Destino
dos resíduos industriais perigosos é desconhecido
no Brasil
Os resultados de exames feitos pelo Ministério da Saúde
com 1,4 mil moradores de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, e
divulgados no final de novembro, mostraram que 95% das pessoas
estão contaminadas por resíduos de uma fábrica
de inseticidas desativada em 1965. Foram detectados 14 tipos de
substâncias tóxicas que podem causar câncer,
abortos espontâneos, além de danos ao sistema neurológico,
digestivo, imunológico e hematológico. No Brasil,
não existem dados oficiais sobre a quantidade de resíduos
produzidos pelas indústrias brasileiras e sua destinação.
O problema é que muitos desses resíduos são
perigosos, podendo gerar prejuízos ao meio ambiente e à
saúde da população.
Com
a falta de informações, são feitas apenas
estimativas. Segundo a Associação Brasileira de
Empresas de Tratamento, Recuperação e Disposição
de Resíduos Especiais (Abetre), as indústrias produzem
2,9 toneladas de resíduos perigosos por ano e apenas 600
mil são dispostos de modo correto. Os resíduos podem
ser destinados para aterros, incineradores e co-processadores
em fornos de cimento. Há ainda tratamento para tipos específicos
de resíduos, mas que são pouco utilizados. Apesar
de existir tecnologia que diminua os danos causados ao meio ambiente
e à população devido à incineração,
há muita resistência a essa forma de tratamento em
vários países e principalmente no Brasil. "A
incineração é muito melhor aplicada em países
desenvolvidos que têm conhecimento e fiscalização.
Aqui, nós não temos uma estrutura de fiscalização
dos órgãos ambientais. Essa é a grande desconfiança
que a sociedade tem em relação à incineração.
Do ponto de vista da tecnologia para resíduo perigoso,
a melhor opção ainda é a incineração,
desde que seja bem feita. Melhor do que a incineração,
seria não produzir o resíduo", afirma Waldir
Bizzo, professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da
Unicamp.
Os
aterros, por sua vez, custam menos para as indústrias do
que a incineração. A preocupação é
que os resíduos industriais, diferentemente dos orgânicos,
não se decompõem. Por conta disso, há um
momento em que a capacidade do aterro se esgota. "Se somarmos
a capacidade dos aterros e a capacidade dos incineradores, você
chega à conclusão de que a quantidade é muito
menor do que a nossa estimativa da produção de resíduos
perigosos. Não sabemos o que é feito com a outra
parte dos resíduos", alerta Bizzo. Muitas empresas
que são fiscalizadas e não têm como destinar
seus resíduos armazenam os mesmos na própria empresa.
Na
Câmara dos Deputados, uma comissão analisa a Política
Nacional de Resíduos que está em tramitação
há mais de dez anos. A idéia é regulamentar
a responsabilidade pós-consumo sobre os resíduos
e estabelecer regras para destinação daqueles produzidos
pelas indústrias.
Abismo
Enquanto 59% dos municípios brasileiros dispõem
o lixo domiciliar em lixões – de acordo com o IBGE
– com risco de contaminação do solo, da água
e da população, o Brasil desponta na reciclagem
de embalagens longa vida, com uma tecnologia de incineração
a plasma que consegue separar o plástico do alumínio,
vendidos posteriormente à indústria de transformação.
A usina funciona em Piracicaba, interior de São Paulo.
Essa tecnologia recebeu interesse de governos europeus (a Espanha
importou o modelo) e do governo chinês. O país também
é o que mais recicla latinhas de alumínio no mundo:
em 2004, foram recicladas 95,7% das latas usadas.
Em
relação à precariedade da destinação
do lixo domiciliar, enfrentado por muitas cidades, Bizzo aponta
que a dificuldade está na gestão de resíduos
urbanos. "Em municípios que estão endividados
ou que têm grandes carências sociais, o lixo não
é a prioridade. O que preocupa é que uma má
gestão de lixo e de saneamento vai ocasionar problemas
de saúde pública imediatamente ou daqui a alguns
anos", conclui.