Sítio
arqueológico sugere interação entre povos indígenas
O estudo dos materiais arqueológicos encontrados na região
de Araraquara, no interior de São Paulo, está possibilitando
a investigação sobre a interação cultural,
no passado, entre povos indígenas de diferentes etnias.
A cerâmica encontrada na região não se enquadra
na classificação arqueológica mais corrente,
que tende a relacionar uma determinada cultura material a uma
etnia. “Na região, encontramos material ligado à
tradição Tupiguarani e à tradição
Aratu, esta última, ligada aos povos de língua jê.
Questionamos o monolitismo [rigidez] dessa nomenclatura e trabalhamos
com a idéia de que as fronteiras entre essas duas ‘culturas’
não são tão rígidas como muitos arqueólogos
acreditam”, explica Solange Schiavetto, doutoranda em história
pelo Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE) do Departamento
de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O NEE vem realizando pesquisa arqueológica nos rios Médio
Mogi-Guaçu e Médio Jacaré-Guaçu, na
região de Araraquara.
Para
a pesquisadora, a classificação arqueológica
utilizada para estudar cultura material trata os povos como se
eles vivessem isolados, sem interação. “A
idéia não é criar uma nova classificação,
e sim questionar as classificações já colocadas.
No sítio em que estamos trabalhando, a análise laboratorial
e a comparação com material de outros sítios
já escavados poderão apresentar elementos que proponham
a interação entre indígenas tupis e não
tupis”, afirma Schiavetto.
Fragmentos
em arenito com sulcos evidentes, que demonstram uso para confecção
de instrumentos. Foto: Rafael de Abreu e Souza
O interesse
pela região surgiu quando a historiadora verificou a escassez
de pesquisas sobre os povos indígenas da área. “Comecei
a observar que a região de Araraquara, apesar de ser fértil
em sítios arqueológicos, não é uma
região sistematicamente pesquisada. Aqui, há um
hiato em termos de povos indígenas. Os pesquisadores não
conhecem as etnias dos povos que habitavam a região”,
explica.
A partir da
década de 1990 é que a região começou
a ser mais estudada, principalmente pela chamada arqueologia de
contrato, que não é feita pela universidade, mas
por empresas contratadas por empreendedores para analisar o risco
de impacto arqueológico antes de se iniciar uma construção.
Nas etapas
de levantamento foram descobertos doze sítios arqueológicos
na região: dez sítios cerâmicos e dois líticos.
Os cerâmicos estão mais ligados aos povos horticultores
e o sítio mais antigo tem 1200 anos. Os líticos
são os sítios de caçadores coletores e portanto
são mais antigos, remontam há 4 ou 5 mil anos. Além
disso, foram encontradas várias ocorrências isoladas
de material.
Após
a análise laboratorial do material encontrado e a coleta
e análise de materiais de um outro sítio arqueológico,
Schiavetto pretende montar uma exposição na cidade
no início do ano que vem. O material coletado será
depositado no Museu Histórico e Pedagógico Voluntários
da Pátria de Araraquara.
Araraquara quer construir um Museu de Paleontologia
Além dos sítios arqueológicos, Araraquara
conta com fósseis paleontológicos: pedras
com pegadas de dinossauros. Por essa razão, a prefeitura
da cidade firmou parceria com a Universidade de Gênova,
na Itália, para criar um Museu de Paleontologia.
Para conhecer o potencial do município, nesse mês,
a arquiteta e pesquisadora italiana Alicia Devoto está
realizando um mapeamento dos sítios de paleontologia
e arqueologia existentes. A prefeitura está em busca
de recursos e parcerias com outros museus para a troca de
materiais a fim de criar o museu o quanto antes. |