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MASP lança primeiro curso de História da Arte para deficientes visuais

Como ensinar um deficiente visual a perceber uma obra de arte? Como fazê-lo compreender espaços, linhas, contornos e até cores de uma pintura com os outros sentidos? O Curso Experimental de História da Arte para portadores de deficiência visual, realizado no Museu de Arte de São Paulo (MASP), mostra que é possível vencer esse desafio. O programa pesquisa estratégias inclusivas de alfabetização visual por meio do ensino da arte. “A arte pode contribuir para formar cidadãos mais críticos e participativos, além de ampliar o repertório de conhecimentos, exigidos muitas vezes em vestibulares e concursos públicos“, diz Valquíria Prates, professora do curso.

Durante três horas, cerca de 15 alunos com perda total ou baixa visão reúnem-se para assistir às aulas gratuitas da professora. O curso dura 3 meses e acontece aos sábados de manhã. Trata-se de um projeto pioneiro na América Latina, financiado pela Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo em parceria com o Serviço Educativo do MASP. Durante as aulas, os estudantes recebem noções gerais sobre a organização dos elementos visuais da pintura nas aulas teóricas e práticas, realizadas a partir do acervo do MASP, enriquecendo-se das vivências culturais anteriores de cada participante. “Estou me desafiando, porque não acreditava que dava para um cego compreender a pintura”, diz Maria Zuleide dos Santos, de 63 anos, depois de descrever a maquete do MASP. “É um prédio com um vão entre o piso e o teto, pilastras nos lados e paredes de vidro na parte de cima. Do lado de fora há um espelho d’água”, diz.

Por meio de mapas visuais em relevo e uma comparação com os objetos do cotidiano, os alunos podem ler as pinturas, entendendo a representação do mundo realizada pelo artista. Os portadores de deficiência exploram as formas e perspectivas da pintura comparando com figuras do dia a dia. Linhas e contornos podem ser compreendidos trabalhando texturas. Os círculos representados num quadro podem ser entendidos quando passam os dedos sobre a boca de um copo ou uma taça, por exemplo. Estudam retratos, natureza morta e paisagens, fazendo simulação e paralelos com objetos do dia a dia. “Com essa iniciativa o museu prepara-se para organizar seu trabalho de atendimento ao público numa perspectiva inclusiva, equiparando-se às desenvolvidas já por outras instituições internacionais”, diz Paulo Portella Filho, coordenador do Serviço Educativo do MASP.

O envolvimento de Prates com o tema começou quando ela estava na faculdade e teve uma bolsa de iniciação científica para desenvolver materiais de apoio para exposições no Museu de Arte Contemporânea da USP, no Projeto Museu e público Especial, criado e coordenado pela artista plástica e professora Amanda Tojal. Hoje, as atividades envolvem o tema de sua pesquisa de mestrado, que é intitulada Políticas públicas para a inclusão escolar de pessoas com deficiência na América Latina, na Faculdade de Educação da USP. “Comecei a trabalhar com o conceito de inclusão, a partir do qual pessoas com ou sem deficiência podem, juntas, aprender sobre um mesmo conteúdo, desde que sejam previstos formatos diferenciados”.

O curso de História da Arte vem enriquecer o universo cultural do deficiente visual que hoje conta apenas com a visita monitorada oferecida por alguns museus e instituições culturais em dias específicos da semana ou em grupos, com material didático ainda precário em muitos casos. Hoje ainda existem poucos educadores preparados para descrever as obras e contextualizá-las para esse público específico.

Mais informações podem ser obtidas no Masp, pelo telefone (11) 6695.8708 ou pelo e-mail abcvisual@gmail.com

Leia mais na ComCiência:
- Modelos em gesso otimizam o estudo de biologia para deficientes visuais

Atualizado em 15/09/05
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