Os
limites das novas tecnologias para saúde
A
bioética, entendida como um estudo para promoção
da dignidade e melhor qualidade de vida, deve abranger também
o nível cósmico e ecológico, ou seja, investigar
a relação do homem com o universo e o meio-ambiente.
Essa é uma das conclusões da palestra “Questões
atuais e Bioética”, de Léo Pessini, professor
de bioética, membro do Board of Directors da Associação
Internacional de Bioética e vice-reitor do Centro Universitário
São Camilo de São Paulo. O evento foi promovido
pelo Centro de Estudos Interdisciplinares (Cecrei) da PUC de São
Paulo.
Segundo
Pessini, a necessidade de estudos sobre o assunto tem crescido
no país, principalmente devido à maior divulgação
pela mídia de temas relacionados à saúde
como genética, eutanásia, lei de biossegurança,
transgênicos e o uso de células-tronco embrionárias.
As questões das novas tecnologias genéticas e reprodutivas
hoje extrapolam o campo da saúde e envolvem toda a sociedade.
Em sua avaliação, os atuais avanços permitem
pensarmos riscos relacionados, por exemplo, com a forma como as
empresas utilizarão os exames genéticos para fazer
contratações, no futuro: “Nenhum ser humano
pode ser discriminado por sua herança genética”,
frisa o professor.
Léo
Pessini também explica que a bioética é uma
ciência nova, com cerca de 30 anos, e envolve estudos multidisciplinares
para que possamos defender a vida além do âmbito
humano. Ela surgiu porque os cientistas perceberam que o desenvolvimento
da ciência e da tecnologia sem ética pode tornar-se
grande risco para a humanidade. Ele lembra que os estudos da bioética
começaram nos Estados Unidos, com o oncologista norte-americano
Van Rensselaer Potter (1911-2001), da Universidade de Wisconsin,
autor do primeiro livro sobre o assunto, Bioethics: Bridge
to the future (Bióetica: uma ponte para o futuro),
escrito em 1971.
Essa
publicação define o bioética como “ciência
da sobrevivência humana”. Em outras obras, Potter
escreveu que a bioética é uma “nova ciência
ética que combina humildade, responsabilidade e uma competência
interdisciplinar que potencializa o senso de humanidade”.
“No início, ele foi marginalizado, porque os pesquisadores
davam mais valor apenas para a ética médica, mas
depois perceberam que toda a ciência sem ética pode
significar risco para a humanidade”, disse Pessini.
O
professor de bioética afirmou ainda que na maioria dos
congressos é discutido hoje se a bioética seria
uma disciplina da filosofia, uma nova ciência ou um movimento
cultural. Em sua avaliação, trata-se de uma ciência
que aborda questões não apenas associadas à
saúde e religião, mas também a problemas
ecológicos e de desigualdade social. Ele ressalta que,
independente de qual área a bioética pertença,
existe a necessidade de reflexão sobre o cuidado da vida
e do ser humano, principalmente num período de tantas transformações
científicas e tecnológicas que podem comprometer
o futuro da humanidade. Pessini conclui a palestra, com uma frase
do oncologista Van Rensselaer Potter. “Se não tivermos
critérios éticos para com a vida, comprometeremos
o futuro das gerações que nos sucederão”.