Brasil ratifica tratado
internacional para
controle do tabaco
O Brasil ratificou sua adesão na Convenção-Quadro
de Controle do Tabaco no último dia 27. Trata-se do primeiro
tratado internacional de saúde pública, proposto
durante quatro anos pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), para o controle do tabaco. Já haviam
assinado o tratado 168 países dos quais 86 já o
ratificaram, incluindo a China, o maior produtor mundial de tabaco.
O Brasil foi o segundo a assiná-lo, mas a aprovação
do Senado, com a conseqüente ratificação, só
ocorreu faltando 11 dias para esgotar o prazo estipulado pela
OMS.
A Convenção quer fornecer mecanismos,
técnicos e financeiros, para promover ações
que permitam um maior controle do consumo do tabaco, tanto no
contexto nacional quanto internacional. Outra meta é tornar
estes mecanismos acessíveis aos países em desenvolvimento,
mais vulneráveis à indústria do fumo, pela
dependência econômica que lhes causa e, portanto,
urgentes. Para Mário Albanese, presidente da Associação
de Defesa da Saúde dos Fumantes (Adesf), o tratado busca,
dentro da perspectiva da saúde pública, dar apoio
ao fumante, para que esteja melhor informado e consciente para
parar de fumar.
O Senado Federal brasileiro demorou a tomar uma
decisão sobre a ratificação do tratado, uma
vez que os Ministérios estavam divididos. O Ministério
da Saúde já havia notificado seu posicionamento
favorável ao tratado internacional, já que visa
proteger as atuais e futuras gerações das conseqüências
do consumo de cigarro, enquanto o Ministério da Agricultura
mantinha uma posição cautelosa quanto à adesão,
juntamente com o Ministério da Fazenda, principalmente
no que se refere às possíveis perdas econômicas
que poderão ocorrer já que, segundo a Associação
dos Fumicultores do Brasil (Afubra), 2,4 milhões de pessoas
sobrevivem do fumo no país, das quais 900 mil estão
apenas nas plantações.
Contra a ratificação da Convenção
por parte do governo estava a indústria do fumo - o Brasil
é o maior exportador de fumo em folha do mundo, com 85%
da sua produção para exportação -
que é avessa a qualquer regulamentação da
produção do fumo por parte do governo. O temor são
os prejuízos que a redução do consumo do
tabaco poderá lhes trazer e, consequentemente, para a economia
nacional, já que a safra 2003/04 rendeu mais de R$ 3,6
bilhões, segundo dados da Afubra.
Os antitabagistas discordam. Eles afirmam que
a redução do consumo de tabaco demorará a
ocorrer, uma vez que o produto causa dependência, e muitos
fabricantes de tabaco fazem parte de multinacionais, que levam
seus lucros para fora do país. Eles enfatizam ainda que
a não ratificação da Convenção
poderia prejudicar os produtores de tabaco já que não
teriam acesso aos benefícios para buscar uma alternativa
ao cultivo do fumo.
Além das cerca de 200 mil mortes anuais
no Brasil que o tabagismo causa, Albanese lembra que a indústria
do fumo também contribui para prejudicar o meio ambiente,
pois possui cerca de 110 mil fornos para a secagem do tabaco,
todos alimentados por madeira retirada por meio de desmatamento
predatório.
Entre as medidas para o controle da produção
e consumo de tabaco, a Convenção prevê medidas
educativas, a proibição de propaganda e promoção
do produto, aumento de impostos sobre o cigarro, eliminação
de contrabando, divulgação de imagens de advertências
nos maços, entre outras. Cabe ressaltar que o Brasil já
cumpre várias propostas do tratado já que possui
uma legislação bastante avançada para controle
do tabagismo e que resultou em uma redução de 32
% para 18,8%, entre 1989 e 2003, no índice de fumantes
na população, segundo dados do Instituto Nacional
do Câncer.
Com a aprovação do Senado, o Brasil
poderá participar da primeira Reunião da Partes,
marcada para fevereiro de 2006, e que discutirá, entre
outras coisas, o financiamento para a substituição
do cultivo do fumo por outras culturas, para minimizar o impacto
que as medidas terão sobre os trabalhadores e produtores
de tabaco.
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de guerra com a indústria do fumo