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Planejamento deve incluir conhecimento amplo e diversidade do país

“Planejar inclui arte e ciência: muita ciência e alguma arte. Para isso, o planejador precisa de método”, defendeu o geógrafo Aziz Ab’Saber em palestra realizada durante a I Semana da Geografia, evento organizado por estudantes do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que terminou no dia 27 de outubro. As discussões em torno do tema central da apresentação - “O papel da Geografia nos processos de planejamento” - foram entremeadas por críticas aos governantes, demonstrações de preocupação com futuro profissional do jovem público e relatos de histórias de seus 81 anos de vida, completados no último dia 24.

Ab’Saber iniciou sua fala destacando o amplo espectro de áreas de conhecimento e escalas de análise com que a geografia lida e a importância desta diversidade para o planejamento. “O geógrafo, por si só, já possui uma grande interdisciplinaridade”. Segundo ele, essa interdisciplinaridade, no entanto, é ameaçada quando se tenta limitar a geografia apenas à área humana. “É preciso esquecer a dicotomia entre o ecológico e a geografia humana para planejar. Pensar o espaço total é fundamental para o geógrafo; sem essa visão não há como planejar”, afirmou o especialista.

Em relação ao planejamento do Brasil, Ab’Saber argumentou que os governantes deveriam pensar em três níveis de projeto: nacional, regional e setorial, este último relacionado ao que ele denominou como setores básicos de cada lugar: educação, saúde pública, saneamento básico, comunicação e cultura. “Como fazer um projeto nacional sem conhecer a diversidade do país?”, questionou, a fim de demonstrar a relevância dos outros dois níveis de análise.

O modo como a viabilidade de projetos é normalmente avaliada, foi outro ponto criticado. Segundo Ab’Saber, o planejador se limita a pensar nas viabilidades técnica e econômica, quando deveria incluir também na avaliação outras dimensões, como as viabilidades social, científica, jurídica e ética. “Ética com a natureza e com a sociedade”, ressaltou. Para exemplificar como a restrição às análises de viabilidade técnica e econômica pode resultar em planos equivocados, ele usou como exemplo a transposição do rio São Francisco, projeto do qual é um dos mais ilustres e ferrenhos opositores. “Os pobres serão atingidos e os ricos beneficiados”, lamentou, concluindo que a transposição é “um projeto ruim, mas eleitoreiramente fantástico”.

Entre as propostas de planejamento apresentadas pelo palestrante está um projeto para a Amazônia recém elaborado. O objetivo seria reunir um grupo interdisciplinar de pessoas que estudam a Amazônia para discutir um método de planejamento para cada uma de suas distintas regiões, as quais denominou células espaciais (com extensão entre 150 a 170 mil km2 cada). De posse deste método, seriam organizadas equipes formadas por alunos de pós-graduação e técnicos, cada qual responsável por pesquisar algumas células espaciais e ouvir as expectativas da população local. Os levantamentos feitos pelas equipes serviriam de base para se pensar em planejamentos específicos para cada área. Esta proposta, de acordo com ele, foi encaminhada ao atual governo federal, mas não obteve resposta.

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Atualizado em 04/11/05
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