Brasileiros
debatem gestão de inundações
em evento na África
As chuvas características do verão brasileiro costumam
agravar a incidência de inundações, o aumento
de deslizamentos e a erosão de zonas costeiras, causando
mortes, prejuízos e disseminação de doenças.
Para minimizar esses danos, desde 2003, o Núcleo Integrado
de Bacias Hidrográficas (NIBH), da Escola de Engenharia
de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo,
trabalha no projeto “Gestão de Risco de Inundações
Urbanas”, com um sistema de alerta antecipado para cheias
rápidas e de alta intensidade, muito comuns no período
de chuvas no Brasil. Em 2006, o núcleo organizará
uma sessão especial sobre o tema em Botswana, na África,
em evento organizado pela International Association of Science
and Technology for Development (IASTED).
O
projeto “Gestão de Risco de Inundações
Urbanas” aborda três etapas: previsão e prevenção
(antes da ocorrência de chuvas), programa de alerta e controle
(durante a ocorrência) e reabilitação/recuperação
das áreas atingidas pela inundação. Os pesquisadores
monitoram permanentemente as variáveis meteorológicas
usuais, como pressão, temperatura e umidade relativa em
um determinado terreno. A partir da abordagem do clima local,
é estimado a quantidade de chuva que poderá precipitar
em instantes subseqüentes ao monitoramento. Dessa forma,
é possível ter uma noção de quanta
vazão poderá escoar pelos rios e/ou canais urbanos,
dando uma idéia dos diferentes níveis de perigo
de inundação.
De
acordo com Pedro Caballero, pesquisador do NIBH e coordenador
regional adjunto da Defesa Civil do Estado de São Paulo
(Região Central), com um sistema de alerta antecipado para
enchentes, a Defesa Civil poderá isolar e evacuar uma área
específica com até duas horas de antecedência
(utilizando recursos existentes e disponíveis no Brasil),
evitando perdas econômicas e humanas em áreas de
risco.
O
projeto de gestão desenvolvido pelo NIBH pode ser útil
para prefeituras que não contam com sistemas simples de
previsão de chuvas e sem preparo algum para enfrentar os
problemas causados pelas inundações, tendo grandes
prejuízos, já que os custos de reabilitação
e recuperação após inundações
são, em média, trinta vezes maiores que os custos
de investimentos em prevenção antecipada. “A
abordagem das prefeituras municipais e governos estaduais a respeito
das inundações é circunstancial: são
medidas paliativas que não solucionam o problema”,
conta Caballero, ao enfatizar que as atenções ainda
ficam concentradas no controle quantitativo das enchentes ou inundações
(medidas estruturais) e não nos aspectos qualitativos da
água e nas medidas não estruturais, como seguros,
capacitação da comunidade, alerta antecipado e previsão
de inundações.
No
Brasil, observa-se que não há uma cultura de prevenção
de inundações. “Isso vem dos costumes estabelecidos
no país desde a colonização: ocupação
de várzeas, fundos de vale, margens de rios e o desrespeito
à tradição oral dos ancestrais e indígenas
sobre o comportamento do meio ambiente”, acredita Caballero.
Uma
pesquisa do IBGE mostrou que, entre 2000 e 2002, 2.263 municípios
brasileiros (41% do total) declararam ter sofrido algum tipo de
alteração ambiental que afetou as condições
de vida da população: 16% tiveram deslizamento de
encosta e 19% sofreram inundações. Dos municípios
que sofreram alteração ambiental por causa de inundação,
a maioria encontra-se na região Sudeste (48%), seguido
pela região Sul (23%), Nordeste (16%), Norte (8%) e Centro-Oeste
(5%). Em São Carlos, interior de São Paulo, cada
inundação que ocorre no centro da cidade tem um
custo médio de R$ 300 mil a R$ 500 mil.
Segundo
a Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO), o mundo foi alvo
de 600 inundações nos últimos dois anos e
meio, que mataram cerca de 19 mil pessoas e causaram prejuízos
de US$ 25 bilhões – excluindo o tsunami de dezembro
na Ásia, que matou mais de 180 mil. Caballero diz desconhecer
países com um contexto de preparação e prevenção
total contra inundações em todos os municípios
e regiões de risco, mas lembra que “existem países
com ações efetivas e modificadoras em áreas
específicas de bacias e micro bacias ou municípios,
com retornos muito confiáveis e que devolvem a dignidade
humana aos cidadãos e ao meio ambiente, como a Costa Rica
(bacia Rio Uruca), os EUA (estado do Texas), a Espanha (bacia
do Guadalquivir) e a maioria das regiões de risco do Japão”.