Centro para estudos ambientais e de sustentabilidade entra
em atividade
A
Petrobras doará o Centro de Capacitação e
Pesquisa em Meio Ambiente (Cepema) à Universidade de São
Paulo (USP) em meados de 2006. A iniciativa partiu do Termo de
Ajustamento de Conduta Ambiental (TAC), que obriga empresas a
compensar danos ambientais através de investimento social
na comunidade. Embora o centro ainda esteja em construção,
vários projetos já estão sendo conduzidos
por pesquisadores de diversas áreas de conhecimento, como
engenharia, biologia, química, geologia, geofísica,
ciências biomédicas, farmácia, agricultura
e veterinária. A idéia é reunir todas essas
especialidades com o objetivo de desenvolver estudos sobre sustentabilidade
ambiental, com enfoque multidisciplinar. “É um modelo
bem inovador para o Brasil e para a USP”, diz Frank Quina,
do Instituto de Química da USP, que é vice-coordenador
do Cepema e coordenador de pesquisa básica junto ao centro.
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Sede
do Cepema em construção, no dia 19 de dezembro
de 2005. Foto: Frank Quina |
O
Cepema está localizado em uma área de 20 mil m2
em Cubatão (SP), próximo à refinaria da Petrobras.
O contrato, assinado em 2004, prevê que a Petrobras também
forneça fundos para a manutenção básica
do centro por cinco anos, mas a gestão fica a cargo da
universidade. A construção deve ser concluída
no início de 2006, para então começar a fase
de montagem dos laboratórios e instalação
de equipamentos. Para tanto, a empresa liberou, em dezembro, uma
verba de R$1,8 milhão.
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Representação
do projeto da sede do Cepema. Crédito: Ateliê
de Arquitetura Carlos Bratke |
Carlos
Bratke, autor do projeto arquitetônico, se preocupou em
desenhar um prédio com características pouco agressivas
ao meio ambiente, além de ser funcional para os pesquisadores.
Em reuniões com os cientistas, o arquiteto buscou soluções
que reunissem funcionalidade ideal e bons princípios arquitetônicos,
tanto estéticos como práticos.
O centro de pesquisa, idealizado por Claudio Oller
da Engenharia Química da USP, abrigará laboratórios
para pesquisa, salas de aula, acomodações temporárias
para pesquisadores, um jardim botânico, uma biblioteca,
um viveiro de mudas da Mata Atlântica, um centro de recuperação
de animais nativos da região e um museu de ciências.
Frank Quina afirma que o museu fará parte da formação
continuada de professores da rede pública. A partir de
um trabalho direto com a comunidade, as atividades e exposições
do museu responderão às necessidades de ensino a
cada momento. O esforço em contribuir para a capacitação
de professores da rede pública envolve um projeto de integração
do conhecimento, que será trabalhado a princípio
na região de Cubatão e da Baixada Santista. Quina
espera desenvolver propostas de ensino que insiram questões
ambientais em todas as disciplinas escolares.
Pesquisa
e serviços ambientais
As
atividades de conservação de flora e fauna a serem
desenvolvidas no Cepema incluem um centro de triagem e tratamento
de animais sob responsabilidade de um grupo da Faculdade de Veterinária
da USP. Animais nativos da Mata Atlântica local serão
acolhidos para tratamento e reintrodução na natureza.
Já existe financiamento para a produção
de um guia de campo que deverá aproximar o público
da Mata Atlântica local. O guia deverá, segundo Quina,
estar ao alcance de todos para ressaltar pontos de interesse,
como a fauna e flora da região e, com isso, suprir a ausência
de informações sobre a serra do Mar. O recurso será
especialmente útil para aqueles que descem o percurso conhecido
como “Caminho do Mar”, que se inicia em Paranapiacaba
(SP). O pesquisador responsável pelo projeto terá
também a incumbência de iniciar o viveiro de mudas
e jardim botânico.
Existem ainda diversos projetos com repercussão
para o meio ambiente em andamento sob a égide do Cepema,
entre eles os que prevêem melhorias de processos químicos
e energéticos, monitoramento de degradação
de poluentes usando radiação solar e artificial
e estudos sobre toxinas liberadas por algas em reservatórios
artificiais ou no mar. Outro tema a ser trabalhado é o
de emissão de gás carbônico (CO2), para o
qual está planejada a participação de um
pesquisador do Massachusetts Institute of Technology (MIT, nos
EUA) para ministrar curso de seqüestro de carbono, com intuito
de montar um grupo de pesquisa na área. O pólo industrial
de Cubatão é um laboratório ideal para essa
linha de pesquisa.
O financiamento para os projetos é obtido
sobretudo de forma independente através de agências
financiadores de pesquisa, como a Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). No entanto,
o Cepema também conta com acordos de financiamento com
os gigantes industriais Petrobras e Alcoa. Um novo programa da
Alcoa Foundation, braço da indústria de alumínio,
reúne universidades de diversos países que queiram
desenvolver projetos na área de desenvolvimento sustentável.
O encontro entre a Alcoa e a USP foi iniciado por Lúcia
Lohmann, botânica da USP, que buscou cientistas com interesse
em integrar ciência e sociedade de uma forma multidisciplinar.
“Muitos pesquisadores têm resistência a envolver-se
com financiamento privado”, lamenta. No entanto, ela acredita
que a Alcoa esteja comprometida com o desenvolvimento socioambiental
e esta interação poderá contribuir para o
estabelecimento de práticas ambientais saudáveis
no país. Segundo a botânica, a empresa disponibilizou
fundos que permitem unir pesquisa e desenvolvimento, o que abre
a possibilidade de uma contribuição real para o
meio ambiente. “Além do trabalho dos pós-doutorandos
dentro dos seus próprios centros de pesquisa, eles também
terão a oportunidade de visitar as outras universidades
envolvidas no programa [London School of Economics and Political
Science (Inglaterra), Curtin University (Austrália), Michigan
University (EUA) e Tsinghua University (China)] para um intercâmbio
de idéias, o que também contribuirá para
uma inserção da USP dentro de um cenário
internacional”, comenta.
De acordo com Frank Quina, estudantes de doutorado
deverão fazer pesquisa por pelo menos um ano nas dependências
do Cepema em Cubatão. É essencial, acredita o pesquisador
da USP, a convivência científica e social de pesquisadores
em um espaço único. “Reunir pessoas de áreas
diferentes acaba dando uma sinergia de idéias”, afirma.
Termo
de Ajustamento de Conduta Ambiental (TAC)
O
TAC foi instituído pela lei no. 7347, de 24 de julho
de 1985. O intuito desta lei não é somente
punir, mas promover a recomposição do ambiente
degradado. A assinatura de um TAC obriga o infrator a corrigir
seus efeitos negativos sobre o meio ambiente. A lei pode
ser aplicada por órgãos regionais de regulamentação
ambiental e contra pessoas físicas ou jurídicas,
que definem o valor e as condições do termo.
Exemplos de infratores freqüentes são indústrias,
usinas e agronegócios. Os recursos solicitados pela
assinatura de um TAC devem ser utilizados em projetos de
desenvolvimento socioeconômico.
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