Iniciativas
para conter impactos ambientais começam a ser levantadas por cidades
As
populações urbanas consomem 75% das reservas naturais
mundiais, produzindo 75% de seu lixo, segundo dados da Organização
das Nações Unidas (ONU). Dessa forma, é necessário
que medidas para combater os efeitos das mudanças climáticas
sejam definidas de forma descentralizada, ou seja, pelas administrações
das próprias cidades e não em escala nacional. Essa
idéia está em discussão no interior de São
Paulo, em São Carlos. Uma carta enviada por um membro do
Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Comdema) a vereadores,
empresas e Ministério Público, quer acrescentar
na Planta Genérica de Valores (PGV), que estipula o preço
do IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana),
um valor referente ao impacto ambiental causado por um imóvel
que se reflita em diminuição ou aumento do IPTU.
O debate já é antigo no município, mas ganhou
destaque neste ano porque a prefeitura está revendo os
valores da PGV.
As equipes envolvidas com a mudança na PGV já enviaram
suas sugestões para a Câmara Municipal. “Eles
estão avaliando como proceder para incluir como uma nova
lei a partir de 2006”, explica o autor da carta, Eduardo
Mario Mendiondo, membro do Comdema e coordenador do Núcleo
Integrado de Bacias Hidrográficas (NIBH) da USP de São
Carlos. Na opinião dele, o efeito "impacto ambiental"
deveria ser considerado de forma imediata para as novas construções
e gradativa para os imóveis antigos ou já consolidados
em planta na prefeitura.
Eduardo Mendiondo ainda espera candidatar a São Carlos
a receber contrapartidas de mercados ambientais, como por exemplo,
o mercado de carbono, realizando o que chama de urbanização
inteligente. De acordo com ele, o passivo ambiental de São
Carlos gira em torno de R$ 2 a 3 bilhões hoje. A idéia
é que, em 2020, ocorra uma diminuição de
50% da dívida ambiental do município com as potenciais
contrapartidas de mercados ambientais que aderirem a um projeto
de urbanização inteligente.
A população pode diminuir os impactos ambientais gerados em
seu imóvel aplicando às construções dispositivos de
detenção e/ou retenção de água pluvial do lote,
fazendo um reaproveitamento da água e evitando inundações.
“O proprietário do imóvel, além de reaproveitar a água,
tem a possibilidade de reduzir a poluição difusa que acaba agravando
o problema de entupimento de bueiros e bocas de lobo. Reduz também o transporte
de substâncias contaminantes”, explica Mendiondo. A água, sugere
ele, pode ser reaproveitada para usos não potáveis, como lavagem
de calçadas e quintais, irrigação em jardins, hortas domiciliares
ou para dar descarga nos vasos sanitários do banheiro, como já é
feito na cidade de São Paulo. “Os dispositivos para essas medidas
são objeto de constante pesquisa nas universidades e sua execução
pode ser feita com mão-de-obra comum, junto com o acompanhamento de um
técnico da área”, completa ele.
Iniciativas
Mundiais
A descentralização de ações
no combate aos prejuízos causados ao meio ambiente também foi tema
de discussão da Conferência Mundial de Lideranças Municipais
sobre Mudanças Climáticas, ocorrida em Londres no início
de outubro. O encontro reuniu mais de 20 representantes de diferentes cidades
do mundo, que trocaram experiências bem sucedidas na tomada de medidas para
reduzir os danos ambientais em escala municipal.
A carta de São
Carlos se baseia em dados da Avaliação Ecossistêmica do Milênio,
iniciativa que reuniu 1360 especialistas de 95 países que, entre 2000 e
2005, a pedido do secretário-geral da ONU Kofi Annan, estudou futuros cenários
ambientais até o ano 2100. Assim, segundo o documento, o município
estaria mais preparado para enfrentar a penúria ambiental que marcará
a próxima década (2010 a 2020), porque a maioria das prefeituras
não terá investido o suficiente em projetos relativos à preservação
ambiental entre os anos de 2005 e 2020.