Simpósio
discute vacinas contra rotavírus, gripe e outras doenças
Em março de 2006, o Brasil será o primeiro país
a incluir a vacina contra rotavírus em seu programa de
imunização; em 2007, o Instituto Butantã
poderá produzir vacinas contra gripe; e doenças
como coqueluche e varicela, ou catapora, podem ser motivo de preocupação.
Quais serão as próximas vacinas a serem incluídas
no calendário brasileiro de vacinação? Esses
foram alguns dos assuntos discutidos durante o 7o
Simpósio de Vacinação, que no dia 22
de novembro reuniu profissionais da saúde em São
Paulo.
Rotavírus
O rotavírus é o principal causador de diarréia
até os 5 anos de idade, responsável pela morte de
600 mil crianças por ano no mundo. Um estudo que comparou
os municípios de Rio Claro e Guarulhos, no estado de São
Paulo, de 2004 a 2005, mostra que o rotavírus causou, respectivamente,
6,5 e 17,9% dos casos de diarréia examinados. De acordo
com Maria Bernadete Eduardo, da Secretaria de Saúde do
estado de São Paulo (SES), essa diferença se deve
sobretudo à urbanização, dado que a densidade
populacional em Rio Claro é de 37 habitantes por quilômetro
quadrado, contra 4 mil em Guarulhos. A transmissão da doença
se dá por via oral-fecal. Isto significa que o vírus
é contraído de inúmeras formas, dentre as
quais se destacam água contaminada e manipulação
inadequada de alimentos. Para o estado de São Paulo, estima-se
um total de 22 mil a 55 mil casos por ano, dos quais entre 4 e
5% exigem internação. A servidora da SES ressalta
que a prevenção é importante para reduzir
tanto os danos à saúde quanto os custos para a população
e para o sistema de saúde.
A
vacina a ser utilizada no Brasil, chamada Rotarix, foi licenciada
em 2004. Segundo Helena Keico Sato, também da SES, um estudo
já comprovou a sua eficácia tanto em proteção
contra diarréia (87%) quanto contra hospitalização
em caso de diarréia (85%). Além disso, a vacina
é bem tolerada e não causa efeitos colaterais. Segundo
ela, com a implementação da vacinação,
podem ser evitados 1.680.000 casos por ano no Brasil. Desta forma,
mais de 6 mil mortes podem ser evitadas. A vacina anterior contra
rotavírus, a Rotashield, chegou a ser amplamente utilizada
nos Estados Unidos, mas foi suspensa em 1999 por suspeita de causar
intussepção (uma parte do intestino dobra-se para
dentro de outra, o que causa obstrução intestinal).
Sato afirma que este efeito não ocorre como reação
à Rotarix, desde que aplicada corretamente.
A
vacina contra rotavírus é de administração
oral e deve ser dada aos 2 e 4 meses de idade. Muito cuidado será
necessário, porque o licenciamento especifica as idades
máximas de 3,5 meses de idade para aplicação
da primeira dose, e 5,5 meses para a segunda. Segundo Gabriel
Oselka, pediatra e presidente das assessorias de imunização
nacional e do estado de São Paulo, esse limite é
uma precaução contra a possibilidade de intussepção.
“Quase todos os casos de invaginação intestinal
que ocorreram nos Estados Unidos [após uso da vacina Rotashield]
ocorreram após a primeira dose, em crianças com
mais de 3 meses e meio de idade”, explica. Para garantir
que a implementação será feita de forma correta,
no dia 23 de novembro foi feito em São Paulo o treinamento
de 150 profissionais de saúde que servirão como
multiplicadores para o treinamento a nível municipal, entre
dezembro deste ano e fevereiro de 2006. “A vacina tem que
ser introduzida com muita cautela, muito treinamento e conscientização”,
alertou Sato.
Após
o início da vacinação, será ativado
um sistema de notificação para o monitoramento de
efeitos adversos. Deverão ser notificados casos de febre
alta (mais de 39,5oC) até 14 dias após a aplicação
da vacina, internações por doenças gastrointestinais
ou outras hospitalizações que ocorram até
21 dias após a imunização.
Gripe
humana e aviária
A ampla repercussão dos casos de gripe aviária também
foi discutida no evento. “A influenza tem sido adequadamente
discutida pela imprensa, mas estamos diante de uma epidemia de
informação”. Esta é a avaliação
de Carlos Fortaleza, titular da Superintendência de Controle
de Epidemias (Sucen) de São Paulo. De acordo com ele, até
mesmo os profissionais de saúde têm dificuldade em
reconhecer as informações que merecem atenção.
Fortaleza explica que teme-se uma pandemia pela facilidade de
disseminação de doenças através da
movimentação de humanos. No entanto, isto só
será um problema quando a transmissão da gripe se
fizer de humano para humano. “Por enquanto, é um
vírus de ave que pode acometer humanos”, ressalva.
Como
os vírus sofrem muitas mutações e podem inclusive
formar híbridos com vírus de humanos ou de outros
mamíferos, é possível que se desenvolva uma
linhagem capaz de causar uma pandemia. Por outro lado, Fortaleza
alerta para o fato de que o vírus pandêmico pode
não ser este H5N1 que tem causado preocupação
nos casos de gripe aviária. Por este motivo, afirma, não
adianta fazer vacinas agora. O necessário é que
se tenha a capacidade de reação rápida para
produção de vacinas quando for necessário.
O
Instituto Butantã está se preparando para produzir
vacinas contra a gripe, que possibilitará ação
local e continuada contra o vírus de qualquer gripe que
venha a acometer humanos, de origem aviária ou não.
No entanto, Hisako Higashi, do Butantã, conta que as instalações
para fabricação de vacinas estão ainda em
construção, de maneira que a produção
brasileira só poderá ser finalizada a tempo para
a campanha de vacinação de 2008.
O
futuro
O especialista em imunização Oselka ofereceu um
panorama da “corrida” entre as vacinas passíveis
de serem incluídas no Programa Nacional de Imunização
(PNI). Ele acredita que a próxima vacina a fazer parte
do sistema público de saúde deve ser contra o meningococo
C, principal causador da meningite bacteriana no Brasil. A avaliação
de vacinas a serem adotadas pelo PNI depende de vários
fatores, como impacto avaliado em termos de redução
do número de casos, de mortes e de custos, além
de adequação da vacina à realidade brasileira.
Embora a vacina contra o meningococo C seja a mais cotada no momento,
o pediatra ressalta que outras fortes candidatas podem surgir
e tomar a dianteira da “fila”, como foi o caso da
vacina contra rotavírus este ano. Uma possibilidade é
a vacina contra papilomavírus humano, que deve ser licenciada
no Brasil no início de 2006. Além disso, a grande
incidência de varicela e a re-emergência da coqueluche
no mundo podem levar o Ministério da Saúde a considerar
também imunizações contra essas doenças.