Acordos
comerciais venezuelanos
preocupam EUA
No dia 29 de novembro, a Espanha
fechou um contrato comercial que se tornou a maior venda de material
bélico de sua história, contrariando os interesses
de seu aliado de mais de meio século: os EUA. O descontentamento
deste país se deve ao fato da venda ter sido para a Venezuela,
que é vista pelo Estado norte-americano como uma ameaça
para a democracia na América Latina. O governo dos EUA
ameaçou bloquear a venda, impedindo a transferência
de tecnologia e peças para os produtos bélicos.
O acordo, fechado em Caracas,
contou com a venda de quatro barcos de patrulha marítimos
e quatro navios-patrulha costeiros, além de dez aviões
de transporte e dois aviões de patrulha, chegando a um
valor total de 1,7 bilhão de euros. Os EUA são duros
críticos da política esquerdista venezuelana e acreditam
que o país sul americano representa uma ameaça para
a estabilidade da democracia na região. Segundo o professor
Eduardo Viola, do Instituto de Relações Internacionais
da Universidade de Brasília (UNB), o eixo do problema na
América latina para os EUA não é mais Cuba,
mas a Venezuela, pois representa uma ameaça para a política
externa e para os interesses internacionais norte-americanos,
seja porque é visto (pelos EUA) como um perigo para a consolidação
da democracia, seja porque detém ricas bacias petrolíferas
que os EUA gostariam de controlar.
O governo Bush alega que a
venda das armas pode desestabilizar a região, já
que a Venezuela tem a Colômbia como inimigo em potencial.
Porém, o próprio governo colombiano alegou que não
tem objeção à venda de armas para a Venezuela,
segundo relata uma reportagem da BBC. A Venezuela contrapõe
os EUA, argumentando que as embarcações e os aviões
serão usados para combater narcotráfico, tendo fins
civis e humanitários, não representando nenhum risco
para o equilíbrio militar na região.
Como o material contém
tecnologia americana, os EUA alegam que ele não poderia
ser vendido sem prévio aviso, e ameaçaram não
exportar as peças e tecnologias necessárias para
os materiais. Mas a Venezuela diz que será perfeitamente
possível substituir por peças e tecnologias francesas
ou alemãs, e os EUA não representariam nenhum risco
para a consolidação do negócio.
Viola
afirma que a Espanha realmente só fez este acordo comercial
porque os aviões e embarcações não
são armas de guerra, não podendo de maneira alguma
representar algum risco para a desestabilização
na América Latina. Caso pudesse representar algum risco,
não haveria nenhum acordo, ressalta o pesquisador, já
que a Espanha é aliada dos EUA, por mais que tal aliança
tenha sido alterada desde a entrada de José Luis Rodríguez
Zapatero no governo espanhol. “A Espanha é um grande
mediador entre os governos venezuelano e colombiano para manter
a paz entre os dois países, e jamais tomaria uma atitude
que pudesse aumentar o conflito entre eles”, analisa.
Relação
EUA e Espanha
Existe um confronto entre o governo Zapatero e o governo Bush:
o primeiro determinou a retirada de suas tropas do Iraque assim
que chegou ao governo espanhol. Desde março de 2004, quando
Zapatero foi eleito, a Espanha se transformou de um aliado prioritário
dos EUA em um aliado secundário. Neste instante, mudou-se
a relação da Espanha com os EUA e não agora,
afirma Viola.
Esse evento da negociação
com a Venezuela é somente um reflexo da mudança
da relação entre os dois governos, abalada desde
2004. Entretanto, o pesquisador ressalta que essa relação
negativa é entre governos e não entre Estados, não
existindo um confronto fundamental. Ou seja, a estrutura da relação
dentre Espanha e EUA não se alterou. Os dois países
detêm uma aliança forte desde a criação
da OTAN e a “inversão de alianças acontece
raramente, já que corresponde a uma mudança de estrutura
muito profunda. O sistema internacional de alianças é
hoje muito estável,” conclui.
Acordo com a Rússia
Até dia 30 de dezembro, a Venezuela também receberá
30 mil fuzis da Rússia, em decorrência de um acordo
fechado em maio deste ano, como parte de um tratado de cooperação
que inclui as áreas de comércio, energia, eletricidade
e tecnologia militar. Foram vendidos para o país sul americano
100 mil fuzis, e os 70 mil restantes serão entregues até
março de 2006.
Novamente,
os EUA demonstraram sua preocupação em relação
a este acordo, pois acreditam que esses fuzis possam cair nas
mãos de grupos rebeldes colombianos. A Venezuela, porém,
rebate a afirmação dizendo que os fuzis serão
para substituir armas do seu exército e mais uma vez acusam
os EUA de quererem interferir em assuntos internos do país
latino americano e pretender impedi-lo de ter relações
comerciais com outros países.