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Preguiças brasileiras estão negligenciadas

O Brasil possui cinco espécies de bicho-preguiça, que acabam sendo desconhecidas em função de seus hábitos discretos. Embora sejam animais simpáticos, os especialistas alertaram, durante o 51º Congresso Brasileiro de Genética, concluído no último dia 10, que os animais têm sido negligenciados. “Precisamos olhar com mais cuidado para a preguiça. Por que nos interessamos tanto pelo urso-panda, e outras espécies exóticas? Há de se fazer algo em prol da preguiça”, pediu João Morgante do Laboratório de Biologia Evolutiva e Conservação do Instituto de Biociências da USP.

Juntamente com outros três especialistas, Morgante apresentou dados sobre a conservação, filogenia (relações de parentesco) e filogeografia dos dois únicos gêneros existentes no Brasil: Choloepus, das preguiças-de-dois-dedos, e o Bradypus, das preguiças-de-três-dedos, com 4 espécies. Mas não foi sempre assim. Registros fósseis mostram que existiram cerca de 100 gêneros de preguiça no continente americano, antes da extinção ocorrida há cerca de 11 ou 12 mil anos (fim do Pleistoceno). Entre as razões que tentam explicar a extinção estão drásticas mudanças ambientais e a chegada do homem na América do Sul.

As informações sobre os ancestrais e as origens genéticas das preguiças podem ajudar na sua conservação. Horácio Schneider, da Universidade Federal do Pará em Bragança, tem estudado as relações de parentesco entre as espécies de preguiça, assim como com seus parentes mais próximos — os tamanduás. Apesar de sua pesquisa representar um importante avanço no conhecimento da genealogia desses animais, os dados disponíveis deixam dúvida quanto a eventos evolutivos mais antigos. Para solucionar essas dúvidas, Schneider afirma que será necessário utilizar seqüências de outros genes assim como uma análise comparativa de espécies fósseis.

Outro agravante na pesquisa é a dificuldade em observá-las. Paula Ruiz, da Universidade Federal de Minas Gerais, diz que é possível caminhar por dias sem encontrar nenhuma preguiça. Ao contrário de outras espécies, as preguiças não costumam ser capturadas em armadilhas. “É impossível fazer conservação sem conhecimento da ecologia do animal em questão”, declarou Ruiz.

A espécie mais amplamente distribuída pelo território nacional é a preguiça-comum ou preguiça-de-óculos (Bradypus variegatus). Apesar de ocorrer em florestas de quase todo o Brasil, a bióloga Nádia de Moraes-Barros, do grupo de pesquisa de Morgante, diz que pouco se sabe a respeito de sua história demográfica, densidade populacional e padrões de migração. Os estudos da bióloga indicam que as linhagens da Amazônia e da Mata Atlântica da preguiça-comum representam unidades evolutivas distintas, além de haver uma diferença marcada entre o norte e o sul da Mata Atlântica. Para ela é preciso estabelecer, pelo menos, três unidades de conservação para essa espécie.

Atualmente, a única espécie brasileira reconhecida como ameaçada é a preguiça-de-coleira, B. torquatus. As preguiças são animais de vida longa, baixa taxa reprodutiva, com populações isoladas e com baixa variabilidade genética. Por serem sedentárias e alimentarem-se unicamente de folhas, são extremamente sensíveis ao desmatamento, o que resulta em um alto risco de extinção. Ironicamente, o tempo corre rapidamente contra a conservação destes animais, por isso os especialistas pedem estratégias reais de conservação.

Leia mais:
- Encruzilhada genética, artigo de Marcos Pivetta no número 108 (fevereiro de 2005) da revista Pesquisa Fapesp sobre o trabalho feito pelos grupos de pesquisa brasileiros a respeito do bicho-preguiça.

- What does it mean to be a sloth? (O que significa ser uma preguiça?), artigo de Craig Holdrege (em inglês).

Atualizado em 14/09/05
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