Capital
semente é alternativa para diminuir distância entre
laboratório e mercado
Para que uma grande idéia tecnológica vire um negócio
e renda lucros não basta que o pesquisador tenha um bom
produto em mente. Para auxiliar nesse caminho entre os laboratórios
de pesquisa e o mercado, o Ministério da Ciência
e Tecnologia, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)
lançou, em dezembro, o programa Inovar Semente. A idéia
do programa é incentivar a criação de 24
fundos de capital semente no país, diminuindo a distância
entre investidores privados e os empreendedores.
A Finep investirá, ao todo, R$ 300 milhões em empresas
nascentes de base tecnológica. Em seis anos, serão
apoiados cerca de 340 empreendimentos inovadores, com recursos
que variam entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão, conforme explica
o superintendente da Area de Pequenas Empresas Inovadoras da Finep,
Eduardo Costa. Nessa conta, 40% dos recursos investidos virão
da Finep, outros 40% serão de um banco local e os outros
20% devem ser de um investidor privado. Costa afirma que o objetivo
do programa é cobrir a lacuna de investimentos em empresas
nascentes.
Questões como esta do financiamento para empresas nascentes
e formas de fazer com que o mercado absorva as tecnologias e produtos
criados pela academia, impulsionando o desenvolvimento de negócios
tecnológicos e gerando riqueza, foram tratadas durante
a 1a. Conferência de SEED (Science and Technology for Economic
Development), realizada em dezembro, na Unicamp. Estiveram reunidos
investidores e pesquisadores da América Latina, debatendo
sobre as formas de captação de capital semente por
meio da apresentação de planos de negócios
consistentes, depoimentos de empresas incubadas e pós-incubadas,
além de exposições de investidores anjos
- como são denominados os investidores detentores do capital
semente.
“Todo um esforço para nada”. Assim Ramiro Jordan,
executivo do Consórcio Ibero-americano de Ciência
& Tecnologia sintetiza a atual situação de utilização
em sociedade dos conhecimentos gerados pelos pesquisadores nos
centros de investigação científica e tecnológica.
Ele diz que um grande desafio a ser vencido na América
Latina é encontrar um canal por meio do qual os pesquisadores
possam compartilhar as investigações com a comunidade.
Caso contrário, reforça, “estaremos entrando
no adormecimento do exercício acadêmico que não
leva à criação de riquezas”.
Para Jordan, existem poucos mecanismos que possibilitem a saída
eficiente da tecnologia criada em laboratório para o mercado
na América Latina. E esses mecanismos, segundo ele, estão,
normalmente, atrelados aos governos. Ao fazer uma avaliação
tanto da captação de recursos quanto da transferência
de tecnologia para a sociedade, O executivo declara que o Brasil
está à frente dos demais países da América
Latina em muitos aspectos. Ele atribui isso à existência
de uma política de tecnologia e desenvolvimento definida.
Outro ponto que dificulta os intercâmbios entre instituições
de pesquisa e mercado é o temor dos pesquisadores para
tentarem parcerias, menciona Jordan. O diretor de parques tecnológicos
e incubadoras de empresas de base tecnológica da Agência
de Inovação da Unicamp, Eduardo Grizendi, vai além
ao afirmar que há recursos disponíveis para criação
de empresas de base tecnológica e há boas idéias,
mas faltam bons negócios. “Uma boa idéia tecnológica
precisa ser formatada em um bom negócio. Só assim
os investidores serão atraídos”, declara.
Grizendi menciona que não basta o pesquisador ter um plano
de negócios. Ele precisa mostrar ao investidor qual é
o valor do investimento e, em quanto tempo, e como o investidor
terá o retorno do capital. Grizendi menciona ainda que
nesse tipo de parceria o investidor geralmente exige participação
na administração do negócio o que acaba liberando
o pesquisador para dar mais atenção à área
técnica da empresa. O montante necessário para esse
tipo de investimento é de, no mínimo, R$ 200 mil
e o retorno financeiro leva de 6 a 8 anos.