Pesquisadores
avaliam a situação de conservação de pequenos mamíferos
Cerca
de 40 especialistas em pequenos mamíferos brasileiros se
reuniram entre os dias 16 e 19 de outubro em Aracruz, Espírito
Santo, para avaliar a situação de conservação
de mais de 400 espécies de roedores, marsupiais e morcegos
que ocorrem no Brasil, Suriname, Guianas, Uruguai e Paraguai.
A Avaliação Global de Mamíferos (GMA) é
uma iniciativa da União Mundial pela Natureza (UICN), no
Brasil em parceria com a Fundação Biodiversitas
e resultará na Lista
Vermelha internacional de espécies ameaçadas
de extinção. A reunião desta semana foi organizada
em conjunto com pesquisadores da Universidade Federal do Espírito
Santo, que organizaram também o III
Congresso Brasileiro de Mastozoologia (estudo dos mamíferos),
que terminou no último dia 16, no mesmo local.
O
projeto envolve mais de 10 mil cientistas e 180 países.
Segundo Wes Sechrest, coordenador da reunião, com a lista
vermelha a UICN pretende identificar e documentar as espécies
com necessidade de medidas de conservação, fazer
um índice global de degeneração da biodiversidade,
estabelecer um contexto global para prioridades de conservação
e fornecer informações de base para estudos e estratégias
conservacionistas.
Durante
o encontro, os especialistas se dividiram em grupos de trabalho
que discutiram cada espécie de roedores, marsupiais e morcegos.
As informações compiladas incluíram alterações
ou incertezas taxonômicas, mapas de distribuição,
biologia dos animais, preferências de habitat, ameaças
principais à espécie, medidas de conservação
necessárias e em curso, utilização pelo homem
e situação em outras listas vermelhas. François
Catzeflis, da Universidade de Montpellier (França), avalia
que cerca de 50 espécies descobertas recentemente foram
acrescentadas à lista da UICN, o que evidencia o avanço
no conhecimento sobre os mamíferos brasileiros. Ao todo,
foram avaliadas cerca de 220 espécies de roedores, 150
de morcegos e 50 de marsupiais. Após reunido todo o conhecimento
disponível, cada espécie foi classificada em categorias
que definem sua situação em termos de conservação.
De acordo com Yuri Leite, da Universidade Federal do Espírito
Santo (UFES), entre 15 e 20 roedores, 5 morcegos e 3 marsupiais
foram considerados sob algum grau de ameaça. Outra categoria
que reflete possível ameaça é a de “dados
insuficientes”, em que são classificadas espécies
sobre as quais não se tem informação suficiente,
mas há razões para crer que estejam correndo risco.
Nessa categoria caíram entre 15 e 20 roedores, 15 morcegos
e 4 marsupiais.
O
Rabo-de-facho vive em dunas às margens do rio São
Francisco e está ameaçado de extinção.
Foto: José Wellington dos Santos
Esse
tipo de avaliação global poderá nortear futuras
estratégias de preservação da biodiversidade
mundial. No entanto, diversos pesquisadores presentes no Congresso
Brasileiro de Mastozoologia manifestaram preocupação
com a elaboração de listas vermelhas. Muitos concordam
que as informações sobre a fauna brasileira são,
em muitos casos, extremamente escassas, o que torna as propostas
de conservação infundadas. Esta situação
é agravada pela atenção dada às espécies
ameaçadas, em detrimento daquelas sobre as quais quase
nada se sabe. Alexandre Percequillo, da Universidade Federal da
Paraíba, chamou atenção para o fato de que
a Fundação Biodiversitas abriu um novo edital para
financiar projetos com espécies ameaçadas. “Continuamos
sem verba para estudar o que não sabemos”, lamenta
o pesquisador.
Os
dados serão agora organizados na sede da UICN e conferidos
por uma comissão que avalia a coerência entre diversas
avaliações regionais. Em novembro os dados estarão
disponíveis para que os participantes da reunião
verifiquem as informações, que serão em seguida
reunidas com as demais avaliações regionais.
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