Mundial.
Por: Erika Blaudt
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