Análises
espaciais podem auxiliar no planejamento de ações
contra a dengue
A
divulgação
de que o número de casos de dengue no país durante
o primeiro semestre de 2005 foi 70,75% superior ao registrado
no mesmo período do ano passado traz a preocupação
de haver nova epidemia da doença na recém-chegada
estação chuvosa. Entender e tentar prever como se
distribuem e difundem, no tempo e no espaço, os casos de
dengue é fundamental para se planejar ações
de prevenção e combate à doença. Embora
com enfoques, objetivos e escalas de estudo diferentes, duas pesquisas
desenvolvidas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) apontam
como a compreensão da dinâmica espacial da dengue
pode ser facilitada pelas análises possibilitadas por sistemas
de informação geográfica (SIG), programas
computacionais em que estão disponíveis diversos
tipos de operações analíticas e de suporte
a decisões baseadas em informações espaciais.
O município de Campinas (SP) conta com uma parceria entre
a Secretaria Municipal de Saúde, a Superintendência
de Controle de Endemias (Sucen) e o Núcleo de Estudos de
População (Nepo) da Unicamp para utilizar o SIG
no combate à dengue. O ponto de partida do projeto consiste
em situar em um mapa digital das ruas do município os locais
de residência das pessoas infectadas pela dengue. A partir
deste procedimento, denominado georreferenciamento (atribuição
de coordenadas geográficas ao dado para permitir localizá-lo
no espaço), um dos objetivos do estudo é integrar
as ações entre a Secretaria de Saúde e a
Sucen. “O SIG permite visualizar nos mapas, os locais onde
há surtos da doença e quais tipos de ações
foram tomadas em cada local”, conta Roberto Luiz do Carmo,
pesquisador do Nepo e coordenador do projeto. As informações
poderão ser então armazenadas e comparadas mais
adiante, quando surgirem novos casos.
A meta é que o SIG também seja usado para fazer
previsões, já que suas ferramentas analíticas
possibilitam cruzar essas informações com dados
socioeconômicos e ambientais e verificar quais fatores estão
relacionados à maior ou menor incidência de casos
de dengue. “Se neste ano percebeu-se que houve uma concentração
de casos em certo local e isso está relacionado com determinados
fatores, pode-se localizar outras regiões da cidade com
características semelhantes para concentrar as ações”,
exemplifica do Carmo. “A idéia é que esse
sistema seja preditivo e que resulte em ações do
poder público para andar à frente do problema e
não para, como se tem feito, correr atrás dele depois
que já está instalada uma epidemia”, afirma.
Análise regional da doença
Em sua tese de livre-docência, defendida no final de 2003,
Marcos César Ferreira, docente do Instituto de Geociências
da Unicamp, buscou modelar a difusão espacial e temporal
da epidemia dengue de 2001 entre os 109 municípios da região
de São José do Rio Preto (SP). “Do ponto de
vista regional, a epidemia de dengue tem um comportamento completamente
diferente em comparação à análise
local”, destaca. Na sua pesquisa, Ferreira mostrou que a
distância e o grau de conectividade entre cidades em função
da rede rodoviária são fatores fundamentais para
se entender a dinâmica espaço-temporal da doença.
“Na escala regional, os casos novos aparecem em um alinhamento
preferencial dos grandes eixos de movimento do espaço,
seguindo a circulação intermunicipal diária
de pessoas para trabalho, serviço e estudo”, explica
o geógrafo. A criação de consórcios
intermunicipais a fim de conter a propagação da
dengue é uma das sugestões dadas por Ferreira, a
partir dos resultados de seu estudo. “Ao invés de
realizar o combate em uma região determinada, ele seria
direcionado a municípios situados em posições
estratégicas da rede de transportes, associadas a roteiros
futuros da dengue”, propõe.
O estudo de Ferreira baseou-se na chamada “mapemática”
- união entre análises matemáticas espaciais
e cartografia temática possibilitada pelo SIG. De acordo
com Ferreira, a grande vantagem deste sistema é a rapidez
na consulta de dados que permite, já que as epidemias exigem
agilidade na tomada de decisões. “Mas isto não
significa que aquele que não usa o SIG está em condições
inferiores”, enfatiza referindo-se a maior rapidez que o
novo sistema proporcionará em relação aos
procedimentos utilizados anteriormente à criação
desta tecnologia.