Ameaças
ao patrimônio da humanidade na China
Mais
de 50 mil Budas esculpidos nas Grutas de Yungang, na China, estão
sendo corroídos pela ação de pó e
dióxido sulfúrico vindos das indústrias e
minas de carvão da região. Os especialistas associam
a má conservação à força de
intempéries como sol, vento e chuva, sendo necessárias
medidas de emergência para evitar a deformação,
de acordo com uma pesquisa divulgada na semana passada pela agência
de notícias EFE. "O governo chinês não
é democrático e, na questão da preservação
do patrimônio, está mais preocupado com os vestígios
do império chinês do que com o budismo indiano, apesar
de a maioria da população se declarar budista.",
diz Pedro Paulo Funari, arqueólogo e professor da Unicamp.
As
indústrias e minas de carvão na China são
altamente poluentes e de acordo com Funari, dificilmente o governo
chinês tomará atitudes que possam diminuir o ritmo
dessas atividades para preservar os budas. Segundo ele, as minas
de carvão são responsáveis por grande parte
da geração de energia barata do país e absorvem
a mão de obra desqualificada existente lá. Além
disso, o patrimônio religioso é subordinado ao desenvolvimento
econômico, e a prioridade é a melhoria de vida da
população.
A
poluição é uma ameaça aos objetos
arqueológicos porque sua ação é gradativa
e perceptível só a longo prazo, daí a importância
de estudos que detectem alterações e alertem os
governos para que tomem providências.
Os
vestígios arqueológicos espalhados pelo mundo só
são conhecidos hoje devido a práticas de conservação.
Em Atenas, capital da Grécia, por exemplo, desde 2004 a
legislação limita o uso dos automóveis e
prioriza o transporte público para diminuir a quantidade
de gases poluentes em contato com a Acrópole. Essa construção
é o mais antigo e importante monumento da civilização
ocidental e recebe mais poluição devido a sua localização
no alto da cidade.
Em
Yungang está o maior grupo de grutas preservado do país,
tombadas pela Unesco como Patrimônio Cultural Mundial em
2001. Esse título trouxe benefícios culturais e
econômicos, mas o órgão não tem poder
de gerenciamento ou decisão e pode apenas sugerir ações
de preservação.
Patrimônio
brasileiro
No Brasil, os vestígios de valor patrimonial são
considerados recentes e datam em sua maior parte do século
XVIII, como as cidades coloniais mineiras, edifícios religiosos
e fortalezas em grandes cidades como Salvador e no Rio de Janeiro.
A responsabilidade de conservação dos locais tombados
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) é dos municípios, que nem sempre
conseguem conter a intervenção da população.
Nas cidades de Ouro Preto e Mariana, no interior de Minas Gerais,
por exemplo, há impasses quanto à colocação
de objetos contemporâneos nas casas, como antenas parabólicas,
construções irregulares, bem como quanto ao livre
trânsito de veículos pesados. "Ações
simples como a manutenção de redes de TV a cabo
em toda a cidade e o investimento em carros elétricos para
transportar as cargas vindas das rodovias para abastecimento da
cidade podem agradar aos dois lados", afirma o arqueólogo
da Unicamp.
Quanto
às grandes cidades brasileiras, a poluição
ainda não foi apontada como vilã da preservação
do patrimônio. Desde 1993 vigora no país uma legislação
que fixa os limites quanto à emissão de poluentes
para os veículos, porém não há inspeção
para os automóveis fabricados antes dessa lei. Se isso
ocorresse, de acordo com Funari, os níveis de poluição
cairiam (e consequentemente a futura ameaça à arquitetura
também), mas 60% dos automóveis teriam que deixar
de circular, o que tornaria a inspeção uma decisão
politicamente inviável.