Muro
psicológico ganha espaço nas discussões sobre
resultado da eleição alemã
Quinze
anos depois da reunificação alemã, a 16ª
eleição no país, este ano, não deu
nem à CDU (União Democrata Cristã), nem ao
SPD (Partido Social-Democrata) votos suficientes para formarem
um governo independente. As eleições mostraram que
as populações da região ocidental e oriental,
mesmo após tanto tempo da queda do Muro de Berlim, ainda
têm percepções diferentes sobre a realidade
do país. “O muro de concreto caiu, mas ainda há
um muro psicológico”, afirma o cientista político
e secretário-adjunto de relações internacionais
da cidade de São Paulo, Christian Lohbauer.
Um
dos indícios que apontam essa diferenciação
é o resultado favorável do partido de esquerda que,
depois de 15 anos de resultados negativos, obteve quase 10% dos
votos nas eleições nacionais para o parlamento,
concentrados, principalmente, entre a população
oriental. Esse resultado evidencia, segundo Lohbauer, um fenômeno
novo. “A população oriental analisa sua falta
de perspectiva como resultado da tradição ocidental”,
explica. Mesmo com um investimento de um trilhão de dólares
em impostos transferidos da Alemanha Ocidental para a Oriental,
as oportunidades profissionais e a qualidade de vida ainda não
são as mesmas nas duas regiões do país.
Embora
a população oriental seja quatro vezes menor que
a ocidental, ainda há o dobro de desempregados na antiga
Alemanha socialista. No lado oriental, o nível de qualificação
da população é mais baixo e também
é menor a arrecadação de impostos e a taxa
de natalidade. Dessa forma, mais pessoas continuam a deixar a
região oriental em direção ao ocidente. Desde
a reunificação, a Alemanha Oriental perdeu cerca
de um milhão de habitantes, principalmente jovens em busca
de oportunidades de trabalho. Por outro lado, as transformações
no lado oriental são visíveis. A infraestrutura
foi renovada, as cidades saneadas. As pessoas têm acesso
a bens eletrônicos, carros, geladeiras, celulares e TV tanto
quanto no ocidente. E a ajuda financeira deve continuar, pelo
menos, até 2020.
De
acordo com Lohbauer, a população do lado oriental
tem certa nostalgia em relação ao comunismo, porque
nem todos se adaptaram ao capitalismo. “A população
mais jovem se identifica com um movimento de esquerda que nem
conheceu, porque vê o passado como um período melhor,
já que no momento atual não há emprego, perspectiva”,
avalia. Dessa forma, muitos dos votos alcançados pelo partido
de esquerda migraram do SPD, partido do atual chanceler Gerhard
Schöder. O pesquisador aponta uma divisão da população
alemã sobre o que fazer frente à paralisação
econômica. “Metade dos alemães concorda que
se deve reformar o sistema, a outra metade é contra”,
exemplifica. As reformas incluiriam redução dos
benefícios sociais, como o seguro desemprego, que hoje
é garantido aos alemães por um ano e meio, mas poderá
ter o período reduzido.
Lohbauer
considera as reformas necessárias porque, segundo ele,
a Alemanha deu um passo político maior do que sua capacidade
econômica. “A reunificação do país
foi um movimento espetacular do ponto de vista político,
só que a economia, o estado social alemão, que sustentava
o ocidente, não foi capaz de transferir aqueles benefícios
para os orientais e manter a estrutura econômica saudável
para o país todo”, explica.
Perspectivas
Segundo Lohbauer a reunificação alemã é
um dos fenômenos políticos mais bem sucedidos da
história do século XX. “A grande conquista
foi a união política negociada, sem conflito armado”,
aponta. Entretanto, o pesquisador diz que a ideologia que moveu
os dois povos a voltarem a ser um povo só ainda tem uma
adaptação longa a ser conquistada. “A euforia
fez com que muitos acreditassem que em cinco anos a estrutura
do país estaria de forma igualitária, e a concepção
dos alemães seria uma só, mas não é”,
acrescenta. O pesquisador diz que em 25 anos, talvez, esse venha
a ser um país unificado. “Desde que não haja
mais nenhuma aresta, nem diferença de percepção
política entre as populações, nem paralisação
produtiva do lado oriental”, explica.
Campanha
Na tentativa de se promover uma maior identificação
entre os alemães, e principalmente de se aumentar a confiança
individual e a motivação, o governo alemão
lançou no dia 26 de setembro a maior campanha de marketing
social da história da mídia alemã. Com o
mote “Você é a Alemanha”, a campanha
conta com o apoio de 25 veículos de comunicação
entre rádio, jornal e televisão e não tem
orientação política. Como a campanha brasileira
“Sou brasileiro e não desisto nunca”, a campanha
alemã contou com depoimentos de famosos e desconhecidos,
contando suas experiências em inovação e superação
de dificuldades. O custo da campanha chega a 30 milhões
de euros, mas, ao contrário da campanha brasileira, os
custos foram pagos através de apoio corporativo e de personalidades,
sem uso de dinheiro público.