Desenvolvimento
em EAD depende de articulação dentro das universidades
No
final de agosto, o Ministério da Educação
(MEC) entregou à Casa Civil uma nova regulamentação
para a educação a distância (EAD) no país.
A intenção da nova regulamentação
é, segundo Ronaldo Mota, secretário de Educação
a Distância do MEC, garantir parâmetros mais claros
para os cursos a distância, como a equivalência em
relação aos cursos presenciais para todos os níveis
de ensino e o controle de qualidade, já previstos desde
a reforma educacional de 1996, porém de forma menos explícita.
O futuro e a qualidade dessa área de ensino, entretanto,
podem depender muito mais do desenvolvimento de políticas
para a educação a distância dentro das universidades
do que das novas leis em si.
A nova regulamentação vem no momento em que o governo
federal quer dar um impulso maior à educação
a distância para tentar alcançar a meta do Plano
Nacional de Educação de colocar 30% da população
de jovens entre 18 e 24 anos na universidade. Para isso, seria
preciso aumentar em 200% a oferta de vagas no ensino superior.
Como alternativa, o MEC pretende investir 270 milhões de
reais no Pró-licenciatura, projeto que oferece cursos de
licenciatura não presenciais para professores da rede pública
em exercício mas sem habilitação.
Segundo a assessoria do MEC, os recursos a serem investidos nos
próximos quatro anos irão não só para
bolsas destinadas aos professores que farão os cursos,
tutores, professores formadores e professores pesquisadores; mas
também para a formulação e execução
dos cursos, o que implica a montagem de laboratórios previstos
nas propostas de cada uma das instituições de ensino
superior.
Qualidade
De acordo com Sérgio Franco, diretor do Departamento de
Políticas em EAD, a qualidade dos cursos de graduação
a distância depende consideravelmente da articulação
das universidades. Isso porque cabe a elas definir a oferta dos
cursos a distância, o número de vagas, a metodologia
usada e os custos. Segundo ele, o incentivo do MEC para que as
universidades públicas se engajem nas políticas
de EAD visa evitar que o desenvolvimento da modalidade fique restrito
ao ensino comercial ou corporativo. “Grandes empresas cobram
muito pela EAD, enquanto dentro da universidade há iniciativas
como a do NIED [Núcleo de Informática Aplicada à
Educação, da Unicamp]”, afirmou Franco.
Um dos projetos do NIED, o Teleduc, é um ambiente virtual
que permite a administração de cursos pela internet.
No total, 267 cursos de várias áreas e grupos de
troca de informações usam o NIED como servidor.
Segundo Heloísa Vieira Rocha, coordenadora do Teleduc e
pesquisadora da área há 20 anos, sem conscientização
por parte dos educadores, o ensino a distância pode se tornar
um retrocesso em relação aos novos paradigmas na
educação. “A educação deve manter
o aspecto humano. Não se pode dispensar a atenção
mais individualizada que o computador possibilita. Deve-se aproveitar
as ferramentas de interatividade que ele oferece”, avalia.
De acordo com a Associação Brasileira de Ensino
a Distância, o número de alunos de cursos a distância
aumentou 107% entre os anos de 2003 e 2004. São 215 cursos
de EAD reconhecidos pelo MEC, ministrados por 116 instituições
espalhadas pelo país. Esse crescimento foi proporcionado
em grande parte pela expansão do uso da Internet no Brasil.
Para a coordenadora do Teleduc, há uma grande indústria
da EAD no Brasil. “A educação a distância
é apresentada como a grande solução [para
o acesso ao ensino no país], porque é possível
treinar pessoas sem que elas saiam do trabalho”, diz Heloísa
Rocha. Por outro lado, a pesquisadora lembra que a EAD não
pode substituir o ensino presencial. “As duas são
formas de ensino complementares. Não se pode pensar que
se vai educar o Brasil a distância”, explica.
Na teoria, a EAD pode ser vista como um dos meios de se democratizar
o ensino no país, uma vez que dá à população
distante dos grandes centros tradicionais de ensino e pesquisa
a possibilidade real de acesso à formação
sem sair de suas cidades. “A EAD não é mais
barata do que a educação presencial. Ela gera condições
melhores para quem mora em lugares afastados”, explica Sérgio
Franco. As novas medidas anunciadas pelo MEC, entretanto, não
são vistas como suficientes para controlar a qualidade
do EAD pelo mundo acadêmico. Um dos contrapontos apontados
é a possível perda de importantes características
no aspecto educacional. “Educação não
é só passar informação. Tem que se
possibilitar discussão, encontros”, resume Heloísa
Rocha.