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Pesquisadores defendem a reintrodução de grandes mamíferos nas Américas

Há 13 mil anos, no fim do Pleistoceno, várias espécies de grandes mamíferos, como cavalos selvagens, bisões, camelos, tatus-gigantes, mamutes e preguiças gigantes, percorriam as savanas do Novo Mundo. Depois de uma extinção em massa (veja Box com hipóteses), esta megafauna desapareceu, mas poderá voltar a habitar os Estados Unidos e o Brasil, no que depender de alguns biólogos que sugerem uma nova forma de conservação, os chamados “Parques do Pleistoceno”. A proposta é polêmica no meio acadêmico, uma vez que esses animais poderiam introduzir novos problemas ambientais, como a competição entre espécies, a não adaptação ao clima e vegetação atual, além da acidificação do solo.

O biólogo Mauro Galetti, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, é o único brasileiro a abraçar a causa da reposição da megafauna perdida. Segundo o pesquisador o cerrado e o Pantanal estão cheios de anacronismos, que são características sem função aparente. Um exemplo são frutos grandes, que não podem ser dispersos por nenhuma espécie da fauna atual. Estes frutos seriam indícios da presença de animais de grande porte há 10 mil anos nesses ecossistemas e sua ausência atual traz problemas sérios, como a queda de diversidade genética em plantas que perderam seus dispersores de sementes e o aumento de grandes incêndios em regiões de cerrado. Os incêndios atuais, de acordo com Galleti, atingem proporções graves, longe das queimadas características do bioma. A causa seria a ausência de herbívoros que tornaria o capim abundante e, conseqüentemente, um eficiente combustível. A reintrodução de grandes herbívoros resolveria este problema.

Um primeiro passo seria utilizar animais que vivem em condições degradantes em circos, e transferi-los para fragmentos de cerrado que não sejam áreas de preservação. Seu projeto envolve apenas a introdução de herbívoros, cujas populações teriam que ser mantidas em baixíssimas densidades para evitar danos ao ecossistema. “Fazer o manejo dessas populações será a grande função dos biólogos e ecólogos no futuro”, afirma o pesquisador.

Nos Estados Unidos, proposta semelhante é defendida por um grupo de 12 pesquisadores liderados por Josh Donlan, da Universidade Cornell, que propõe restaurar populações de grandes vertebrados em regiões desabitadas da América do Norte. A proposta é utilizar espécies aparentadas das que lá um dia existiram para recompor a fauna original. Da África e Ásia sairiam animais pertencentes a uma cadeia alimentar completa: em um primeiro momento cavalos selvagens e camelos, e depois elefantes, guepardos e leões. A área seria cercada, para evitar problemas com humanos e manter o controle das espécies introduzidas. O projeto começaria em propriedades privadas, e depois seria estendido para extensos “parques ecológicos históricos”.

Uma grande diferença entre a proposta norte-americana e a brasileira está no objetivo. A maior motivação dos primeiros é salvar os animais africanos e asiáticos, únicos remanescentes de animais de grande porte no mundo, muitas vezes em estado depauperado de conservação. Mais do que isso, o projeto norte-americano se apresenta como uma visão alternativa para a biologia da conservação no século XXI. Segundo Harry Greene, co-autor do projeto, a expectativa é que esta proposta seja seguida, “diversificando esforços para a megafauna no âmbito global”. O brasileiro, ao contrário, defende seu projeto como um plano de manejo nacional do cerrado e do Pantanal. Além de ocupar nichos ecológicos vagos, que tornam os ecossistemas instáveis, Galetti acredita que a introdução de grandes animais pode ser uma alternativa econômica e ecologicamente viável às plantações de soja nessas áreas, na forma de turismo.

Críticas
Ambas visões suscitam reações ferozes. O projeto dos Estados Unidos tem sido criticado por tirar o foco de projetos de conservação locais na África e na Ásia. Além disso, muitos enfatizam que o melhor lugar para se preservar espécies animais é no próprio ambiente onde evoluíram.

Pesquisadores como a botânica Patrícia Morellato, da Unesp de Rio Claro, temem que a introdução de espécies exóticas no cerrado traga mais danos do que benefícios. Segundo ela, a presença de grandes animais causaria grandes estragos na forma de pisoteio e acidificação do solo através de fezes e urina. Para minimizar este impacto seria necessário um estudo da capacidade de suporte do bioma, defende a pesquisadora, antes de se tentar introduzir animais. Ao contrário do que acontece em savanas africanas, a oferta de frutos grandes no cerrado costuma ser limitada e muitas vezes é até bienal. Na ausência destes alimentos, os grandes animais dependeriam de frutos menores, competindo com espécies nativas. O mastozoólogo (especialista em mamíferos) Jim Patton, da Universidade da Califórnia em Berkeley, acrescenta que sempre que se tentou introduzir espécies exóticas como plano de manejo, os animais comeram itens diferentes do que se esperava e causaram desastre ecológico. Outro ponto de discórdia é a causa dos grandes incêndios no cerrado, apontada por Morellato como sendo de responsabilidade da influência humana.

“O que pode ser feito é observar os efeitos atuais da ausência de herbívoros para nortear projetos futuros de conservação”, sugere a botânica brasileira que alerta para os riscos de projetos de conservação mal-sucedidos, que causam danos irreversíveis.

Hipóteses para explicar a extinção em massa do Pleistoceno

Alguns especialistas defendem que as extinções foram graduais e em grande parte explicadas por mudanças climáticas que ocorreram por volta da era do Pleistoceno. Por outro lado, muitos apontam os humanos como os responsáveis pelo desaparecimento da megafauna, uma vez que a teriam caçado até serem exterminadas. Jim Patton acredita estar claro que os humanos tiveram um impacto sobre a fauna, mas que este pode ter sido simplesmente o golpe de misericórdia em espécies já debilitadas. Os proponentes do projeto de reintrodução da megafauna nos Estados Unidos acreditam que reparar os danos causados por nossos ancestrais é uma obrigação moral dos ecólogos modernos. Mas Patrícia Morellato acredita que a extinção pode ter sido natural. “É o curso da evolução: espécies aparecem, espécies desaparecem”, afirma.

 

Atualizado em 20/10/05
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