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Técnica reduz preço de extração da enzima
do abacaxi


Um retorno quase imediato para quem separar e vender bromelina, uma enzima do abacaxi, que, entre outras funções, amacia carnes, tem propriedades digestivas e antiinflamatórias e compõe a fórmula de medicamentos. Essa é a conclusão da engenheira de produção química e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ana Claudia César. Ela analisou a viabilidade econômica de um processo de extração e purificação da bromelina, mostrando os custos e o retorno sobre o investimento. “O inesperado do trabalho é que o processo ficou muito barato”, afirma.

Em escala laboratorial, a aplicação financeira em equipamentos fica em torno de R$ 12 mil e o prazo de retorno máximo é de cinco meses, estima a pesquisadora. Há também vantagem competitiva, porque o Brasil importa a bromelina. Em média, 100 gramas da enzima são vendidas por R$ 300. A pesquisadora da Unicamp chegou ao valor de R$ 10,65 por miligrama, preço sem adição de lucros, isto é, 100 gramas por R$ 165.

Em sua tese, defendida em dezembro, o método escolhido para estimar o preço foi o Mark-up, que consiste em somar ao custo unitário do produto uma margem fixa para obter o preço de venda. Essa margem deve cobrir todos os custos e despesas e propiciar um determinado lucro. Com a produção de 200 gramas mensais de purificado (da bromelina), e margem de lucro de 10%, em 25 meses o investimento retorna; mas se a margem de lucro for aumentada para 65%, o retorno é quase imediato, assegura.

No estudo, foram estimados apenas os custos diretos sem considerar a depreciação do equipamento. A pesquisadora também frisa que toda inovação possui o risco da incerteza. A restrição da bromelina na indústria se deve ao alto custo dela, analisa Ana Claudia César. Assim, o mercado comprador é uma das principais dificuldades para ampliar a extração do componente do abacaxi. “Há algum tempo, o Banco do Brasil abriu uma licitação para comprar bromelina para testes sanguíneos e espermograma, mas são iniciativas isoladas”, explica.

Há dez anos pesquisando a bromelina, Ana Claudia César separou a enzima por meio do processo de extração líquido-líquido em duas fases aquosas, que consiste em duas fases em contracorrente agitadas até atingir um equilíbrio. Uma das vantagens desse processo é que as duas fases resultam em produtos que servem para consumo humano. Os compostos polietilenoglicol (PEG) e etanol, empregados no processo de extração, podem ser reaproveitados, caracterizando uma alternativa sustentável.

A idéia da pesquisadora da Unicamp foi aproveitar os resíduos do processamento de sucos e compotas para a extração da bromelina. “Até os talos contém a enzima”, justifica. Segundo ela, o abacaxi é composto de 90% de água, mas 50% do extrato seco da fruta são proteínas. Com 46 quilos da fruta, chega-se a 8 quilos de precipitado, uma mistura de enzimas, açúcar e produto celular.

Indústria
A utilização em fitoterápicos é um dos mais promissores empregos da bromelina, segundo Ana Claudia César. O pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Paulo Mattos, analisa que há uma demanda no mercado internacional de medicamentos à base de bromelina, os quais já são muito consumidos na Alemanha e nos Estados Unidos. Há um ano, ele desenvolve a pesquisa sobre propriedades farmacológicas da enzima. Mattos estuda a atividade antiinflamatória e imunomoduladora (aumento da efetividade do sistema imunológico) em animais.

Segundo o pesquisador, a vantagem do uso da bromelina como analgésico e antiinflamatório comparados aos não esteroidais (NAIDS, sigla em inglês), é que estes apresentam efeitos colaterais, como úlceras e gastrite. “Em algumas situações, a bromelina poderá vir a ser a droga de escolha, principalmente para as doenças inflamatórias crônicas como a artrite, com a qual o paciente tem que fazer uso do medicamento por um longo período de tempo”, explica. Mattos está desenvolvendo um projeto para integrar a cadeia produtiva desse medicamento fitoterápico, começando com o melhoramento genético da planta até a comercialização do produto.

Abacaxi
O Brasil está entre os maiores produtores de abacaxi do mundo. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em 2004, o país produziu 1,4 bilhão de toneladas e os estados que lideram a produção são Pará, Paraíba e Minas Gerais. No mesmo ano, foram exportadas 23.400 toneladas para países como Argentina (maior comprador), seguido da Itália. Já a Holanda lidera o ranking de compra das quase 15 mil toneladas de suco de abacaxi exportadas em 2004.

Atualizado em 03/01/06
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