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Pesquisas em malária precisam de
dez vezes mais investimento

A R&D Malaria Alliance, organização que reúne líderes e representantes de 15 instituições de pesquisa e desenvolvimento em malária, divulgou este mês um relatório que alerta para o subinvestimento em pesquisa sobre a doença. Segundo dados do relatório, o investimento em pesquisa em malária deveria ser dez vezes maior, se considerado o impacto da doença nas pessoas e países atingidos.

O relatório é baseado em informações colhidas eletronicamente em 79 instituições de 20 países e referem-se ao ano de 2004. O questionário foi mandado por e-mail em maio de 2005, e as respostas colhidas em julho. O estudo calcula que o investimento em pesquisa em malária chegou a US$ 323 milhões em 2004, e aponta um crescimento anual de 8,3% desde 1993, mas considera o valor ainda muito aquém do necessário para evitar as cerca de um milhão de mortes anuais. Todo ano 500 milhões de pessoas são infectadas pelo protozoário, e as vítimas são principalmente crianças africanas.

O relatório destaca que em 2001, o investimento total com pesquisa e desenvolvimento de medicamentos chegou a US$ 105,9 bilhões, segundo o Fórum Global para Pesquisas em Saúde (GFHR), a grande maioria vinda de países mais ricos, e aplicada em pesquisas sobre doenças que atingem suas populações. Malária, tuberculose e dengue, doenças mais freqüentes em países pobres, recebem menos investimento.

Para calcular o impacto da malária, foi usada uma unidade de medida da carga da doença: o chamado DALY (disability-adjusted life-years), um indicador do tempo vivido com a deficiência e o tempo perdido devido à morte prematura. O resultado foi comparado a outras doenças. O investimento por DALY em malária é de US$ 6,2, enquanto doenças cardiovasculares e diabetes recebem US$ 63,45 e US$ 102,07 por DALY, respectivamente. O investimento médio, para as doenças em geral, é de US$ 71,07. O total angariado pela pesquisa em malária recebe hoje aproximadamente 9% do investimento que receberia (US$ 3,3 bilhões anuais), se a média de investimento fosse considerada, coloca o relatório.

Em termos percentuais, o relatório aponta uma carga maior para a malária do que para outras doenças citadas, porque, segundo os autores, a malária atinge desproporcionalmente os mais jovens, e a morte de um jovem conta muito mais anos em perdas de vida produtiva do que a morte de um indivíduo mais velho. Malária é a principal causa morte em crianças com até cinco anos na África, chegando a uma taxa de mortalidade de 20% nesse grupo.

Cláudio Tadeu Daniel Ribeiro, Chefe do Laboratório de Pesquisas em Malária do Instituto Fiocruz, concorda que a doença recebe menos verbas do que o necessário. “A malária ainda é uma doença de gente pobre, de uma parcela da população com menor expressão”, comenta. No Brasil, por exemplo, ela é concentrada na região amazônica. O pesquisador observa, porém, que o programa brasileiro de controle da doença é muito bem conduzido e conta com 30 mil postos na Amazônia para diagnóstico e tratamento precoce. “Por isso, nossa taxa de mortalidade é muito mais baixa e a morbidade [número de casos de uma doença em grupo populacional] é menor”, afirma.

Mas Ribeiro também destaca duas dificuldades no programa brasileiro. Uma é a descentralização das ações, ou seja, o controle é feito pelos municípios, que podem priorizar ou deixar de lado as ações de combate à malária. Outra é a própria natureza: “Não há como erradicar os mosquitos na Amazônia”, lembra.

Embora o Brasil priorize a luta antivetorial, o relatório da R&D Malaria Alliance aponta uma outra tendência: 60% das instituições pesquisadas disseram que direcionam todo ou quase todo o recurso para a pesquisa e desenvolvimento, mas poucas também usam as verbas para controle e prevenção. Seis categorias de pesquisa foram destacadas: o desenvolvimento de drogas antimalaria (37% do investimento), o desenvolvimento e os testes com vacinas (24%), a pesquisa de implementação (17%), a pesquisa básica (16%), a pesquisa para controle do vetor (4%), e o desenvolvimento para o diagnóstico da malária (menos de 1%).

A Fundação Gates, do empresário Bill Gates, dono da Microsoft, anunciou em outubro a doação acima de US$ 250 milhões para pesquisas de combate à malária. Três projetos internacionais serão financiados em um período de cinco anos. O Malaria Vaccine Initiative terá US$ 107,6 milhões para realizar testes de vacina contra a malária em Moçambique. O grupo Medicines for Malaria Venture irá receber US$ 100 milhões para desenvolver medicamentos mais baratos. E a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Liverpoll receberá cerca de US$ 50 milhões para estudar novas formas de controle do mosquito vetor. Em 2004, sua contribuição foi de US$ 77,6 milhões.

Atualizado em 21/11/05
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