Sociedade
de Arqueologia Brasileira premia educação patrimonial
no Pará
Canaã
dos Carajás, situado no estado de Pará, é
um dos municípios que sofrem diversos impactos devido às
atividades econômicas da mineradora Vale do Rio Doce. Entre
estes, estão aqueles relacionados ao patrimônio cultural
brasileiro: diversos sítios arqueológicos já
foram localizados nas regiões onde a empresa atua. Para
impedir que o material seja destruído, a empresa deve cumprir
as determinações previstas nas leis 3.924/61 e 9.605/98
que, entre outros aspectos, protegem os sítios arqueológicos
. Entre as exigências legais, estão o desenvolvimento
de projetos de pesquisa arqueológica e de educação
patrimonial. Um destes projetos, desenvolvido em parceria com
o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e a Fundação
Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia (Fidesa), recebeu
o Prêmio Loureiro Fernandes, da Sociedade de Arqueologia
Brasileira (SAB), durante o XIII congresso da entidade, que aconteceu
em setembro.
Segundo Janice Souza Lima, educadora do Museu Goeldi, a demanda
pelo projeto começou em 2001 quando foi constatada a necessidade
de realização de um “salvamento arqueológico”,
que consiste na prospecção e documentação
do material arqueológico encontrado, basicamente composto
de cerâmicas indígenas. Em outubro do mesmo ano,
foi emitida pelo Iphan a autorização da pesquisa
arqueológica, quando iniciaram os trabalhos de prospecção
e salvamento sob a coordenação da arqueóloga
do Museu Goeldi, Edithe Pereira. Em 2002, foi iniciado o projeto
de educação patrimonial, com o objetivo de divulgar
e promover o conhecimento dos resultados obtidos junto a população
local. Segundo Lima, esse foi um diferencial que garantiu a qualidade
do projeto: “Geralmente os educadores são chamados
quando um projeto museológico ou arqueológico já
está concluído, o que acaba comprometendo seus objetivos”,
afirma. Para ela, a atividade educacional junto a população
deve perpassar todas as fases do trabalho da arqueologia, conforme
prevê a Portaria 230 do Iphan, demandando um planejamento
cuidadoso, o que foi possível realizar no caso de Canaã
dos Carajás.
O trabalho de Lima começou com um levantamento do perfil
da região impactada, marcada por um fluxo migratório
intenso desde a instalação da unidade da Companhia
Vale do Rio Doce. A população oficial em 2000, segundo
o IBGE, era de 10.922 pessoas, mas a educadora estima que este
número pode ter chegado a mais de 15mil após 2002.
A comunidade também enfrenta, até hoje, problemas
crônicos como analfabetismo, prostituição
e desemprego. Considerando tal situação, a equipe
elaborou um projeto que visasse contribuir com o desenvolvimento
local, atingindo a comunidade como um todo, e que reconstruísse
a memória de cada um dos grupos de imigrantes da região,
oriundos de diversas partes do país. Para isso, montaram-se
diversas oficinas de percepção cultural, uma delas
de produção de estandartes, onde os grupos eram
divididos por estados de origem e produziam um material representativo
da cultura do seu estado natal, relacionando-a em seguida com
a dos demais. Também aconteceram oficinas de artesanato
em cerâmica, que visavam a compreensão e a recriação
de novas peças, utilizando traços e desenhos típicos
do material arqueológico encontrado na região. As
atividades também envolveram o público infantil,
em parceria com as escolas da cidade, além de palestras
com especialistas e visitas a sítios arqueológicos
e museus.
Os resultados obtidos até agora geraram cinco publicações:
um relato sobre o projeto e a história da região,
incluindo entrevistas com os moradores, um gibi que explica os
princípios da arqueologia e as atividades desenvolvidas
na região, um pequeno manual sobre a cerâmica arqueológica
e o possível uso das grafias em produtos contemporâneos,
um livro com a história do povo indígena da aldeia
de Kanaí, oriundo de Pernambuco e atualmente vivendo na
região e um vídeo documentário com depoimentos
de diversos atores sociais envolvidos no projeto.