Veículos
são responsáveis por 95% da poluição
no meio urbano
Inspeção veicular, melhoria na qualidade dos combustíveis
e uso de carros a álcool. Essas são as três
medidas imprescindíveis para a diminuição
da emissão de poluentes do ar, segundo o professor da Faculdade
de Engenharia Química da Unicamp, Edson Tomaz. Ele investigou
os dados coletados pela Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) em 2004, nas
regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas.
Os resultados foram apresentados durante o Fórum Permanente
de Energia e Ambiente, realizado no dia 8 de novembro, na Unicamp.
Tomaz
pesquisa poluição do ar há seis anos. De
acordo com os dados levantados por ele, mais de 95% da poluição
nos grandes centros urbanos são provenientes de veículos
automotores. Entre esses, os motores a diesel são os principais
responsáveis pela emissão de poluentes, enquanto
os veículos movidos a álcool são os que emitem
menos quantidade de compostos químicos poluentes.
O
pesquisador explica que tanto veículos com motores a álcool,
como os movidos a gasolina ou diesel emitem monóxido de
carbono, óxidos de nitrogênio e partículas
sólidas. Porém, esta emissão se diferencia
de acordo com o tipo de combustível. Outro poluente, o
dióxido de enxofre, aparece somente na combustão
da gasolina e do diesel. A grande diferença é o
volume de compostos gerados em cada um dos processos de queima.
“O motor a diesel emite 80 vezes mais óxidos de nitrogênio
por quilômetro rodado e 30 vezes mais monóxido de
carbono do que os motores a álcool. Além disso,
o motor a diesel libera 8 vezes mais partículas sólidas
e 3,6 vezes mais dióxido de enxofre do que os motores a
gasolina”, compara.
Uma
das explicações para a quantidade de poluentes lançada
pelos veículos a diesel, esclarece Tomaz, está no
fato de esses carros não terem catalisador. O catalisador
é uma espécie de filtro que ajuda a converter os
compostos altamente poluentes em menos poluentes, por meio de
reações químicas dentro dos motores. Outro
agravante está na vida útil dos motores. Quanto
mais antigos, mais poluentes eles liberam. “Os que são
a diesel têm vida útil de 70 mil quilômetros
aproximadamente. A dos demais chega a 300 mil quilômetros”,
diz.
Atualmente,
cerca de 6% da frota da região metropolitana de São
Paulo possui motor a diesel. Para se obter a diminuição
na geração de enxofre, no caso dos veículos
a diesel, e a redução na quantidade de outros poluentes,
seria imprescindível a adoção de catalisadores
em todos esses veículos. Mas a manutenção
da qualidade dos demais combustíveis também é
importante para a redução da emissão de poluentes
do ar, assim como a verificação do funcionamento
dos motores.
Quanto
à inspeção veicular, Tomaz lembra que ela
foi regulamentada por meio da resolução nº
84, de 19 de novembro de 1998, de acordo com o artigo 104 do Código
de Trânsito Brasileiro. Por meio dessa legislação,
cada estado deveria fazer uma inspeção anual em
todos os carros e um dos itens a serem analisado é a emissão
de poluentes. O pesquisador afirma, entretanto, que apenas o estado
do Rio de Janeiro iniciou a implantação do sistema,
ainda que não esteja funcionando efetivamente.
Frota
cresce, poluição também
Ao observar as curvas de quantidade de poluentes emitidos ao longo
dos anos, Tomaz afirma que houve uma redução na
emissão de gases ao longo da década de 90. Ele acredita
que a redução ocorreu em decorrência da legislação
e da popularização dos veículos a motor bicombustível
(os chamados “flex”), que permite que o motor funcione
tanto com gasolina como com álcool.
Apesar
de a curva estar atualmente estável, Tomaz espera aumento
da emissão de poluentes gerados por veículos, devido
ao crescimento da frota. A média de aumento na quantidade
de carros nos últimos anos foi de 6% ao ano. “Por
um lado, estamos reduzindo o volume de poluição
por unidades de veículos, por outro, temos o crescimento
do número de unidades emissoras de poluentes. O crescimento
da poluição provocada por veículos é
uma questão de tempo”, conclui o pesquisador.