Experiências
e perspectiva da gestão metropolitana
O
professor Ronaldo Guimarães Gouvêa, do departamento
de Engenharia de Transportes e Geotecnia da Escola de Engenharia
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), lançou
no final de novembro A questão metropolitana no Brasil,
publicado pela Editora da Fundação Getúlio
Vargas. O livro é resultado de sua tese defendida em julho
de 2003, junto ao programa de doutorado em ciências humanas:
sociologia e política, na UFMG.
A
diversidade dos municípios que compõem as regiões
metropolitanas brasileiras atribuem a elas situações
paradoxais, ou seja, um alto desenvolvimento econômico seguido
de uma exclusão social, desenvolvimento tecnológico
e degradação ambiental. Nesse sentido, o livro analisa
a natureza e os problemas da gestão metropolitana, propondo
caminhos para a superação dos obstáculos
existentes e para a formulação de arranjos institucionais
eficientes e democráticos que permitam a implementação
de políticas públicas plurimunicipais, essenciais
para a vida do cidadão.
Atualmente
existem no Brasil 27 regiões metropolitanas (RMs). As nove
mais importantes (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Recife, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, Curitiba e Belém)
foram criadas no início dos anos 1970, durante o governo
militar do general Emilio Médici (1969-1970). As outras
18 foram criadas após a promulgação da Constituição
de 1988. No livro, Gouvêa apresenta informações
sobre todas elas, mas se detém em torno das mais importantes
ou daquelas que estão experimentando alguma forma de gestão
metropolitana.
"Constata-se
a existência de megamunicípios em quase todas as
RMs. Algumas apresentam mais de um megamunicípio. A minha
proposta é que os Megamunicípios sejam divididos.
A idéia é que não existam municípios
populosos demais, algo em torno dos 500 ou 600 mil habitantes",
explica Gouvêa. Para ele, os megamunicípios têm
papel polarizador e desagregador. Assim, o livro aborda a questão
do "município metropolitano" como realidade urbanística
específica, em contraposição ao perfil dos
demais municípios, ou seja, aqueles que não pertencem
a uma região metropolitana.
"O
município metropolitano é aquele que está
inserido em uma RM. Assim, um município metropolitano deve
ter um ordenamento legal distinto dos demais municípios.
Algumas políticas públicas, estratégicas
e plurimunicipais, como transporte público, não
mais seriam tratadas na esfera municipal e sim na metropolitana",
destaca. Para ele, o transporte não é só
uma questão de engenharia, é um problema que envolve
variáveis econômicas e sociais. Engenheiro de formação
com especialização na área de transporte,
Ronaldo Gouvêa fez o seu mestrado em ciência política
e o o doutorado em sociologia e política, ambos na UFMG.
O
caso da região metropolitana de Belo Horizonte é
analisado com maior detalhe, tendo em vista suas ricas experiências
de planejamento metropolitano e de gestão unificada dos
transportes urbanos nas décadas de 1970 e 1980. Dessa forma,
no terceiro capítulo do livro, "O fenômeno da
Metropolização", Gouvêa trata da estruturação
das regiões metropolitanas no Brasil e dá atenção
especial para o planejamento e a gestão metropolitana e
o caso dos transportes na região metropolitana de Belo
Horizonte.
Ele
explica que quando se fala em planejamento, está se falando,
por exemplo, em plano diretor. "Numa RM, o plano diretor
deve ser metropolitano antes de ser municipal (e não o
contrário). A gestão pode incluir o planejamento
como uma etapa inicial. Contudo, está mais relacionada
às etapas de implementação e controle das
políticas públicas", esclarece Gouvêa.
O livro procura desvendar a problemática das regiões
metropolitanas brasileiras, tanto sob o aspecto administrativo
quanto sob o político. Os capítulos V e VI trabalham,
respectivamente, "a questão adiministrativa"
e "a questão política". Para Gouvêa,
tal problemática se traduz no fato de não existirem,
devidamente institucionalizados no país, arranjos estáveis
para a formulação e implementação
de políticas públicas que atendam aos interesses
comuns de municípios inseridos em regiões metropolitanas.
Gouvêa
informa que seu estudo se destina aos profissionais das áreas
de urbanismo, ciências sociais, direito, geografia, economia,
história, engenharia e administração, atuantes
em organismos públicos e privados e que, direta ou indiretamente,
respondem por atividades de planejamento e de gestão de
políticas urbanas estratégicas e de abrangência
plurimunicipal, como transporte, desenvolvimento econômico,
meio ambiente, entre outras.