Livros
paradidáticos sobre genética e evolução são produzidos no Brasil
Transgênicos,
clones, evolução versus criacionismo. Estes temas
estão muito presentes na discussão pública
sobre ciência, caracterizada por um alto nível de
desinformação. Uma tentativa de remediar essa falta
de conhecimento está na iniciativa, por parte de duas editoras,
de produzir coleções dirigidas ao público
jovem. As contribuições mais recentes foram lançadas
durante o 51º Congresso da Sociedade Brasileira de Genética,
que ocorreu em Águas de Lindóia no final de setembro:
os livros DNA, e eu com isso? e Evolução:
o sentido da biologia.
Francisco
Salzano, presidente da Sociedade Brasileira de Genética
e professor emérito do departamento de Genética
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é
responsável pelo primeiro livro, o segundo volume da série
Inventando o Futuro, da Oficina de Textos. A programação
gráfica segue o modelo de livros escolares, com muitas
cores, ilustrações e exemplos facilmente acessíveis.
Como é essencial em livros paradidáticos, no entanto,
o conteúdo vai além do currículo escolar.
O texto é sempre escrito de forma clara, mas atinge conceitos
e exemplos que não estarão ao alcance imediato de
todos. Essa amplitude parece ser intencional pelo autor, que não
define um grupo etário alvo: “O livro é para
jovens”, diz Salzano.
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Diogo
Meyer e Charbel El-Hani autografam durante o Congresso de
Genética. Foto: Maria Guimarães |
O
livro traz uma boa revisão da história da genética
e explicações completas sobre conceitos e aplicações
da disciplina. Os últimos capítulos tratam de forma
didática e crítica a transgenia e a clonagem. Em
ambos os casos, o autor explica a ocorrência na natureza,
os benefícios e potencialidades para o ser humano, além
dos riscos e desafios éticos. Salzano contra-argumenta
de forma sistemática as críticas recorrentes contra
a produção de transgênicos e de clones, e
ao fim expressa sua opinião taxativa: “Qual a razão,
portanto, da histeria contra os produtos transgênicos? As
respostas só podem ser: conservadorismo feroz, posições
ideológicas contrárias às grandes companhias
multinacionais, medo irracional a tudo o que é novo ou
interesses econômicos de produtores de tecnologias ortodoxas”.
E ainda enfatiza que “princípios abstratos e crenças
religiosas equivocadas não podem se sobrepor ao direito
de pessoas enfermas receberem o máximo de apoio e conforto
oferecidos pela ciência e tecnologia”, numa clara
defesa da ciência em prol do bem-estar humano.
Já
a obra que trata especificamente sobre a Evolução,
quer contribuir “para que a evolução assuma,
no ensino médio brasileiro, um papel mais central do que
o tradicionalmente desempenhado”. “A iniciativa é
essencial neste momento, em que doutrinas criacionistas (muitas
vezes sob o disfarce do ‘design inteligente’) estão
invadindo a comunicação científica, tanto
no ensino como na mídia”, afirma Charbel Niño
El-Hani, pesquisador em educação e filosofia da
ciência do Instituto de Biologia da Universidade Federal
da Bahia (UFBA), que assina o livro em parceria com Diogo Meyer,
evolucionista do Instituto de Biociências da USP.
Meyer e El-Hani
conseguem, através de um texto fluente e despretensioso,
tornar claros os grandes conceitos evolutivos, considerados como
“o eixo organizador do conhecimento biológico”.
O leitor é apresentado às teorias de Darwin, de
seus precursores e seus sucessores, deixando claro que esta não
se trata de uma disciplina estática. Os autores usam os
mesmos exemplos de forma recorrente, o que dá coerência
à argumentação a respeito dos diversos aspectos
da evolução. Esses fios condutores permitem que
o leitor desenvolva seu próprio raciocínio evolutivo,
tocando inclusive em temas que costumam suscitar dúvidas
no público leigo, como é o caso da influência
da evolução em comportamento (inclusive humano),
de estudos genômicos e de criacionismo.
De
acordo com El-Hani, a editora está em busca de formas de
tornar o livro mais acessível a um grande público.
Uma medida será submetê-lo à aprovação
do Ministério da Educação para que seja integrado
ao projeto de bibliotecas públicas.