Técnica
de produção de membranas pode ampliar o uso dessa fibra como biomaterial
Na tentativa de aproveitar os recursos naturais brasileiros, a
pesquisadora da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp
(FEQ), Grínia Nogueira, desenvolveu um processo que facilita
a produção de membranas da seda. Essa fibra já
é utilizada nas áreas têxtil, de cosméticos
e médica. Mas o estudo de Nogueira foca-se na possibilidade
de ampliar a utilização da fibra de seda como biomaterial.
A pesquisadora está patenteando o método de isolamento
de fibroína (proteína pura da seda) e a fabricação
de membrana porosa no Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(INPI). Segundo Marisa Beppu, orientadora do mestrado defendido
em agosto, os livros sobre esse assunto trazem processos muito
demorados, o que torna trabalhosa a separação da
fibra de seda, além da dificuldade de controlar a técnica.
Assim, esses processos se tornam inviáveis para a utilização
em escala industrial.
Com um jogo de solventes e agitação (processo de
separação de fases por adição de solventes),
Nogueira conseguiu reduzir o tempo de separação
das proteínas de quatro dias para meia hora em uma etapa
chamada de diálise. Em escala industrial, esse tempo cai
ainda mais, estima a pesquisadora.
Além disso, o processo que isola a proteína pura
não envolve elementos tóxicos, o que ajuda na biocompatibilidade.
A membrana de seda é muito resistente mecanicamente, elástica
e agüenta as temperaturas de esterilização
(autoclavagem).
A partir da fibroína foram feitas membranas porosa e densa.
Ambas podem ser utilizadas na área médica. A porosa,
por exemplo, tem grande interação com o meio e pode
ser empregada como matriz para a cultura de células e tecidos,
como material para proteção de feridas e há
a possibilidade de aplicação em cosméticos
por ser tratar de uma proteína pura. Ao contrário
da fibroína, que não é tóxica, a sericina
(outra proteína encontrada, uma espécie de cola
que envolve os fios da seda) pode causar alergia se inserida em
tecidos, daí a importância de separá-las.
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Membrana
porosa, a qual Nogueira depositou pedido de patente no INPI |
Membrana
densa, que pode ser utilizada como material para lentes de
contato |
O
interesse pela fibra de seda surgiu da possibilidade de incorporar
um produto abundante e barato ao mercado de biomateriais. Ainda,
de acordo com Beppu, o trabalho abre portas para a pesquisa com
seda, pois ela é pouco estudada para essa finalidade no
Brasil. A capacidade de aplicação em outras áreas
do mercado também é facilitada pela obtenção
dessa fibra nas formas de pó, gel e filme.
A próxima pesquisa de Nogueira será em parceria
com o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas
e com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade
de São Paulo. Ela vai estudar a potencial utilização
de membranas densas de fibroína da seda para a confecção
de válvulas cardíacas.
Biomaterial
Dos anos 60 até os 80, o emprego fio da seda para suturar
ferimentos era realizado sem a separação da sericina
e da fibroína. A descoberta de que ela poderia causar alergias
influenciou na aceitação desse produto como biomaterial.
No entanto, no artigo Biomateriais Baseados na Seda (Silk-based
biomaterials) disponível no Periódico Biomaterials,
de 2003, os autores da Universidade de Tufts (EUA) destacam que
a seda permanece popular nas cirurgias oculares, neurais e cardiovasculares.
Esse material apresenta biocompatibilidade, elasticidade e resistência,
características essenciais para a utilização
em suturas.
Fotos
das membranas: Grínia Nogueira