Seminário
internacional discute a economia das potências emergentes,
como o Brasil
A
economia mundial está passando por um período de
reordenação e, por isso, esse é o momento
de refletir sobre alternativas para um desenvolvimento sustentável.
Sob essa lógica está fundamentado o quinto Seminário
Internacional Alternativas à Globalização:
potências emergentes e os novos caminhos da modernidade,
que ocorrerá entre 8 e 13 de outubro, no Rio de Janeiro.
A ComCiência conversou com o organizador
do evento, Theotônio dos Santos, titular da Universidade
Federal Fluminense (UFF) e coordenador da Cátedra e Rede
Unesco sobre Economia Global e Desenvolvimento Sustentável,
conhecida como Reggen. De acordo com Santos, o Brasil é
uma economia emergente, com importante papel nesse processo de
reordenação mundial. O evento pretende fazer um
balanço dos rumos e das questões que evolvem a economia
mundial no ambiente intelectual e político brasileiro e
latino-americano. Cerca de 800 pessoas e 100 convidados são
esperados para participar do seminário, cuja programação
já está disponível.
ComCiência
- Qual é o papel do Brasil nessa reordenação
mundial?
Theotônio dos Santos - O Brasil é uma potência
em emergência, assim como a China, a Índia, a Rússia.
Chamo de “potências emergentes” porque são
grandes centros demográficos e geopolíticos. Com
a terceira revolução industrial, as escalas de produção
são cada vez maiores e grande parte desses produtos se
faz em dimensão global. Já o Brasil é um
país que pode ter um papel significativo regional. O vínculo
do país com o Mercosul na América Latina dá
ao Brasil uma importância - há um mercado potencial
significativo.
ComCiência
- Como o Brasil está hoje?
Santos - Atualmente, existe uma reação
forte tanto do povo, quanto do setor empresarial. Estamos criando
condições para alternativas para um crescimento
econômico. O Brasil tem um potencial de crescimento muito
grande, sobretudo na interação com a Amércia
Latina. A Argentina, por exemplo, é um país com
bom desenvolvimento: possui um dos melhores níveis de educação
do mundo e é um grande aliado. A Venezuela também
se fortificou com o ingresso na OPEP [Organização
dos Países Exportadores de Petróleo]. Os dois países
são importantes aliados na América Latina. Mas também
temos outros países fora que também podem ser aliados,
como grande parte da África, que tem grande quantidade
de recursos naturais. Vivemos essa aproximação também
com o Oriente Médio, em especial os países petroleiros.
Temos condições muito favoráveis para isso.
É
preciso desenvolvermos uma população com melhores
níveis de renda. O Brasil tem pouca resistência tradicional,
algumas iniciativas tomadas no governo atual mostraram bons resultados.
Podemos ter um papel como grande na reordenação
da economia mundial. Encontros como esse ajudam a criar uma base
de sustentação do conhecimento.
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Theotonio
dos Santos, coordenador da Reggen: Brasil tem importante papel
na reordenação da economia. Foto: divulgação
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ComCiência
- Algumas mesas do Seminário tratarão o tema de
ciência e tecnologia (C&T) e desenvolvimento sustentável.
Qual é o papel da C&T na reordenação
da economia mundial?
Santos - No debate sobre ciência e tecnologia,
queremos tomar as experiências da China, Índia, Rússia
como base do debate. Queremos apresentar e discutir os problemas
que eles enfrentam no sistema de C&T, como trasnferência
de tecnologia, inovação em condições
de menos recursos etc. A questão da biodiversidade também
é outro ponto importante. Temos uma grande biodiversidade,
e isso é uma vantagem no nosso sistema de ciência
e tecnologia em relação aos países centrais.
Também queremos com o debate repensar qual é o paradigma
científico e tecnológico atual? Há muito
debate também em torno da tecnologia que gere emprego,
que inclua, e não que gere desemprego. Até que ponto
existe um alternativa tecnológica que se preocupe com o
emprego? Sabemos que existe, mas como fica a competitividade mundial
na geração de tecnologia? Esses são alguns
pontos de debate.
ComCiência
- O Seminário contará com muitos representantes
da China. Qual a importância deste país no debate?
Santos - Estamos falando de uma “recentragem”
da economia mundial. A China em mais 5 ou 6 anos mais vai alcançar
o produto interno bruto dos Estados Unidos. Além disso,
tem em torno dela economias poderosas, como o Japão, a
Coréia do Sul, enfim, toda a região do sudeste asiático.
É importante
destacar que a China está em uma lógica de crescimento
que vai contra o desenvolvimento sustentável e atualmente
enfrenta graves problemas ambientais. Existem tentativas de reestruturação
da economia chinesa para reduzir a poluição e para
investir em inovação também para melhoria
do meio ambiente. Talvez com o tempo, a questão ambinetal
ganhe mais peso. Mas não tenho dúvida de que este
país vai ocupar cada dia mais um papel central, ainda que
a renda per capita seja muito baixa e a população
camponesa muito grande. A grande concentração demográfica
da China a transforma numa potência.
ComCiência
- E como ficam os Estados Unidos?
Santos - Os Estados Unidos têm que se preparar
para isso. O comércio americano tem caído, a moeda
americana está perdendo posição a cada dia
para o euro. O próprio iuane chinês já é
uma moeda usada para o comércio nos países da Ásia.
Claro que os EUA ainda são poderosos, mas eles estão
tentando conter essa queda econômica com uma politica militar.
Pela força não se pode deter uma decadência,
há reações cada vez mais fortes contra os
EUA – da Europa, do Oriente Média e da Ásia.
Os EUA têm que se preparar, como fizeram os ingleses após
a Segunda Grande Guerra.