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Grupos buscam melhorar a qualidade de vida de pacientes em fase terminal


A medicina tem como princípio básico buscar saúde e bem estar dos indivíduos e conta com os avanços tecnológicos para desenvolver novas formas de tratamento e cura. Em casos de pacientes terminais ou portadores de doenças incuráveis, o uso da tecnologia pode levar a desconfortos e efeitos colaterais questionáveis, sem resultados positivos. Nesses casos, os cuidados paliativos são uma alternativa, já que minimizam a dor do paciente em prol da qualidade de vida. Esse serviço é realizado atualmente em 30 hospitais brasileiros, a maioria por grupos de profissionais nas áreas de medicina, enfermagem, psicologia, fisioterapia, nutrição e assistência social. Muito mais que o fornecimento de analgésicos, oxigênio e soro, os cuidados paliativos levam ao paciente e sua família conforto e acompanhamento físico, psicológico, social e espiritual.

O Hospital do Câncer IV, do Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro, especializado nesse serviço faz em média 250 internações domiciliares por dia. Nesse sistema, o paciente é tratado em casa, e vai ao hospital para consultas a cada 15 dias. A equipe médica faz visitas aos pacientes que não podem se locomover até o hospital e existem 50 leitos para internação em casos mais graves. De acordo com os especialistas, a qualidade de vida do doente que sai do ambiente hospitalar e volta para suas atividades diárias, em contato com sua casa, família e amigos é melhor.

Cuidado neonatal
Esses cuidados não ficam restritos à oncologia. O Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) possui uma equipe que, desde 2002, acompanha os bebês que nascem com problemas como má-formação, insuficiência respiratória e são encaminhados para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A família passa o maior tempo possível ao lado do recém nascido, e em alguns casos leva-o para casa. Existe acompanhamento psicológico para os pais e reuniões de família após o óbito. Entre janeiro de 2003 e setembro de 2005, mais de 130 recém-nascidos foram atendidos e 40% das famílias aceitaram auxílio. De acordo com Sílvia Monteiro da Costa, médica responsável pelo grupo, esse número é expressivo, pois muitas vezes é nessas reuniões que os pais entendem a morte do bebê.

No Caism também atua, há mais de dez anos, uma equipe de cuidados paliativos na enfermaria de oncologia, cujo trabalho já foi tema da tese de doutorado da oncologista Nancy Mineko Koseki, em 2002. A pesquisadora propôs a capacitação de profissionais de saúde de cidades da região, para que os casos considerados primários (sem necessidade de cirurgia ou internação) fossem cuidados por agentes municipais, encaminhando para o Caism apenas os mais complexos. A dificuldade encontrada pelo hospital era, além de atender aos internos, fazer visitas domiciliares a pacientes residentes em outras cidades, pois isso desfalcava o corpo técnico da enfermaria e elevava os custos. O modelo foi implantado em quatro cidades, mas, de acordo com a pesquisadora, a descontinuidade política e a resistência dos profissionais de saúde impediram o prosseguimento da proposta. Esse trabalho foi premiado pelo laboratório farmacêutico Novartis no primeiro semestre de 2005.

A equipe do Caism atua com os internos do hospital, que atualmente ocupam seis, dos quinze leitos da enfermaria de oncologia. Os pacientes que recebem cuidados em casa são acompanhados pelo Serviço de Atendimento Domiciliar da prefeitura de Campinas, e totalizam mais de 300, representando 60% do total dos pacientes cadastrados nesse programa.

Em fevereiro deste ano foi fundada a Academia Nacional de Cuidados Paliativos que procura o reconhecimento dessa especialidade na área médica e sua viabilidade junto ao Sistema Único de Saúde (SUS). Embora ainda não sejam destinadas verbas diretamente para essa área, de acordo com a diretora do HC IV Claudia Naylor, os cuidados representam uma economia em internações e uso de aparelhos, além de disponibilizar leitos.

No dia 30 de outubro, véspera da comemoração do primeiro dia mundial de cuidados paliativos, a prefeitura de São Paulo fechou uma casa dedicada a estes cuidados alegando necessidade de redução de custos e baixa demanda de pacientes (39) desde junho de 2004, quando foi inaugurada. Segundo depoimento da superintendente do Hospital do Servidor Público Municipal, Érica Letícia Rodrigues, publicado no jornal Folha de S. Paulo (08/10/2005), a prefeitura dará assistência domiciliar aos pacientes, que poderão receber os cuidados também na enfermaria deste hospital.

Mesmo com os avanços da tecnologia, a previsão da OMS é que, até 2015 surgirão 15 milhões de novos casos de câncer por ano, e nove milhões de mortes. A medicina deve estar preparada para atuar em cuidados paliativos, mas para isso é preciso investimento. “Para ampliar o serviço de cuidados paliativos no Brasil, só depende de vontade política” - conclui Claudia Naylor.


Sem esperar o governo

Um projeto idealizado por missionários da igreja católica pretende erguer em Campinas até 2007 um centro para pacientes terminais, através de doações da comunidade e de empresas. O Centro de Terapia da Dor e Cuidados Paliativos Lotedhal (que em aramaico significa “não temas”) vai comportar 40 leitos, 60% deles para pacientes do SUS e conta, desde já, com trabalho de voluntários que receberão treinamento e capacitação. A obra está em andamento há dois anos, em um terreno próximo ao Santuário Nossa Senhora Desatadora dos Nós e, apesar de ser de iniciativa católica, não excluirá pacientes de outros credos.

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Atualizado em 10/11/05
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