Versão
solar de motocicleta elétrica
é testada no Brasil
Pesquisadores
do Laboratório de Energia Solar (Labsolar) e do Laboratório de Eficiência
Energética em Edificações (Labeee), da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC), estão trabalhando no projeto de uma motocicleta
econômica, de baixo custo, que não produz ruído e não
emite gases poluentes. O protótipo da primeira motocicleta movida à
energia solar, batizado de Mobilec, tem design parecido a uma versão comum
e foi produzido pela filial suíça da empresa norte-americana Sytrel
International Inc. Os testes preliminares de desempenho apontam a Mobilec como
o veículo com maior capacidade de subida em rampa inclinada entre todas
as motocicletas movidas a energia elétrica do mundo.
A
empresa suíça, na busca por uma parceria no Brasil, foi indicada
pelo Greenpeace a procurar os pesquisadores da UFSC, para trabalhar em uma versão
solar da motocicleta elétrica que eles já fabricavam. O protótipo
da motocicleta pode ser visto em frente ao Centro de Cultura e Eventos (CCE) da
universidade, onde foi instalada uma estrutura com seis painéis solares
fotovoltaicos usados para captar energia solar e transformá-la em energia
elétrica. A cobertura fotovoltaica integrada ao prédio do CCE é
curva e sua estrutura utiliza aço galvanizado com uma pintura chamada de
eletrostática, que evita a corrosão. "O fato de ela ser curva
tem por objetivo deixar a estrutura visualmente mais leve e mostrar que os módulos
solares são flexíveis, podendo ser colados em qualquer superfície,
contanto que esta seja lisa", diz a arquiteta Clarissa Zomer, do Labeee.
A
Mobilec é movida por oito baterias que podem ser recarregadas
tanto por estruturas semelhantes aos painéis fotovoltaicos quanto pela
própria rede elétrica de uma residência. Além disso,
ela possui um diferencial em relação às motocicletas elétricas
já utilizadas na Europa: um sistema de freio chamado de regenerativo, que
realimenta as baterias a cada freada. Quando o sistema interpreta, pela aceleração
em posição neutra, que a motocicleta continua se movimentando por
energia cinética (ou seja, pela inércia do movimento gerado por
aceleração anterior), o motor se torna, através de um chaveamento
elétrico, um gerador capaz de recarregar as baterias pelo instante de tempo
em que o veículo permanecer em movimento. "É como soltar um
carro na descida de um morro. Ele se movimenta sozinho e por isso, teoricamente,
seria capaz de produzir gasolina [ou a energia equivalente ao seu consumo], no
lugar de consumir", explica o engenheiro de produção elétrica
Marcelo Monteiro Dacoregio, do Labsolar.
Ainda
não há dados definitivos sobre o desempenho da Mobilec, mas os pesquisadores
já calculam que o quilômetro rodado deve ter um custo mais baixo
do que o dos veículos que utilizam combustíveis fósseis,
como a gasolina, o álcool e o diesel. Levando-se em conta a autonomia da
motocicleta - capaz de rodar 40 km sem precisar de recarga nas baterias - e o
preço cobrado pelo quilowatt/hora (kWh) em Santa Catarina (cerca de R$
0,41), a energia necessária para um carregamento completo das baterias
teria um custo de R$ 0,02 por quilômetro rodado. "A esse número
ainda deve ser somado o custo da manutenção mecânica e elétrica.
Para isso, teremos que adquirir experiência no uso do equipamento",
pondera Dacoregio.
Para
se ter uma idéia, as motocicletas mais econômicas do mercado chegam
a fazer 70 km/l, o que a um preço médio de R$ 2,22 da gasolina -
segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) -
representaria um custo de R$ 0,03 por quilômetro rodado. A diferença
para a Mobilec pode parecer pequena, mas se torna considerável quando multiplicada
pelo número de quilômetros rodados, e em regiões onde o preço
do quilowatt é menor, como a região de Campinas (SP) - cerca de
R$ 0,35 - a economia seria ainda maior.
Após
os testes de durabilidade e eficiência elétrica e mecânica
da Mobilec, que roda apenas em baixa velocidade (no máximo 40 km/h), os
pesquisadores da UFSC ainda precisarão encontrar parcerias para financiar
a construção de uma linha de montagem para produção
em massa do veículo no Brasil. Como se trata ainda de apenas um protótipo,
que não teve os custos fixos e variáveis diluídos por uma
produção em escala industrial, o seu preço, a princípio,
ainda é elevado.
Originalmente
preparada para as normas de trânsito suíças, a Mobilec ainda
precisaria passar por diversas modificações para adequação
ao código brasileiro. "Fica difícil estimar um prazo para a
escala industrial de produção [no Brasil]", diz o pesquisador
do Labsolar, "mas pretende-se que ela custe menos que uma Honda Biz, por
exemplo", completa. De acordo com o site da Honda no Brasil, o preço
sugerido para o modelo Biz, o mais simples da categoria até 100 cilindradas,
é de R$ 4.436. Em outros países, além da Suíça,
as motocicletas elétricas também são produzidas industrialmente
na China e no Japão. O principal fabricante chinês, a Yongkang Jiashite
Tools Manufacture Co., exporta para os Estados Unidos, a Inglaterra, a Itália
a Espanha e para países do sudeste da Ásia.