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Curativo pode reduzir custo e melhorar
tratamento de queimaduras


De cosméticos a medicamentos para emagrecer, a
quitosana pode servir também como matéria-prima de curativos para auxiliar na regeneração da pele. Pensando em diminuir o custo dessas membranas, a pesquisadora da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Paula Dallan, transformou a quitosana - polímero natural encontrado na casca de crustáceos, insetos e aranhas - em filmes de recobrimento para tratamento de pele lesada por queimaduras. Elas ocupam o terceiro lugar entre os acidentes que mais ocorrem no mundo.

Resíduos da indústria da pesca são a base do curativo para queimaduras. Créditos: Paula Dallan

A engenheira explica que o valor dos curativos (entre US$ 2 e US$ 30 a unidade) e a necessidade de troca durante o tratamento elevam o custo da terapia. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) gastou R$55 milhões com queimados em 2000. Existem cerca de 120 membranas disponíveis no mercado e a maioria é importada. A pesquisa baixou em 42% o custo de produção dos curativos, considerando apenas os valores da matéria-prima, nos quais não estão incluídos gastos com pesquisa, desenvolvimento de equipamentos e impostos.

Em um trabalho multidisciplinar que envolveu o Instituto de Biologia e a Faculdade de Engenharia Mecânica da universidade e outras instituições, como a empresa Acecil Central de Esterilização Comércio e Indústria Ltda. e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), Dallan procurou desenvolver uma membrana flexível e elástica, que oferecesse conforto, oxigenação adequada do ferimento e manutenção da umidade.

Há formas e opções variadas para se tratar queimaduras, mas curativos para esses casos devem apresentar características especiais. Segundo a pesquisadora, a lesão gera perda de líquido e o organismo torna-se mais vulnerável a infecções. Portanto, as preocupações essenciais referem-se à proteção contra o ataque microbiano e à passagem do vapor d’água e do ar.

Foram analisadas as características físicas (como espessura, grau de hidratação), mecânicas (resistência e ductilidade) e biológicas (adesão e proliferação celular) das membranas densas (existem também as porosas) e, após várias tentativas de combinar a quitosana com glicerol (um plastificante), e quitina (quitosana não-processada), a pesquisadora concluiu que a membrana do material puro, apesar de encarecer o produto, adequava-se melhor à utilização de curativos para queimaduras em comparação com as outras formulações.

Outra característica estudada foi a degradação do filme. Para tanto, foram desenvolvidas membranas que praticamente não se decompõem em ensaios com lisozima, enzima que quebra as moléculas de quitosana. Os testes de laboratório indicaram que o material possui uma degradação muito lenta, perdendo apenas 15% de sua massa após dois meses na presença da enzima, o que garante mais durabilidade ao produto. “Há casos que necessitam de material que não se degrade, como em próteses ortopédicas", justifica a pesquisadora.

Depois dessas análises, o estudo prossegue com a avaliação de novas formulações de membranas e com testes em tecidos de animais vivos para verificar se a membrana desenvolvida tem aplicação efetiva.

Destruição de germes
Como biomaterial, a membrana deve ser esterilizada e esse é outro aspecto novo do estudo. Ângela Moraes, orientadora do trabalho, afirma que há relatos de processos para esterilização de membranas à base de quitosana, mas tais processos podem afetar as características das membranas e, em outros casos, não está claro como se pode reproduzir o processo. Assim, depois de testar três técnicas, Dallan concluiu que o uso do gás óxido de etileno foi o mais eficiente para manter as características da membrana.

A engenheira também aponta que o desenvolvimento das membranas é o maior desafio para a aplicação em escala industrial. Outros filmes de quitosana para queimaduras existem na Rússia e na China, mas sua comercialização é ainda bastante restrita.


Quitosana: material para toda obra

Redutor de colesterol, de peso e de ácido úrico, bactericida, antiviral, estabilizante de frutas e verduras. As aplicações da quitosana são as mais diversas nas áreas da saúde, da nutrição e da indústria. Esse polímero natural biodegradável pode ser obtido nas formas de gel ou de membranas. Além dessas vantagens, a quitosana apresenta propriedades cicatrizantes e antimicrobianas (bactericida e fungicida). Mas apesar de ser atóxica, ela não é recomendada a quem tem alergia a crustáceos. São deles que a indústria retira a quitina, transformada em quitosana por um processo chamado de desacetilação.

Atualizado em 08/11/05
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